Mulheres pescadoras: significados, relações e memórias apresentados em tese do PPGCASA

Logo na entrada do CCA, foi possível conhecer o tema da teseLogo na entrada do CCA, foi possível conhecer o tema da tesePor Cristiane Souza
Equipe Ascom/Ufam

Intitulada ‘Mulheres Pescadoras: os significados do trabalho de pesca do camarão na Comunidade da Salvação - Alenquer/PA’, a tese elaborada por Christiane Pereira Rodrigues, sob a orientação da professora Elenise Scherer, tratou sobre as relações, as memórias e os sentidos de mulheres paraenses que trabalham com a pesca de camarão. A defesa ocorreu nesta quinta-feira, 28, no auditório do Centro de Ciências do Ambiente (CCA), localizado no setor Sul do Campus Sede da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Ao iniciar sua fala, a doutoranda desde logo agradeceu a todos os que se empenharam junto com ela na realização da pesquisa, desde a orientadora do trabalho e a equipe do Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente e Sustentabilidade na Amazônia (PPGCASA) até as famílias que a receberam em suas casas, em seu cotidiano de trabalho, para mostrar como realizam a pesca do crustáceo no Assentamento da Comunidade da Salvação, na cidade paraense de Alenquer.

“A primeira reunião com as mulheres daquela Comunidade, realizada no dia 27 de dezembro de 2015, foi quando apresentamos o projeto, os objetivos e as estratégias de atuação. Ficamos com receio de elas não nos aceitarem, mas houve uma aceitação e pudemos desenvolver o trabalho”, recordou a doutoranda. Nos anos seguintes, foram realizadas coletas de dados, entrevistas semiestruturadas, e registros de imagens, tanto em vídeo como fotos, além de anotações de caderno de campo. “Realizamos as conversas nos lugares onde as mulheres se sentiam mais à vontade para se expressar”, ressaltou Christiane.

Dona Maria Souza da Silva e a filha, Joyse de Souza Pinto, vieram da Comunidade da Salvação para assistir à defesa da tese. “Aqui é o fim de uma jornada. Pra mim, é um prazer estar aqui vendo esse resultado, porque acabamos criando uma amizade com a professora”, reconheceu a pescadora, ao garantir que, quando retornar ao solo paraense irá contar da satisfação de ter prestigiado o momento: “Elas também participaram disso; e nós somos felizes com o trabalho que fazemos”.

Pescadora no Pará, dona Maria da Silva assistiu à defesaPescadora no Pará, dona Maria da Silva assistiu à defesaA banca avaliadora foi presidida pela orientadora, professora Elenise Scherer, tendo como membro externo a professora Luciana Gonçalves de Carvalho, da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), e como demais membros os professores Neliton Marques da Silva, Maria Olívia de Albuquerque Ribeiro Simão, Izaura Rodrigues Nascimento e Maria Angélica de Almeida Corrêa. A avaliadora externa, em suas considerações, elogiou a interdisciplinaridade que é característica do PPPGCASA, falando da surpresa ao encontrar a instalação na entrada do CCA.

“Eu me surpreendi por encontrar, logo na entrada, tantos elementos que remetem ao tema da pesquisa, mostrados de uma forma tão poética. Você conseguiu humanizar a investigação, e ainda trazer os elementos formais que são necessários durante uma defesa científica”, ponderou a professora Luciana Carvalho. “Eu consigo ver a relevância do seu trabalho no contexto regional, e parabenizo pelo esforço de trazer pessoas da comunidade para ver este resultado”, completou.

Trabalho e gênero

Segundo apontou a pesquisadora, a força de trabalho das mulheres tem sido historicamente invisibilizada, isto é, seu trabalho é tratado como ajuda ou mera obrigação de gênero. Primeiro, foi caracterizado como “leve”, em oposição ao “trabalho pesado” dos homens; depois, ganhou a característica de “mero apoio” aos maridos, cuja atividade era encarada como principal.

No contexto da divisão sexual do trabalho, as Medidas Provisórias nº 664 e 665, ambas editadas em 2014, criaram a categoria do pescador exclusivo. “Desde 2009, quem participa do processo como um todo, também é considerado pescador. Já em 2015, houve um retrocesso, porque o trabalho passou a ser considerado mero apoio. Essa legislação ignora a diversidade dos ciclos da água e pede uma exclusividade incompatível com a característica da região. Além disso, deixa de caracterizar como pescador quem atua no beneficiamento e nos reparos dos apetrechos”, explicou a doutoranda, ao elucidar que a consequência dessa restrição é limitar o recebimento do seguro defeso nesses casos.

De outro ponto de vista, a autora mencionou a relação das mulheres com a própria natureza, como sustento e como fonte de medos em relação ao sobrenatural. “Elas falam da existência de seres da floresta, como Matinta Pereira e a Mãe da Mata, para a qual rezam antes de começar o trabalho de pesca e beneficiamento do crustáceo”, informou Christine, antes de enumerar todas as etapas de trabalho, desde a saída para a pesca até a venda do camarão em Alenquer.

Já em relação ao trabalho de pesca, a pesquisadora falou que são “múltiplos os seus significados, misturando sofrimento, medo e angústia, de um lado; com sensações prazerosas, quando mencionam a diversão, a alegria e as conversas mais livres”. Segundo ela, as mulheres pescadoras vivenciam tanto a alegria, o bem-estar e a satisfação quanto o sofrimento e a exaustão. “É uma pluralidade de sensações cuja significação está além da questão financeira”, frisou.

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