Ufam promove diálogo sobre empoderamento feminino em alusão ao Mês da Mulher

 
Por Cristiane Souza
Equipe Ascom Ufam

Com o tema ‘Conquistas e desafios reais vivenciados pelas mulheres: diálogos para o empoderamento’, a Universidade Federal do Amazonas (Ufam), por meio da Pró-Reitoria de Gestão de Pessoas (Progesp), promoveu evento alusivo ao Mês da Mulher na tarde de sexta-feira, 16, no auditório Rio Alalaú da Faculdade de Educação (Faced).

Maracatu Baque Mulher Manaus abriu as atividadesMaracatu Baque Mulher Manaus abriu as atividades

A programação teve início com a apresentação do grupo de Maracatu Baque Mulher Manaus. Nos refrões, frases de empoderamento feminino ecoavam, a exemplo desta: – Baque Mulher, na levada do tambor, luta contra a violência, o preconceito e o opressor; ou desta outra: – É por esse baque que eu ergo a voz/ Eu não venho sozinha, venho por todas nós. O grupo iniciou a apresentação no Hall da Faced e encerrou dentro do auditório Alalaú.

“É importante essa intervenção cultural, porque a arte também se configura numa forma de empoderamento das mulheres”, destacou Laís Gonçalves, assistente social vinculada à Coordenação de Desenvolvimento Social do Departamento de Saúde e Qualidade de Vida (CDS/DSQV).

A servidora foi responsável por mediar o diálogo ao lado da psicóloga do Departamento de Assistência Estudantil (Daest), Josiane Medeiros. “Essa proposta surgiu da necessidade de perceber as vivências na Universidade, e da necessidade de abordar temas como a questão de gênero. O Dia da Mulher é um dia de lutas e para promover a reflexão sobre o contexto presente”, disse Josiane. “Nossa expectativa é de que as pessoas possam refletir sobre o que discutimos e pensar estratégias de enfrentamento”, frisou.

As expositoras da mesa redonda foram a docente do departamento de Serviço Social da Ufam, professora Lidiany Cavalcante, e as fundadoras do Instituto Mana, Anne Paiva e Nayana Góes.

Reflexões

Graduada e mestre em Serviço Social e doutora em Sociedade e Cultura da Amazônia, a professora Lidiany dedica-se a pesquisar os temas gênero, diversidade, identidade e sexualidade. “Primeiro eu quero parabenizar a iniciativa da Progesp, porque eu acredito que a Universidade precisa disso. Hoje o evento é sobre o empoderamento feminino, mas, sobretudo, vamos fazer uma pauta de protesto”, adiantou a docente.

“Não adianta falar de empoderamento, se nós não falamos sobre os retrocessos, não é?! Nós temos um quadro de execução de uma feminista, de alguém que entrou no cenário político, mas é uma mulher negra de periferia LGBT. Então, não podemos nos esquecer de trabalhar nessa perspectiva de protesto, porque estamos diante de uma sociedade que está caminhando para a barbárie”, apontou a professora Lidiany.

Mesa foi composta por mediadoras da Progesp, professora Lidiany Cavalcante e fundadoras do Instituto ManaMesa foi composta por mediadoras da Progesp, professora Lidiany Cavalcante e fundadoras do Instituto Mana

Segundo ela, houve, sem dúvidas, muitas conquistas no campo dos direitos humanos, mas também muitos retrocessos na sociedade brasileira. A docente lembrou ainda que a iniciativa mostrará o caminho a ser desenhado como Universidade nessa perspectiva da resistência.

“Hoje nós temos um quantitativo de mulheres cada vez maior ingressando na universidade. E nós precisamos quebrar alguns paradigmas e mostrar que a mulher se insere na universidade, mas historicamente ela foi secundarizada. Pelo menos 40% das mulheres jovens no Brasil já sofreram algum tipo de assédio. Em 2017, uma em cada três mulheres brasileiras sofreu algum tipo de violência. Nós estamos diante de uma convulsão social que necessita de intervenção”, observou a professora, que também expôs outros números.

Segundo as informações trazidas à palestra, a cada cinco segundos, uma mulher é espancada no Brasil e, a cada 12 horas, há uma vítima de feminicídio; entretanto, esse crime é subnotificado na maioria das vezes, num sistema dentro do qual se insiste em notificá-lo somente como homicídio.

“Pelo menos 52% das mulheres brasileiras que sofrem alguma violência se calam. Além disso, grande parte das mulheres aceita e naturaliza a violência, permanecendo em relacionamentos abusivos”, ressaltou Lidiany, segundo quem a mulher sempre foi vista, ao longo da história da Humanidade, como ‘um ser pré-moldado’, cujo comportamento deve seguir determinados padrões. “Nós não somos produzidas em série; temos nossas identidades, e elas são plurais”, disse.

Discente Adriane Melo elogiou a iniciativaDiscente Adriane Melo elogiou a iniciativa

Manas

As fundadoras do ‘Instituto Mana’, Nayana Góes e Anne Paiva, também compartilharam suas vivências. “Nós trazemos um pouco das nossas atividades com o tema do empoderamento feminino em Manaus, do nosso clube do livro e das orientações que damos por meio das redes sociais a mulheres que são vítimas de algum abuso ou assédio”, afirmaram.

“Nesse pouco mais de um ano, aprendemos muito sobre as conquistas, os desafios e as dificuldades das mulheres que participam das ações”, reforçou Anne, ao dizer que a motivação inicial para fundar o Instituto foi que as duas já haviam sido vítimas de machismo. “Primeiro, fazíamos palestras nas escolas para alertar as jovens. Só depois resolvemos criar um organismo que pudesse influenciar a sociedade de uma forma mais efetiva”, recordaram as palestrantes.

Segundo elas, a participação das mulheres tem sido no sentido de pedir esclarecimentos de questões como “Quando é que uma situação tal pode se configurar como assédio?”, por exemplo; ou ainda: “Se eu sofri algum tipo de violência, como é que eu posso proceder?”. Essas são as principais intervenções realizadas pelo grupo, além da possibilidade de ter um espaço para diálogo, conhecimento e troca de experiências.

Adriane Melo, 17, é caloura do curso de Administração e, segundo as palavras dela própria, “desde sempre acha muito interessante que se discutam essas causas”. “Quanto mais a gente fala sobre isso, mais a gente ganha espaço, principalmente em se tratando de Universidade”, afirmou a acadêmica, ao recordar, ainda, a recente execução da parlamentar Marielle Franco.

 
 
 
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