Mesa-redonda discute relações comerciais entre China e América Latina

 Pesquisadores defendem aproximação da América Latina com a China. Pesquisadores defendem aproximação da América Latina com a China.

 
Por Sandra Siqueira
Equipe Ascom

Composta por pesquisadores chineses e brasileiros e por membro do Ministério de Relações Exteriores do Brasil, a mesa-redonda 'Política, Relações Internacionais e Cultura', discutiu as relações estabelecidas entre China e América Latina com vistas a superar os obstáculos e permitir maior interação entre elas. O evento realizado na manhã desta sexta-feira, 21, no Studio 5 Centro de Convenções, integra o VII Fórum Acadêmico de Alto Nível China-América Latina.

A análise das relações entre o país asiático e a América Latina foi exposta primeiramente pelo professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e também do Instituto Confúcio, Marcos Cordeiro Pires. De acordo com ele, a China vem manifestando interesse em se aproximar da América Latina, mas encontra obstáculos, entre os quais a influência americana na ideologia, no poder militar e entre as classes de elite. “A América Latina é o quintal dos Estados Unidos”, declarou. Marcos Cordeiro acredita que um dos benefícios da maior interação com a China será o acesso à tecnologia de última geração, característica da Quarta Revolução Industrial, mas que para isso o país precisa desenvolver uma política relativa ao tema, o que até o momento não existe.

Já o professor de Relações Internacionais e diretor-geral do Instituto de Estudos Latino-americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais (IAL/CASS), Wu Baiyi, discorreu sobre o recente acirramento da concorrência econômica entre China e Estados Unidos. O palestrante afirma que a relação comercial entre ambos foi firmada com base em marcos legais e normas e que, agora, os americanos estão agindo de forma unilateral. O professor defende o posicionamento mais consensual entre os países membros da Organização Mundial do Comércio (OMC), com decisões que levem em conta inclusive a visão dos países emergentes. “O Brasil tem peso relevante, ele e os países da América Latina. Eles serão descartados da mesa de debate?”, questionou.

Para o professor de Ciência Política da Unesp, Tullo Vigevani, as medidas adotadas por alguns governos no continente americano suscitam preocupações quanto às consequências do ponto de vista das relações de comércio. Vigevani apresentou as razões para a instabilidade brasileira entre elas a ausência de capacidade das elites, das sociedades e do Estado em definir política estratégica de projetos nacionais e regionais. “A capacidade de encontrar um interlocutor da América Latina para a China me parece um sonho de uma noite de verão”, disse.

Yang Jianmin é diretor do Departamento de Política do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Academia Chinesa de Ciências Sociais (ILAS/CASS) e destacou algumas dificuldades do estreitamento das relações entre a América Latina e a China. O não entendimento das políticas dos países, com legislações municipais, estaduais e federais, em alguns casos, é o principal obstáculo, segundo Jianmin.

Membro do MRE defende abordagem bilateral Brasil-China.Membro do MRE defende abordagem bilateral Brasil-China.Representando o Ministério de Relações Exteriores, Marco Tulio Cabral discordou de alguns posicionamentos dos seus colegas de mesa. Segundo o membro do Itamarati, o Brasil tem autonomia política e diplomática e não é fundo de quintal de qualquer outro país. Cabral também criticou a escolha do tema do evento. Segundo ele, a América Latina não estabelece relações com qualquer Estado porque não existe como bloco econômico definido à semelhança da União Europeia.

Sobre o maior parceiro econômico do Brasil, a China, o coordenador-geral do Instituto de Pesquisa de Relações Internacionais (IPRI) do MRE ressaltou que ambos acreditam no universalismo e no multilateralismo, o que facilita a relação comercial entre eles. Sobre a situação política do Brasil, Marco Tulio afirmou que as mudanças de governo não afetam drasticamente a postura do país em suas relações internacionais porque existe burocracia consolidada a respeito que protege as ações do Ministério. Para exemplificar, ele mencionou o impeachment da presidente Dilma Russef e a posse do presidente Michel Temer, o que,segundo ele, não resultou em mudanças significativas na política internacional brasileira. “Nós sempre buscamos parcerias no mundo inteiro, não é de hoje. Nós nunca tivemos uma dependência excessiva dos Estados Unidos. Hoje em dia, o nosso maior parceiro é a China, mas nós continuamos tendo um leque muito amplo. Nosso comércio com a América Latina é quase tão grande quanto com a China, com a União Europeia e com os Estados Unidos também”, comentou.

 

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