Artigo sobre poluição do Rio Negro tem publicação internacional

Orla de Manaus (foto de H. Souza)Orla de Manaus (foto de H. Souza)Na maior bacia fluvial e que detêm uma das maiores biodiversidades do mundo, a Amazônica, estudos de impactos ambientais causados pela destruição da floresta são até frequentes, mas pouco ainda se sabe sobre a poluição dos rios, principais vias de transporte na região.

Artigo publicado na última edição da revista Brazilian Journal of the Chemical Society (Vol.26, no. 7, 2015) traz o resultado de análises de compostos químicos oriundos de combustíveis fósseis encontrados em amostras de sedimentos do rio Negro, sobretudo em regiões próximas a região portuária de Manaus.

A publicação é resultado do trabalho de pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), por meio das professoras Sandra Zanotto e Teresa Cristina Oliveira, do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa), da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) e da Universidade de São Paulo (USP), integrantes da Rede Bionorte.

"Podemos refletir que este artigo, como muitos outros, demonstra além dos dados científicos de que os sedimentos do rio Negro, em algumas regiões da orla da cidade de Manaus, apresentam contaminação por HPAs carcinogênicos. Demonstra também a competência dos Programas de Pós-graduação instalados na região Norte para formação de indivíduos capacitados a entender e tentar resolver os problemas de nossa região. O Programa de Pós Graduação da Rede Bionorte, que a coordenação geral está aqui na UFAM, é um exemplo com esta competência,” comentou a professora Sandra Zanotto.

O objetivo da pesquisa era conhecer a presença e origem dos hidrocarbonetos policíclicos aromáticos (HPAs). Trata-se de substâncias tóxicas persistentes, que “mesmo em baixa concentração podem ameaçar a saúde humana e do meio ambiente”, explica Hilton Souza, doutorando da UEA.

Existem cerca de 100 tipos de HPAs que são fruto da decomposição de moléculas orgânicas presentes em dejetos de esgotos ou plantas, na queima de combustíveis fósseis de barcos, por exemplo, resíduos da indústria, entre outros. Eles se acumulam no meio ambiente, podem ser transferidos para a cadeia alimentar (sobretudo em peixes) e até causar câncer.

Os autores do artigo avaliaram 18 sítios ao longo do rio Negro e constataram que as maiores concentrações de HPAs estão em áreas portuárias e próximas a centros urbanos, corroborando com pesquisas realizadas pelo mundo e em alguns locais no país.

Para a caracterização dos contaminantes foram considerados as concentrações de 16 HPAs prioritários usados em estudos ambientais pela Agência Americana de Proteção Ambiental (Usepa). Os resultados indicam que das amostras de sedimentos superficiais coletados de três regiões navegáveis do rio Negro, ao longo de três meses de 2012 e um mês de 2013, quatro apresentaram alta concentração (acima de 500 g -1) de HPAs e dois, contaminação moderada (entre 250 e 500ng g-1), todas coletadas na região portuária de Manaus, onde há intensa atividade náutica e esgoto urbano. Outras sete foram consideradas pouco contaminadas (abaixo de 250 g-1), e duas não foram consideradas contaminadas, todas localizadas em áreas de baixa influência humana.

A análise química revelou ainda que a maior fonte de contaminação era formada por HPAs de alto peso molecular, que estão ligados ao processo de queima de combustíveis fósseis, mas também ao escoamento de água com resíduos de asfalto e de pneus (como as ruas em geral), representando 70% de ocorrência nas amostras. Outra fonte bastante presente foram os HPAs alquilados, presentes no óleo diesel e que indicam derrames, ou outras ações que podem revelar descuido das embarcações. “Estudos sobre a presença e acúmulo desses compostos no sedimento são importantes para mitigar os impactos ambientais e reduzir o dano à saúde humana”, afirmam os autores do estudo.

A análise química de HPAs presentes no rio Negro se mostra estratégica para traçar as principais fontes de compostos que estão sendo gerados ao longo do leito do rio e identificar, assim, os principais poluidores para se traçar políticas de preservação ambiental. “Se organismos aquáticos, tais como peixes, estão tendo contato com estes tipos de contaminantes, isso pode vir a tornar-se uma preocupação de saúde pública”, alerta Hilton Souza.

A próxima fase da pesquisa, informa Souza, será avaliação sobre a capacidade de fungos isolados a partir destes ambientes contaminados degradarem os HPAs. “Assim poderemos pensar em propostas de biorremediação com microrganismos da própria região”, conclui.

 

Colaboração de Germana Barata

 

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