AgroUfam 2015 reserva histórias de famílias que apostaram na agroecologia
“Hoje tem Feira!’’. Essa frase é comum de se ouvir pelos corredores da UFAM, principalmente nos dias em que acontece a AgroUfam: Feira da Produção Familiar, que neste mês acontece nos dias 05 e 06 de março.
Criada em 2013 pelo Núcleo de Socioeconomia da UFAM (Nusec), sob a coordenação da professora Therezinha Fraxe, a Feira realiza a comercialização de produtos oriundos de comunidades rurais que adotaram princípios agroecológicos, graças aos cursos oferecidos pelo Núcleo, em detrimento da agricultura tradicional, que ao longo do tempo veio a utilizar agrotóxicos.
A Feira acontece uma vez ao mês, sempre na Faculdade de Ciências Agrárias (FCA), setor sul do Campus Universitário, no horário de 08h às 18h, e estimula a divulgação de produtos potencialmente capazes de instigar o empreendedorismo do produtor rural, e os produtos regionais. Segundo a Coordenadora, existem mais de 50 famílias aguardando um espaço na Feira. “Durante os dois anos, quadruplicou o número de participantes”, afirmou a Professora.
A AgroUfam não é uma feira convencional, e sim um espaço educativo que estimula o intercâmbio de conhecimentos, e integração de interesses entre agricultores e comunidade acadêmica, além de estabelecer uma relação direta produtor-consumidor. Ao final do Evento, o Nusec realiza uma reunião com todas as famílias. “São os produtores que gerem a Feira”, ressalta a Coordenadora.
Maria Soares: a agricultora que investiu na agroecologia
Dentre as dezenas de famílias que expõem seus produtos na AgroUfam, está a dona Maria Soares. Agricultora, pescadora, e professora aposentada, ela sai de sua comunidade chamada São Francisco, que fica aproximadamente 30 minutos de lancha do município de Careiro da Várzea, distante cerca de 25 quilômetros de Manaus, para comercializar artesanatos, produtos da olericultura e plantas medicinais na AgroUfam, além de outras feiras de Manaus.Maria Soares e Mário Jorge
Casada há 40 anos com Mario Jorge, cuja união gerou quatro filhos, sendo um falecido, Maria deixou de lado o uso de agrotóxicos em seus produtos, a partir dos cursos ministrados pelo Nusec, em sua comunidade, ao longo de mais de 10 anos. Na Feira ela vende quiabo, chicória, cebolinha, cúbio, goiaba, pimenta-doce, tudo orgânico.
Após os cursos, a produção dela aumentou. E isso só foi possível devido a sua dedicação. “É necessário apostar nos cursos para se obter os resultados. E eu pesquisava sobre os malefícios dos agrotóxicos para o ser humano. Outros colegas desistem pois acreditam que sem os agrotóxicos, os produtos não ficam bons”, relata Maria.
Um dos cursos que ela destaca é o de Cooperativismo. Neste, a comunitária teve noções de capital de giro, tabela de preços, além de ter aprendido a fazer trufas, doces e sorvetes. Com base nesses conhecimentos, Maria envolveu outras pessoas em sua comunidade, inclusive seu esposo, a se capacitarem.
Para a professora Therezinha Fraxe, “ninguém muda, e sim nos transformamos para adquirir o conhecimento diferenciado. Não é a Universidade que mudou a comunidade, e sim a comunidade que mudou a Universidade. Ela precisa ser uma via de mão dupla entre o conhecimento tradicional e o científico.”