Primeira mulher presidente da Sociedade Brasileira de Computação debate participação feminina nas Ciências Exatas

Docente da Unicamp, Cláudia Bauzer afirma que a diversidade agrega valor econômico às corporações

Por Carlos William
Equipe Ascom

Professora Cláudia Bauzer MedeirosProfessora Cláudia Bauzer Medeiros

Focado em incentivar as participações de todos os gêneros nos âmbitos acadêmico e profissional das Ciências Exatas, cujo mercado de trabalho é predominantemente masculino, o projeto de extensão ‘Cunhantã Digital’ realizou na tarde desta quarta-feira, 12, uma roda de conversas entre os estudantes do Instituto de Computação (Icomp) e a única mulher a ter presidido a Sociedade Brasileira de Computação, a pesquisadora e docente da Universidade de Campinas (Unicamp), professora Cláudia Bauzer Medeiros. A interação ocorreu no auditório 1 do Icomp, localizado no setor Norte do Campus Universitário.

Congratulada de forma unânime pelos membros da comunidade acadêmica presentes, por possuir uma abrangente carreira como pesquisadora, apresentada como modelo aos que desejam ingressar na área, a professora Bauzer iniciou seu discurso de maneira bastante descontraída, se colocando não apenas como referência nos campos de estudos computacionais, mas como ser humano dotado de subjetividades e de uma história que requis superação a partir da adolescência.

“Aos 14 anos, eu era uma menina extremamente tímida, obstáculo que aprendi a superar após concluir um curso profissionalizante de Turismo, o que foi fundamental para aprender a me comunicar e, futuramente, descobrir minha vocação”, incentivou os graduandos. Ao ressaltar que a habilidade comunicativa é imprescindível em qualquer profissão e nas relações interpessoais, a pesquisadora informou, com orgulho, ter sido convidada a compor o quadro docente da Unicamp em 1985, cargo que continua a exercer. O período em que presidiu a Sociedade Brasileira de Computação foi de 2003 a 2007.

A diretora do Icomp, professora Tanara Lauschner, declarou estar honrada com uma presença “tão relevante”, conforme classificou, para discutir a representatividade feminina nas Ciências Exatas, temática que precisou ser discutida desde sempre, dadas as imposições culturais que favoreceram o patriarcado historicamente, porém é debatida com maior frequência na atualidade. “Nossa intenção é defender a participação igualitária, tanto de homens quanto de mulheres nesta área tão interessante. Não se trata de desejar superioridade de um [gênero] em relação ao outro”, frisou a gestora.

Dados abertos

Além de relatar experiências pessoais que evidenciam a presença do machismo em diversas instâncias e em variadas gerações, a professora Cláudia Bauzer dialogou sobre os posicionamentos dos alunos, revelando que a maioria se mostra a favor da igualdade de direitos, e palestrou acerca de sua principal vertente de atuação: o armazenamento e processamento de dados de pesquisas, que, segundo pontuou, precisam ser disponíveis ao acesso de todos, sem distinções. Estes dados são informações coletadas ao longo de todos os processos, que podem ser arquivos em áudio, vídeos em formatos obsoletos ou modernos e até blocos de anotações, ou seja, materiais brutos que indicam ao leitor de um artigo, por exemplo, os caminhos percorridos por cientistas para chegar a determinadas conclusões. Ocorre, entretanto, que muitos de seus detentores, como representantes estatais, se recusam a disponibilizá-los ou afirmam que se perderam em caixas antigas e plataformas inacessíveis.

Visando à solução deste problema, Bauzer coordena um projeto do qual sete universidades participam, financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), em parceria com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). O grupo defende a interligação de instituições de ensino em uma rede de repositórios de dados de pesquisas, para que se tornem abertos. “O avanço da Ciência depende de colaboração, que consiste em pegar resultados dos outros para prosseguir a partir de lá ou para reutilizá-los. Os financiadores do governo pagam muitos grupos distintos para buscar os mesmos dados, que já existiam. Se todos soubessem onde estão e como consegui-los, haveria uma considerável diminuição de custos e a Economia do País seria favorecida”, justificou.

Ada Lovelace, criadora do primeiro algoritmo para uma máquinaAda Lovelace, criadora do primeiro algoritmo para uma máquina

Mulheres na Computação

As memórias de mulheres que construíram o pioneirismo em relação ao desenvolvimento dos primeiros computadores e dos demais avanços tecnológicos que a novidade implicava estiveram homenageadas, com suas fotografias estampadas em banners dispostos no auditório. Ada Lovelace, filha do poeta inglês Lorde Byron, elaborou o primeiro algoritmo da História, enquanto Mary Keneth foi responsável por parte da criação da linguagem de programação Basic. Contudo, a partir do início da década de 1990, o protagonismo feminino passou a decair rapidamente no universo dos computadores, sendo minoria atualmente.

De acordo com o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais do Ministério da Educação (Inep/Mec), o percentual de mulheres matriculadas em cursos de Tecnologia ou Computação do Brasil corresponde a apenas 15,53%.

Para a professora Cláudia Bauzer, é crucial compreender que a discussão relacionada à presença de mulheres na Computação nada tem a ver com a ideia de ‘caridade social’. Trata-se, antes de tudo, de uma estratégia evolutiva para as próprias organizações, pois muitas de suas avaliações qualitativas identificaram o excesso de perspectivas unilaterais e, consequentemente, a limitação no alcance de públicos diversificados, o que se deve ao fato de que parte majoritária dos colaboradores é composta por homens. “Do ponto de vista empresarial, é valor econômico agregado”, resumiu a cientista.

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