Congresso Nacional de Música aborda Musicoterapia, que se apropria da música para fins clínico-terapêuticos

Orquestra Barroca do AmazonasOrquestra Barroca do Amazonas

 
Por Carlos William
Equipe Ascom Ufam

A 28ª edição do Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-graduação em Música (Anppom) está sendo sediada pela Universidade Federal do Amazonas (Ufam), até o dia 31 de agosto. Na segunda-feira, 27, a abertura do evento contou com apresentações musicais da Orquestra Barroca do Amazonas, com obras instrumentais e vocais, na modalidade ópera clássica.

Em seguida, o pesquisador da Universidade de Ciências Aplicadas da Áustria, Gerhard Tucek, ministrou a palestra intitulada ‘Horizontes da Musicoterapia Personalizada – Um Modelo de Melhores Práticas para Pesquisas Próximas à Prática Clínica'.

Presente à solenidade inicial, realizada no auditório Rio Amazonas da Faculdade de Estudos Sociais (Fes), o reitor, professor Sylvio Puga, foi enfático em relação aos esforços da Faculdade de Artes em promover eventos que fortaleçam as pesquisas na área musical. “Esta é uma unidade acadêmica que foi inaugurada recentemente, visto que antes do desmembramento do antigo Instituo de Ciências Humanas e Letras (Ichl), havia apenas os departamentos de Artes Visuais e de Música e, apesar do pouco tempo, os progressos e as atividades propostas já foram muitas. Só podemos avançar através de regime de partilha, de parceria, sem o qual não teríamos conseguido organizar tamanho evento”, acrescentou o gestor.

Além do reitor, compuseram a mesa de abertura a diretora da Faculdade de Artes (Faartes), professora Rosemara Barros; a presidente da Anppom, Sônia Regina Lima; e o pesquisador da Universidade de Ciências Aplicadas da Áustria, Gerhard Tucek.

Musicoterapia

Estudantes, docentes e músicos prestigiaram o eventoEstudantes, docentes e músicos prestigiaram o evento

Conforme afirma Gerhard Tucek, a Musicoterapia, ou seja, a apropriação de músicas e elementos musicais para finalidades clínicas ou terapêuticas, auxilia no suprimento de necessidades físicas, emocionais, cognitivas e até sociais, ou quaisquer outras demandas apresentadas pelo paciente. Esta prática é regulamentada por lei na Áustria, desde 2008, segundo a qual o exercício da profissão somente deve existir mediante formação acadêmica, treinamento clínico e documentação comprobatória regularizada. 

Tucek salientou que esta modalidade de assistência à saúde é centralizada em um relacionamento quase afetivo, no sentido do estabelecimento de compreensão mútua, entre profissional e paciente, tornando-se indispensável a construção de diálogos que minimizem a distanciamento causado pela falta de contato com as subjetividades e que se estruturam através de significações musicais. “Não se trata apenas de tocar uma música para alguém, ou permitir que esta pessoa aperte botões em uma máquina musical. O sucesso do tratamento é diretamente correlacionado a uma integração entre a parte cognitiva e aspectos ‘espirituais’ do ser humano”, frisou o pesquisador, ao pontuar que esse relacionamento é construído de forma gradativa e, portanto, requer tempo.

 

Comunicação musical

O reitor, professor Sylvio Puga enfatiza a importância do trabalho em equipeO reitor, professor Sylvio Puga enfatiza a importância do trabalho em equipe

De acordo com dados investigados pela Neurociência Social, a comunicação não é apenas um processo de troca de informações, como também um mecanismo essencial de sobrevivência, visto que o cérebro é calibrado ao captar relações comunicativas de 'sucesso', ou que satisfaçam os objetivos dos interlocutores. Deste modo, recusar relações interpessoais afeta negativamente as estruturas psíquica e biológica dos indivíduos. Na Musicoterapia, há comunicação direta e indireta, por meios simbólicos diversificados, e parte majoritária dos resultados, ainda que a longo prazo, demonstra grande eficácia. Segundo Gehard Tucek, os pacientes são altamente dependentes das habilidades de comunicação dos terapeutas, cujas técnicas representam 15% de relevância no progresso final. Os outros 40% são fatores extra-terapêuticos, determinados pelo relacionamento entre os envolvidos.

“Um dia, disseram-me que ao tomar o destino de outros para o meu coração, poderia ficar estressado e depressivo. Não é bem assim, os pacientes se aproximam bastante do meu coração. Não sou pago apenas para tratá-los como seres humanos, mas para transformar suas histórias através da criação e do contato com a arte musical”, romantizou o musicoterapeuta.

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