Mitos em torno da surdez são desvendados em palestra sobre educação inclusiva

“O surdo é tão capaz quanto qualquer outra pessoa. A única diferença é que ele se comunica através de uma língua viso-espacial”, explica a professora Débora Arruda.

Língua de Sinais não é universal, como muitos pensamLíngua de Sinais não é universal, como muitos pensamA palestra revelou que ainda há mitos que envolvem a surdez, como a ideia de que há uma língua de sinais universal ou a de que não existem estruturas gramaticais próprias. A atividade ocorreu na tarde desta sexta, 9, no auditório Rio Alalaú da Faculdade de Educação (Faced) e faz parte do ‘Ciclo de Palestras e Debates sobre Inclusão no Contexto Amazônico’.

Trata-se de encontros mensais sobre temáticas de educação especial e inclusiva, cujo público de interesse são alunos de licenciaturas e pedagogia e professores da educação básica. “Iniciamos as atividades no início de 2016, mas ainda não se tinha falado nada sobre a surdez. Contemplamos o tema agora, convidando acadêmicos e profissionais a desmitificarem alguns conceitos do senso comum e a superá-los”, explica a coordenadora do Ciclo e mestranda em Educação da Faculdade de Educação (Faced/Ufam), Geyse Sadim.

Essa também é uma preocupação da graduanda do 8º período do curso de Pedagogia da Ufam, Juliana de Souza, 21, para quem, apesar da oferta de duas disciplinas sobre educação inclusiva de pessoas com deficiência na grade regular, a formação complementar é indispensável para preparar o profissional num contexto de escolas inclusivas, por exemplo.

“O professor tem que se reinventar, pesquisar, ter a colaboração de especialistas e criar novos métodos para lidar com a realidade da sala de aula”, propôs Juliana. Como acadêmica, avalia que o aluno deve se interessar pelos eventos, e o docente incentivar a participação da turma. “O acesso a metodologias inclusivas e conceitos de educação inclusivas passam pelo processo de desnaturalização de mitos, e isso é importante para os futuros pedagogos”, complementou.

Senso Comum

Servidora da Universidade desde 2011, a professora Débora Arruda vinculou-se ao curso de Licenciatura em Letras Libras tão logo iniciou a primeira turma, em 2014. O tema mitos em torno da surdez, segundo explicou, abriga uma série de questões pré-concebidas que o senso comum naturaliza ao longo dos anos. “Um dos mitos é falsa universalidade da Língua de Sinais. Isso é uma crença, mas isso não é verdade”, assegurou a palestrante.

“Não é um código secreto’ interpretado pelos surdos, e somente por eles compreendido. Esse mito perdura desde quando a maioria dos professores de surdos, em 1880, eram oralistas [não surdos]. No Congresso de Milão, as línguas de sinais ficaram proibidas, mas, para os surdos, o mais natural é sinalizar”, afirmou. “O ponto central desse mito é este: assim como as comunidades orais têm várias línguas, as línguas de sinais também variam”, destacou.

Um exemplo disso é o fato de que há sinais distintos para uma mesma palavra, como mãe; ou um mesmo sinal para a mesma palavra, como tartaruga e árvore, cujo sinal é igual na Língua Brasileira de Sinais (Libras) e na Língua Americana (ASL). “A origem da Língua de Sinais no Brasil é francesa, mas têm outras influências”, disse a professora Débora Arruda.

Educação inclusiva é o tema central do ciclo de palestras promovido pelo NEPPD em parceria com o PPGEEducação inclusiva é o tema central do ciclo de palestras promovido pelo NEPPD em parceria com o PPGE

Não é porque os surdos se comunicam através de experiências visuais que se deve considerar verdadeiro outro mito, o de que não existe organização gramatical nas línguas de sinais. Essa questão foi pacificada pela Lei nº2.436/2002, que conceituou a Libras e determinou que todos os alunos de licenciaturas devem tê-la como disciplina obrigatória. “A cientificidade que tem como fundamento a existência de uma gramática das línguas de sinais foi questionada até a década de 1970, quando foram criados os três primeiros parâmetros: configuração das mãos, ponto de articulação do sinal e movimento, com o objetivo de descrever os níveis fonológicos e morfológicos capazes de elaborar uma gramática própria”, esclareceu a palestrante.

Não é só isso. A expressão facial e os movimentos do corpo (não só das mãos) também têm uma carga de significado que diferencia os sinais interpretados, e eles são os equivalentes das palavras das línguas orais. Todos esses elementos formam a gramática própria que torna a Libras e a ASL (Estados Unidos) tão completas quanto a Língua Portuguesa ou a Inglesa.

Outros mitos citados pela professora são os de que os surdos vivem num silêncio absoluto. “Isso nunca foi verdade”, informa a professora, ao explicar que há graus de surdez que vão do leve ao profundo, passando pelo moderado. Da mesma forma, devem ser tidas como mito as questões sobre a existência de pensamentos ou sentimentos pela comunidade surda. “Claro que eles pensam e têm sentimentos, porque isso independe da oralidade”, concluiu.

NEPPD e PPGE

O Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicopedagogia Diferencial (NEPPD) é responsável por cinco atividades, dentre as quais a coordenação do Programa de Extensão Apoio Educacional Especializado (PAEE), responsável pelo Ciclo de Palestras, ministradas a cada mês.

Há projetos em parceria com escolas inclusivas e professores dessas instituições têm acesso a metodologias de educação inclusiva e formações oferecidas pelo PAEE por meio da extensão universitária, como os eventos e as Atividades Curriculares de Extensão (ACEs).

O atendimento às crianças deficientes da comunidade também é realizado no âmbito do NEPPD. O contato do Núcleo é somente pelo e-mail O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.. Saiba mais sobre os eventos promovidos pelo NEPP na fan page facebook.com/eventosneppd.

“Outro objetivo  do Ciclo é trazer ao conhecimento público os temas de pesquisa tratados na Linha ‘Educação Especial e Inclusão no Contexto Amazônico’, da qual fazem parte dois docentes de Educação Física, dois de Educação e cerca de dez mestrandos do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade”, esclarece a coordenadora. As pesquisas têm como principais temas acessibilidade, autismo, formação do professor de educação física e educação inclusiva, práticas pedagógicas e Educação a Distância inclusivas.

 
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