“Ecologia de Saberes: Redes de Produção de Conhecimento” é tema de mesa-redonda do curso de Licenciatura Indígena, nesta sexta, 7
Nesta sexta-feira, dia 7, o curso de Licenciatura Indígena promove a mesa-redonda “Ecologia de Saberes: Redes de Produção de Conhecimento”, com os pesquisadores do Centro de Estudos Sociais da Faculdade de Coimbra, em Portugal, professor Dr. João Paulo Dias e professor Dr. Bruno Sena Martins. O evento acontece às 9h, no auditório Rio Solimões, no Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL), localizado no setor Norte da Instituição. As inscrições são gratuitas e podem ser feitas antes do início da mesa-redonda.
O CES, da Universidade de Coimbra, onde atuam mais de 200 pesquisadores é, hoje, uma referência não somente europeia, mas mundial no que se refere à produção de conhecimento nas Ciências Sociais, Antropologia, Geografia, História, Estudos pós-coloniais - uma área híbrida entre Ciências Sociais, Licenciatura e Direito – e que trabalha com a ideia central de que não existe um saber, mas vários saberes.
Um dos coordenadores do evento, professor Dr. Lino João de Oliveira Neves, explicou que os palestrantes convidados foram doutorandos do coordenador do CES-UC, professor Dr. Boaventura de Souza Santos, tal qual ele mesmo, o que estreitou as relações de amizade e intercâmbio de estudos entre os pesquisadores de ambas as universidades. O professor da Ufam também explicou o porquê de trazer cientistas europeus para abordar a temática indígena.
“A Universidade de Coimbra, mais especificamente o Centro de Estudos Sociais trabalha com o conceito introduzido por Boaventura ao longo do tempo, de que existem vários saberes, e não somente a ciência, a ciência seria apenas um deles. Existem, por exemplo, os conhecimentos tradicionais dos povos indígenas na Amazônia, porque o conhecimento é a soma das interprestações de mundo que cada povo tem sobre fenômenos da natureza, sobre a cosmovisão”, discorreu.
O professor complementou, ressaltando que “existem várias culturas (não restringindo a mesma ao modo de se vestir ou se alimentar de um povo), mas também o sistema de produção de conhecimento, o que é comum a cada um. A ecologia dos saberes é diferente, mas eles podem se complementar, num nível de simetria, de equivalência, sem se sobrepor”.
Ainda de acordo com o coordenador, a outra abordagem que se quer dar ao evento é que para promover a efetivação desses conhecimentos, é preciso validá-los e atuar a fim de fazê-los dialogarem num nível de igualdade, como o que pode ser caracterizado como rede, que seria estabelecer um diálogo simétrico entre esses saberes.
Outra coordenadora do evento, a professora Dra. Ivani Ferreira de Faria, salientou que, como a Licenciatura Indígena em Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável é pioneira na criação de epistemologias próprias pelos povos indígenas, “é preciso quebrar o paradigma de que a educação convencional tem de se sobrepor ao conhecimento indígena”.
“Esse é um desafio constante e estamos sempre em debate e nos debruçando sobre o assunto para podermos, efetivamente, cumprir nosso papel”, disse.
Currículo dos palestrantes: Bruno Sena Martins é licenciado em Antropologia pela Universidade de Coimbra e Doutorado em Sociologia pela mesma instituição. Tem dedicado o seu trabalho de investigação aos temas do corpo, deficiência, conflito e memória social. É Co-coordenador do Núcleo de Democracia, Cidadania e Direito (DECIDe). É Co-coordenador executivo do Programa de Doutoramento "Human Rights in Contemporary Societies".
Em 2006, publicou o livro 'E se Eu Fosse Cego: narrativas silenciadas da deficiência', produto da sua dissertação de mestrado galardoada com Prémio do Centro de Estudos Sociais para Jovens Cientistas Sociais de Língua Oficial Portuguesa. Em 2007 foi Research Fellow no Centre for Disability Studies (CDS) na School of Sociology and Social Policy da Universidade de Leeds. No livro "Sentido Sul: A Cegueira no Espírito do Lugar" (2013), com base num trabalho etnográfico realizado em Moçambique, aborda as relações entre as histórias de vida das pessoas cegas e os valores culturais dominantes através dos quais a cegueira é pensada. Enquanto investigador do projecto Alice desenvolveu trabalho de campo com os sobreviventes do Desastre de Bhopal. No contexto do Centro de Estudos Sociais tem integrado a equipa de vários projetos de investigação dedicados a temas como Guerra Colonial portuguesa e a inclusão social das pessoas com deficiência.
João Paulo Dias é sociólogo, Mestre em Sociologia do Direito pela Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra e Doutor em Sociologia do Direito na mesma instituição.
Atualmente é Diretor-Executivo, Coordenador do Gabinete de Gestão de Projetos e Investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. Autor de diversos artigos e livros, entre os quais, "Por caminhos da(s) reforma(s) da justiça" (2003), com João Pedroso e Catarina Trincão, "O mundo dos magistrados: a evolução da organização e do auto-governo judiciário" (2004), "O papel do Ministério Público no poder judicial: estudo comparado dos países latino-americanos" (2008) (Coord. com Rodrigo Ghiringhelli de Azevedo) ou "O Ministério Público no acesso ao direito e à justiça" (2013), entre outros. Debruça-se, em termos de interesses de investigação, sobre as questões do Acesso ao Direito e à Justiça, do papel do Ministério Público e, em particular, da caraterização sociológica das magistraturas, através do estudo, coordenado por António Casimiro Ferreira, "Quem são os nossos magistrados? Caraterização profissional dos juízes e magistrados do Ministério Público em Portugal", financiado pela Fundação para a Ciência e a Tecnologia.