NEAI realiza aula inaugural de curso sobre a etnia Tukano
Nesta segunda-feira (23), o Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena (NEAI) do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) da UFAM realizou a primeira aula do curso “Cosmografia, Vida Social e Classificações Tukano”. O curso, que terminará na sexta-feira, 27, é ministrado pelos alunos Dagoberto Lima Azevedo, Gabriel Maia e pelo antropólogo MSc. João Paulo Barreto, todos do povo tukano, e visa transmitir conhecimentos gerais sobre a yepalogia, isto é, o estudo do povo tukano e do seu modo de vida. O curso conta com alunos de graduação, mestrado e doutorado originários de várias áreas do conhecimento e diversos lugares do Amazonas e demais estados do Brasil, como Rio Grande do Norte, São Paulo e Paraná, além de alunos da Alemanha e da Colômbia.MSc. João Paulo Barreto, da etnia tukano
A primeira aula, proferida pelo MSc. João Paulo Barreto, tratou sobre a introdução à teoria tukano. Segundo ele, o objetivo desta primeira aula é postular que também para os tukano, há uma origem de mundo e como ele foi formado. De acordo com a etnia tukano, o mundo foi formado a partir de dois mundos primordiais, onde tramas e ações deram origem a todas as coisas.
Ainda segundo a yepalogia, a origem de tudo o que conhecemos hoje vem dos humukori mahsã, seres especiais que são os donos da caça, da pesca, das árvores frutíferas, das plantações, e dos demais fenômenos conhecidos pelo homem. A partir disso, segundo os tukano, os humukori mahsã tiveram o desejo de criar seres vivos, mas para isso, precisavam criar uma plataforma terrestre, que é o mundo que conhecemos hoje.
Experiências
Alunos de diversos lugares do Brasil e do mundo participam do cursoMuitos alunos estão tendo contato com estudos sobre a etnia tukano pela primeira vez. É o caso da fluminense Carolina Levis, doutoranda em Ecologia pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia e mestre em Ecologia pela mesma instituição. Graduada em Biologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e morando em Manaus desde 2010, Carolina, durante suas pesquisas no mestrado e no doutorado, esteve em São Gabriel da Cachoeira. “Fiquei encantada com o povo indígena que vive em São Gabriel. Quando eu soube do curso, me interessei logo de cara e resolvi participar”, relatou.
Para ela, o curso influenciará na sua carreira acadêmica de forma positiva, porque poderá compreender o modo de vida de uma perspectiva indígena. “Geralmente, na academia, é muito complicado para conseguirmos autorização para visitar terras indígenas. Aqui, nós estamos em contato com eles, que viveram tudo isso antes de vir pra cá. Sem dúvida, é uma experiência ímpar”, comenta.
Segundo o professor Dr. Gilton Mendes, do PPGAS, a ideia do curso nasceu de diversos debates entre os alunos dentro do NEAI. “A partir disso, surgiu a possibilidade de nós levarmos os conhecimentos que eles adquiriram no seu povo para os muros da academia. O que eles estão fazendo aqui é trabalhar as suas pesquisas e divulgá-las para o mundo”, salienta o professor.
Acompanhando os alunos durante a sua trajetória no mestrado, o professor Mendes afirma que é satisfatório demais ver a evolução destes alunos. “É uma alegria sem igual vê-los nessa posição de professor, ensinando conhecimentos nos quais eles são especialistas, dos quais eu mesmo não teria condições de falar. Fico muito feliz com isso”, afirma.