Fórum permanente discute Patrimônio Genético de Plantas Medicinais

Fórum Permanente para o Desenvolvimento do AmazonasFórum Permanente para o Desenvolvimento do AmazonasPor Carlos William
Equipe Ascom Ufam

Com o tema ‘Patrimônio Genético e Cultural de Plantas Medicinais na Amazônia Brasileira: Caminhos e Descaminhos’, a edição da tarde desta quinta-feira, 5, do Fórum Permanente para o Desenvolvimento do Amazonas reuniu docentes e pesquisadores de diversas áreas do conhecimento para debater acerca do valor agregado às descobertas medicinais indígenas e riquezas naturais amazônicas.

Promovido pela Pró-reitoria de Extensão da Universidade Federal do Amazonas (Proext/Ufam), o evento foi realizado na sala de reuniões do terceiro piso do prédio da Administração Superior, setor Norte do Campus e teve como palestrante o professor Frederico Arruda, docente titular de Farmacologia do curso de Farmácia, sendo atuante ainda nas áreas de Farmacodinâmica, Bioquímica e Etnobiologia.

A proposta teórica do pesquisador indica que o mais grave e, segundo ele, crônico desafio enfrentado pelo País e pela Amazônia é o de ter condições para optar por um modelo de desenvolvimento sustentável, ambiental e ecologicamente correto, além de socialmente justo. “Este é um desafio antigo, muito maior do que a competência política dos legisladores e gestores, em todos os níveis, teria atualmente condições de enfrentar”, criticou o professor, referindo-se ao uso indevido de finanças públicas e às falhas administrativas provocadas por dirigentes do Estado.

Frederico Arruda afirmou ainda que nem a biodiversidade dos biomas brasileiros, com seu imenso patrimônioProfessor Frederico ArrudaProfessor Frederico Arrudagenético, nem os povos indígenas e populações tradicionais, com seu riquíssimo patrimônio cultural, representam tesouros intocáveis e estáticos.

“Pelo contrário” – contestou - “estão crescentemente ameaçados e impactados por agentes vinculados a grandes interesses, politicamente articulados e amorais, daí resultando uma progressiva e muitas vezes solerte erosão, ao mesmo tempo genética e cultural”, avaliou o docente, ao levantar a hipótese de que seria, provavelmente, adequado pensar que farmacêuticos e outros profissionais das ciências de Saúde correm o sério risco de alimentar expectativas ingênuas quanto à real possibilidade de aproveitamento desses patrimônios, transformados em recursos para inovações biotecnológicas relevantes.

Potencial genético de plantas e animais

Constatadas as problemáticas vivenciadas por pesquisadores da Amazônia, que lutam contra entraves materiais e burocráticos, a gênese da solução é o incentivo a novas pesquisas relacionadas às capacidades curativas e terapêuticas de espécies de plantas e anfíbios explorados por comunidades indígenas, porém ignorados por parcela significativa de profissionais da Saúde e membros da indústria farmacêutica, pois a comprovação dos efeitos medicinais não ultrapassou, até os dias atuais, as longas etapas do processo de seleção exigidas para que um produto seja comercializado e receitado por médicos.

“Não há como receitar um chá de origem xamânica, por exemplo, em um consultório médico, ainda que se saiba a respeito de sua eficácia, pois em caso de possíveis complicações, o profissional será responsabilizado. O que pode ser feito é avaliar se pacientes que ingerem determinados tipos de chá obtiveram melhora significativa quando os medicamentos foram acrescentados”, explicou o professor Arruda.

Para exemplificar a segregação sofrida por conhecimentos construídos por povos indígenas, Arruda citou a utilização de plantas enteógenas para expansões de consciência, uma prática adotada em larga escala por índios em rituais ensinados tradicionalmente de forma hereditária e que poderiam combater a depressão. “Cada planta pode conter mais de 10 mil metabólicos secundários que, geralmente, mostram apreciável atividade farmacológica”, destacou.

Outro exemplo é a aplicação da secreção contida nas costas de uma rã da espécie Phyllomedusa bicolor. Índios das etnias Mati, Marubo, Mayoruna e outras costumam queimar a própria pele e, em seguida, aplicar o líquido, para que a absorção seja mais rápida e eficaz. O fortalecimento do sistema imunológico é a principal justificativa, embora alguns pesquisadores duvidem da veracidade dessa crença. “É fundamental averiguar a origem da construção dos saberes indígenas, porque são de uma riqueza grandiosa, e devemos nos perguntar se é possível compatibilizar e equiparar conhecimentos ditos tradicionais e científicos”, complementou Frederico Arruda.

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