Fórum multidisciplinar debate fome e desigualdades em conferência de abertura
Foi realizada na tarde desta quinta-feira, 17, a conferência de abertura da primeira edição do Fórum de Discussão Multidisciplinar, intitulada ‘Revisitando a obra de Josué de Castro e a atualidade do debate sobre a fome e a pobreza no mundo’ e proferida pelo docente do Departamento de Geografia da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), professor Ricardo Nogueira. A atividade ocorreu no auditório Rio Solimões do Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (IFCHS), localizado no setor Norte do Campus Universitário.
Com o tema ‘A questão da fome, pobreza e desigualdades na Amazônia’, o evento é promovido pelo Laboratório de Geografia Humana (Lagehu) do Departamento de Geografia do IFCHS e pelo Departamento de Economia e Análises da Faculdade de Estudos Sociais (FES), ambos da Ufam, além de contar com a participação do Núcleo de Estudos Rurais e Urbanos da Universidade Federal Fluminense (UFF).
Publicada em 1946, a obra literária de Josué de Castro a que se refere o professor Ricardo Nogueira é ‘Geografia da fome’, através da qual o autor, apesar de possuir graduação em Medicina, tornou-se um dos maiores referenciais entre estudiosos e pesquisadores da Geografia, devido ao sucesso que obteve para com os leitores, principalmente pela abordagem diferenciada em relação ao problema da fome e desigualdades sociais no Brasil.
O livro apresenta um mapeamento das áreas em que a fome é evidente, dentre as quais destacam-se a Amazônia, o Nordeste açucareiro, o Sertão nordestino e, em seguida, as regiões Centro-Oeste e Extremo-Sul. Foram analisados os contextos históricos, culturais, ambientais e políticos de cada localidade para provar que a fome e a desnutrição eram decorrentes de fatores políticos, como a distribuição desigual de recursos financeiros pelo Estado, além de dificuldades provocadas pelas atividades econômicas de cada uma.
A fome e as desigualdades são problemas que afetam todo o paísNo caso amazônico, o entrave pontuado foi, segundo o autor, o fato de a floresta ser um obstáculo para a criação de gado, e a pouca quantidade de criação era gerenciada por uma parcela muito pequena da sociedade, a chamada classe dominante. Devido a isso, as principais fontes de proteína estavam contidas apenas na mandioca e nas espécies de peixes da região, dieta alimentar classificada como deficiente, do ponto de vista nutricional.
O livro aborda ainda o sofrimento dos nordestinos que vieram para a Amazônia na época auge da borracha, por trazerem outros hábitos alimentares e serem submetidos aqui a um regime de trabalho que os impedia de plantar seus próprios alimentos, e a solução era recorrer ao consumo de conservas e outros produtos enlatados que não possuem todos os nutrientes necessários a um ser humano. Ainda segundo o autor, a produção em larga escala da cana-de-açúcar destruiu um ambiente que era extremamente diversificado e agravou o problema da fome para os pequenos produtores. “Foram destruídos o solo, a hidrografia e a vegetação, para que fosse criada outra estrutura agrária e latifundiária, uma monocultura”, reiterou o professor Ricardo Nogueira, ao enfatizar que a desigualdade é observável nos dias atuais e que a criação de novas políticas públicas para solucionar o problema é fundamental.