Parfor gradua professores com trabalhos de resgate histórico

Professores em formação assistem aos seus trabalhos Professores em formação assistem aos seus trabalhos

O Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (Parfor) instituído pelo Ministério da Educação e executado pela Universidade Federal do Amazonas promoveu, na tarde desta terça-feira, 14, em Iranduba, a 34 quilômetros de Manaus, um resgate da história daquele município. O trabalho foi resultado da conclusão da disciplina “Prática Integrada ao Ensino de História”, ministrado pela professora da UFAM, Alba Pessoa. 
 
Com um roteiro em mãos e trabalhando, em sua maioria, com celulares dotados de câmeras filmadoras, eles produziram breves documentários que explicaram como se deu a fundação de Iranduba, a instalação da primeira escola municipal e as curiosidades envolvendo o cemitério local. Também fizeram registros e levantamentos sobre as diversas facetas épicas da construção centenária, situada na comunidade Paricatuba, hoje, em ruínas e abandonada e entrevistaram pessoas envolvidas nos movimentos folclóricos populares de Iranduba. 
Segundo a professora Alba Pessoa, os alunos estudam as disciplinadas do curso de graduação em História do Parfor durante o período de férias e nos finais de semana.  O grupo é formado por estudantes oriundos de localidades da zona rural, como Ilha da Paciência, na comunidade Nossa Senhora de Fátima, do ramal do Janauari, no território de Iranduba e também da cidade de Manaquiri e Careiro Castanho. 
 
“Muitos deles são professores que já estão atuando na sua área, aprimorando-se, outros não, de fato, estão buscando ser professores de História. Aqui, buscamos fazer o ensino da disciplina mais prazerosa, com uso de imagens, cinema, história em quadrinhos, palavras cruzadas como forma de estimular a própria comunidade a intervir dentro do ambiente em que vive”, contou. 

Banca composta por representantes do Parfor e SemeiBanca composta por representantes do Parfor e Semei

Durante três horas de encontro, os vídeos foram apresentados a uma banca composta por professores do Parfor, mais o coordenador do curso de História do Plano, professor Aluísio Nogueira e da Secretaria Municipal de Educação de Iranduba (Semei), representado pelo secretário em exercício, Francisco Belém.   
 
Apresentações - O primeiro trabalho apresentado foi o “Resgatando a História de Cacau Pirera”, que recebeu esse nome por conta do proprietário de terras daquela comunidade, Heraldo Pereira, conhecido como “Cacau”. Foi ele quem iniciou o processo de colonização da área no ano de 1956, quando as terras começaram a ser loteadas pelo Instituto Nacional de Desenvolvimento Rural (Inda), atualmente denominado Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA).
 
No ano de 1967 foram instaladas as quatro primeiras casas na comunidade, construídas pelo Inda para alojar os trabalhadores do Instituto. 
 
A primeira escola da comunidade chamava-se Pingo de Gente, que recebia bebês cujas mães trabalhavam e precisavam deixá-los em uma creche, mas também crianças maiores em um único turno, o que seria hoje, o equivalente ao Ensino Fundamental. 
 
O segundo trabalho apresentado remeteu-se aos contos sobre o cemitério da cidade de Iranduba, que resultou na “Memória do cemitério São Geraldo”, fundado no ano de 1977. Seu nome vem do primeiro cidadão irandubense sepultado no local. 
Hoje, são 1.827 corpos registrados no obituário do São Geraldo, mas não há registros, entretanto, sobre o local. Somente a partir de 2007 é que o município passou a catalogar dados referentes ao cemitério. 
 
“Procuramos várias secretarias as quais acreditávamos terem dados, mas nem a Prefeitura ou Secretaria de Obras mantinha informações, então buscamos declarações de quem trabalha lá dentro”, afirmou o integrante do grupo Emerson Garcia. 

Apresentações foram gravadas em DVD´s Apresentações foram gravadas em DVD´s

Entre algumas informações que obtivemos, descobrimos que junto com a fundação do Cemitério foi plantada uma muda de Apuí, que alimenta uma série de crenças na população, segundo os estudantes. 
“Eles fazem cortes no tronco da árvore, que fazem brotar seiva. Essas marcas, alguns moradores acreditam eternizar os amores, curar enfermidades e conceder prosperidade”, contou Garcia. 
 
O terceiro grupo abordou num breve vídeo, as raízes culturais do Cacau Pirera. O levantamento histórico datou de 1971, quando “seu” Raimundo Correa comprou dois bois de pano ao preço de 200 mil cruzeiros, e deu origem ao Boi Tira Fama, que se assemelha bastante aos dos dias atuais. 
 
As ruínas do casarão de Paricatuba também deram origem a um documentário. Situado há 21 quilômetros de distancia da sede, Paricatuba foi construída para ser, originalmente, uma hospedaria que receberia italianos trabalhadores da construção civil, que erguiriam o Teatro Amazonas. 
 
O nome Paricatuba vem de paricais, nome indígena para pedaços de pau, usados em rituais pelos nativos da região, os Mura. 
 
Construído pelo governo do Estado em 1886, o prédio do Paricatuba serviu de hospedaria em 1924, passou a presídio e quatro décadas depois, um leprosário. Por fim, foi Escola de Liceu de Artes e Ofícios. 
 
Hoje, abandonado, o prédio que tem em todos os ambientes, quarto e banheiro, está abandonado. Os moradores, cerca de 1 mil, querem revitalizar o espaço e transformá-lo em local de visitações, com atrações de esportivas às margens do rio Negro. 
 
A história da primeira escola da cidade de Iranduba, Isaías Vasconcelos, também foi contada. O nome foi em homenagem ao primeiro administrador do loteamento.
 
Em 1969, quando foi fundada, os alunos estudavam em salas distribuídas dentro de um galpão, numa área de várzea, às margens do rio Solimões. 
 
Neste período, com o crescimento populacional e uma série de ocorrências de afogamento, a direção distrital do governo de Pedro Teixeira resolveu alocar a escola, ainda com o mesmo nome, na zona urbana da cidade, onde permanece até hoje. 
Em 1983, com Iranduba tornando-se município, independente de Manaus, a escola passa a ser estadualizada.
 
Nos dias atuais, a Escola Estadual Isaías Vasconcelos ocupa a mesma área em que foi construída num segundo momento, foi reformada e atende alunos dos Ensinos Fundamental e Médio nos três turnos, manhã, tarde e noite.  
 
Cintia Sena, representante do grupo que elaborou o trabalho sobre a escola, as próprias instituições não dão importância às suas memórias.
 

Participantes do Parfor são, principalmente, da zona ruralParticipantes do Parfor são, principalmente, da zona rural

“Tivemos de buscar personagens para compor o material, caso contrário, teríamos de nos basear em slides e dados pouco explicativos sobre como se deu a fundação”, disse. 
 
Museu - Para o coordenador do curso de História do Parfor, professor Aluísio Nogueira, o papel do professor de História vem ao encontro de municiar as instituições, a sociedade e principalmente os alunos. 
 
“Diversos trabalhos foram feitos em Iranduba e nas cidades do entorno, mas o material não fora oficialmente entregue ao município para que servisse de acervo. Ou seja, é como se ele não tivesse existido. Portanto, lutem para que esse material não se perca”, sugeriu. 
 
De acordo com a professora da disciplina, uma das medidas a serem tomadas pelos alunos do módulo é buscar incentivo para a criação do primeiro museu de Iranduba. 
 
“Já estivemos, inclusive, visitando centros históricos, museus e todos os órgãos a fim de nos apoderarmos de como constituir esse local. A posteriori, devemos procurar o Estado ou o município para executar esse projeto”, revelou Alba Pessoa. 
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