Saúde indígena é discutida na Escola de Enfermagem
Cavuscens analisa políticas do Subsistema do SusAbordando as políticas públicas voltadas para a saúde indígena no Brasil, especialmente na Amazônia, ocorreu na manhã desta quinta-feira, 05, a primeira edição do Workshop sobre o tema realizado pela Escola de Enfermagem de Manaus (EEM).
A logística e a geografia da região somadas ao real atendimento às necessidades da população indígena são alguns dos principais desafios relativos à questão da saúde dos povos aldeados. De acordo com a professora Noeli Toledo, responsável pela disciplina que deu origem ao evento, muitas vezes o profissional de saúde passa mais tempo no transporte para chegar às aldeias do que propriamente atendendo aos pacientes. “Uma vez levei oito horas de voadeira para conseguir atender quatro pacientes”, exemplificou a professora relembrando sua própria experiência.
Os cuidados com a saúde dos povos indígenas são tarefa do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena, o qual foi objeto de estudo da palestra do sociólogo Silvio Cavuscens. Coordenador da Secoya, associação criada para defender os direitos do povo Yanomami, Cavuscens apresentou as limitações das políticas públicas voltadas para a saúde dos indígenas do país. Segundo ele, problemas relativos à pauta vão desde a forma como os indígenas são atendidos até a ausência de materiais e profissionais capacitados para atendê-los. “Às vezes, é preciso ouvir o pajé, o cacique e outros membros da aldeia para tratar um problema de saúde que pode ser de origem espiritual por causa de um momento que o paciente esteja vivendo no grupo”, disse o palestrante.
Professora Noeli Toledo O líder da Secoya destacou o papel do Agente Indígena de Saúde (AIS), que na teoria deveria atuar com o suporte de uma equipe multidisciplinar composta por médicos, enfermeiros, odontólogos entre outros profissionais; mas que, na realidade, costuma ser o principal personagem no atendimento aos pacientes devido à falta de estrutura do Subsistema de Atenção à Saúde Indígena.
Para a professora Noeli Toledo, entraves envolvendo contratação de profissionais e repasse de recursos para a continuidade dos programas desenvolvidos pelo Subsistema do SUS dificultam a permanência de médicos e enfermeiros na área indígena. Conforme Toledo, o subsistema precisa atuar na prevenção e promoção da saúde das populações indígenas e não somente em caráter emergencial. “Não é só levar o remédio. É suprir realmente a necessidade dessa população”, declarou a enfermeira.
Estudantes promovem workshop
Para Nicole as especificidades dos povos indígenas são importantes no tratamentoO I workshop sobre saúde indígena no Brasil é resultado do trabalho dos alunos do 8º período do curso de Enfermagem da EEM como forma de avaliação dos conteúdos estudados na disciplina “Saúde Indígena”, ministrada pela professora Noeli Toledo.
Nicole Viana, uma das coordenadoras do evento, expõe que o objetivo do workshop é mostrar a importância da difusão da questão da saúde indígena no país. “São poucos os profissionais que querem e são capacitados para trabalhar junto aos povos indígenas”, disse. “E a população é a que mais sofre”, avaliou.
Para a estudante, o principal aprendizado concernente ao tema da disciplina foi o caráter especifico da saúde do paciente indígena, o qual deve levar em conta fatores como a etnia, crenças e valores. “Nós temos de olhar o indivíduo baseado na rotina dele porque, assim, a gente vai conseguir atender a demanda de saúde da população indígena”, afirma.
Segundo a professora Noeli, os alunos puderam aprimorar potencialidades durante a realização do workshop que serão importantes para o exercício profissional. “É um orgulho muito grande ver o resultado do trabalho deles. Eu sabia que eram capazes”, elogiou.
O Subsistema de Atenção à Saúde Indígena
É um programa que visa fornecer atendimento médico às comunidades indígenas brasileiras - organizado em Distritos Sanitários Especiais Indígenas (DSEI). Criado em 1999 pela Lei nº 9.836, o Subsistema de Atenção à Saúde Indígena integra o Sistema Único de Saúde (SUS).