Costinha, mascote do laboratório de Zoologia, recebe a última homenagem de professores e alunos do ICB e da FCA

Não há quem tenha passado pelo Laboratório de Zoologia do Instituto de Ciências Biológicas (ICB), nos últimos 22 anos, sem ter guardado uma boa recordação da Costinha. Muitos professores, alunos e pesquisadores de instituições nacionais e internacionais que conheciam o ICB sentiram muito pela perda da mais especial moradora do laboratório: uma linda preguiça da espécie Bradypus variegatus. “Ela me confortou muitas vezes com o silêncio e um abraço quando ninguém mais conseguia”, revela emocionada a professora Nair Aguiar, que se tornou mãe adotivada da Costinha.

Em julho de 1992 começou a história da preguicinha que chegou à Ufam ainda na barriga da mãe, trazida pelo irmão de uma estudante de Ciências Naturais da estrada de Manacapuru, onde ela corria o risco de ser capturada. A ideia era reintroduzi-la na natureza tão logo se recuperasse, mas sua docilidade foi conquistando professores e alunos do ICB. Em três dias, a bióloga da Ufam Cristina Burnheim, filha do professor Paulo Burnheim, viu que a mãe tinha dado à luz uma preguicinha que estava enrolava em seus braços. O nome Costinha derivou de um personagem humorístico famoso na década de 1990, com o qual os visitantes achavam semelhanças. “Ela era capaz de transformar o ambiente com sua meiguice e todos nós amávamos o jeito dela”, disse a técnica do laboratório Adna Gomes.

Adna ingressou na Ufam em 2001 como aluna do curso de Ciências Naturais, em já em 2002 tornou-se voluntária e depois bolsista de Iniciação Científica no laboratório de Zoologia. Dois anos depois, ingressou no quadro da Universidade como técnica, e não parou mais de cuidar da Costinha. Conta da satisfação que sentia ao buscar o alimento da preguiça na mata da Ufam. “Ela têm uma dieta muito específica, composta por folhas e determinados frutos de embaúba, que, para nossa sorte, é muito comum no campus”, disse, ao explicar o papel de todos: “Quando a gente entrava na Ufam, já vínhamos pensando na alimentação dela, e a professora Nair levava até uma tesoura e sacos no carro para fazer a coleta”. Se fosse possível, Adna agradeceria por todos os abraços e momentos de consolo que a Costinha lhe proporcionou, mesmo sem pronunciar uma palavra.

Esse é o mesmo sentimento da professora Nair Aguiar, que a adotou nesses quase 22 anos, ao dizer que a Costinha acabou se tornando uma marca do laboratório de Zoologia, do ICB e da própria Ufam. “Ela era muito especial porque tinha o dom de cativar a todos. Quando souberam que tinha nascido uma preguicinha, o laboratório vivia lotado. Vinham estudantes, professores e até crianças. Todos saiam mais leves e sorridentes daqui”, contou. Foram organizadas três grandes festas de aniversário para a Costinha – de 15, 18 e 20 anos – além de outras mais simples. Na última, os admiradores da aniversariante fizeram uma retrospectiva num banner que mostra fotografias desde seu nascimento. Para o professor Sérgio Gianizella, vice-diretor do ICB, o segredo para a Costinha ter vivido tantos anos porque todos lhe davam muito carinho e cuidavam muito bem dela.

Uma última homenagem, segundo o professor Gianizella, cujo objetivo é preservar a memória dela, será embalsamá-la. “O corpo está congelado e será enviado para o chefe de taxidermia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), onde será embalsamado; quando retornar a Manaus, será exposto no laboratório de Zoologia”, explicou ele. Também sentiram a perda da Costinha professores e alunos do ICB e da Faculdade de Ciências Agrárias (FCA), que transformaram a “casa” dela num mural de cartas e e-mails.

A professora Maria Silvia Queiroz ressaltou o olhar meigo e doce como a principal característica da Costinha, o que para a professora Rosany Picolotto revela o envolvimento emocional com todos: “Ela nos impulsionava a ter consciência da conservação da natureza, e sua presença revelava algo para além da fria relação acadêmica”. A professora Irlane Maia também deixou o agradecimento, o qual foi reforçado pela ex-estudante do curso de Ciências Naturais, Kerolay Bianca, que mesmo não sendo mais aluna da Ufam, sentiu muito pela perda com estas palavras: “Linda e doce Costinha nos deixou [...] mas ela com certeza não era uma preguiça qualquer, pois tinha uma inteligência muito acima da média e fez história na Ufam”.

Anexos:
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