Professor veio da Universidade da Alemanha
O Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social, por meio do Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (NEAI) iniciou a Rodada de Seminários do grupo, com a palestra "Sateré na metrópole: ramificações e contextualizações de uma pesquisa de campo na periferia", que foi proferida pelo professor Wolfgang Kapfhammer da Universidade de Marburg. O evento foi realizado na última quarta-feira e terá outras edições no mesmo dia, a cada final de mês, sempre recebendo pesquisadores e professores com trabalhos voltados à etnologia ameríndia.
Segundo a coordenadora do evento, a pós-graduanda Juliana de Almeida, a ideia dos encontros é que possam ser socializados os resultados de pesquisas que atendam às especificidades do Neai.
"É interessante podermos discutir abordagens metodológicas e conceituais com as quais os nossos convidados vêm trabalhando. Este seminário, para o qual trouxemos Wolfgang, foi o primeiro seminário de 2015 e o próximo já está agendado para o dia 29 de abril, com tema ainda a ser definido, mas dentro desse escopo do projeto", disse.
A apresentação dos resultados de pesquisa do estudioso da Universidade de Marburg durou aproximadamente 40 minutos e se concentrou num "exercício à comparação à produção mental, à produção cultural dos nativos", como afirmou o pesquisador.
"É uma deficiência da Antropologia perceber essa cosmologia do outro na pesquisa. Cada grupo social tem uma visão do mundo e essa leitura, esse mergulho na tradição do outro, é sempre uma trajetória pessoal. Quando cheguei aqui, na intenção de mergulhar nas experiência em campo, decepcionei-me ao ver que romantizei o meu objeto, acreditando que eles manteriam suas tradições estando longe geográfica e temporalmente de seu habitat. Pessoalmente falando, acredito que é preciso ter mais alteridade e uma visão sem preconceitos do que nós temos em comum", frisou.
A relação com os Sateré-Mawé começou ainda no ano de 1998, numa aproximação que o pesquisador julgava "pouco improvável". "Quando comecei a buscar informações de etnias na Amazônia, debrucei-me num mapa e comecei a me situar sobre onde eles estavam localizados. Vi que se encontravam no Alto Rio Negro, Xingu, por exemplo, e que muitos antropólogos já haviam produzido relativamente bastante sobre. Por fim, a respeito da produção etnológica esse número, fora do Brasil, ainda era pouco e foi aí que minha busca começou a ser norteada. Demonstrei interesse e eles foram receptivos", contou.
Resultados da pesquisa foram apresentados à plateia, com representação Sateré
Durante a explanação, Wolfgang apresentou registros fotográficos de inúmeras peças fabricadas por indígenas, cujas funcionalidades eram diversas, desde caça e pesca, domésticos e ritualísticas. A maior parte encontra-se na Europa. Acervos com milhares de itens, desde os mais antigos até os atuais.
"Em espaços distintos há amostras de peças do século XIX e outras, usadas nos dias atuais. Arte plumária, ferramentas, utensílios domésticos. Nos anos de 2012 e 2013, durante o inverno, nós convidamos dois indígenas com os quais mantive maior relação, para conhecer o acervo. Eles ficaram impressionados, ao mesmo tempo, tristeza por verem que parte de suas tradições se foi com o tempo", confidenciou o pesquisador.
Essa decepção quanto à perda das tradições, diante do tempo foi confirmada pela representante indígena Sônia da Silva Vilaça, que acompanhou a apresentação dos resultados do artigo.
"Minha avó já faleceu, mas ela chegou a me contar que o verdadeiro Puratin (um bastão supostamente "mágico", que serviria para prever fartura, enchente, tempo de plantio e colheita) só existiria, hoje, em um museu, sediado em Londres. Na época dele, ainda como acontece hoje, os índios trocavam suas coisas pelo que lhes era dado. Também havia muitos padres, pastores, que acessavam as aldeias com vários propósitos, então, acredito que tudo isso contribuiu para que nossos pertences, exemplares de peças nossas, que já nem sabemos reproduzir, fossem surgindo pelo mundo e sendo expostas em museus", comentou.
Ela disse, ainda, que essa proximidade com pesquisadores não é integralmente ruim. Afirma que há muitos "parentes" que estão na aldeia, mas desconhecem sua própria cultura, suas tradições.
"Por um lado, a contribuição dos pesquisadores sérios ajuda a preservar esse passado, a apresentar para nós mesmos, um pouco da nossa história, servindo assim, de porta-vozes para nossos pleitos", considerou.
Em Manaus e na região metropolitana, os Sateré estão em diversas áreas, desde Iranduba, Vila do Ariaú e bairros Tarumã e Redenção. O número dessa população não é estimado.