Caloroso Debate sobre os Mura encerra Mostra Amazônia: Cidadania Violentada

A exibição do filme documentário Mura – Quem ainda somos?Quem já não somos mais?, de Márcio Fernandes e Raoni Valle, e a palestra da antropóloga Deise Lucy Montardo encerraram, nesta segunda-feira (09), a temporada 2013 da Mostra Amazônia: Cidadania Violentada, do Projeto Cine Museu Amazônico da Ufam, com um caloroso debate, no Instituto de Educação do Amazonas (IEA).

Tendo como referência o filme Mura – Quem ainda somos?Quem já não somos mais?, A palestrante Deise Lucy Montardo destacou a importância da película como documento e registro de um povo que, atualmente, está reduzido a pouco mais de 16 mil pessoas e continua em busca de sua real identidade e formas de sobrevivência. Para tanto, algumas estratégias são desenvolvidas como, por exemplo, o resgate da língua Mura e, ao mesmo tempo, o reconhecimento de sua cultura através dos artefatos arqueológicos. Para além disso, a preocupação com a formação e a organização de sua economia de subsistência, baseada na produção da farinha e plantio pelos próprios moradores de quadras com produtos de primeira necessidade fazem parte também do projeto de preservação da cultura Mura.

Para a professora da Ufam, todas as estratégias são absolutamente válidas. Contudo, cada uma delas apresenta graus de dificuldade diferentes. O resgate da língua e a busca de reconhecer-se por meio dos artefatos arqueológicos, por exemplo, constituem-se em tarefas extremamente difíceis, pois, a língua que hoje o povo Mura fala é, predominantemente, o Nheengatu, que já se constitui num desvio no processo de colonização das várias nações tribais.

Quanto a querer se reconhecer por meio dos artefatos encontrados nos vários sítios arqueológicos próximos às moradias dos Mura se constitui em estudos demorados e muitas vezes conflituosos, pois várias etnias tendem a querer também se reconhecer pelo mesmo artefato arqueológico. Por outro lado, acrescentou a palestrante: “Os Mura, em relação a sua própria nominação, pode perfeitamente ter sido um adjetivo pejorativo imposto por outro grupo tribal, costume rotineiro entre as tribos rivais. Como bem afirmou um dos componentes do povo Mura no filme, quando disse: Nós ter dúvidas sobre o nome que temos: Mura”.

Em relação à preocupação com a busca por educação formal, a professora da Ufam afirma que somente a educação pode elevar o nível de conscientização de um povo sobre si mesmo. Deise Lucy Montardo não tem dúvidas que o conhecimento pode proporcionar não só o resgate da identidade dos povos indígenas como a preservação de sua própria cultura. A antropóloga elogiou o fato de em 2013 ter ocorrido a formatura da primeira turma de graduação da Organização de Professores Indígenas Mura no dia seis de dezembro.

Após as colocações da conferencista, o público constituído em sua maioria por estudantes, sabatinou a palestrante com várias perguntas. Dentre elas, a que mais acalorou o debate foi aquela que se referiu ao “não orgulho do homem brasileiro, sobretudo, do manauense, de se identificar enquanto índio”.

A estudante Adriana Soares, do segundo ano do Ensino Médio, assistiu não só à apresentação da professora Deise Montardo como também às demais exibições da Mostra do Cine Museu Amazônico. Segundo a estudante, o evento proporcionou bastante aprendizado. “A mostra deixou marcas positivas em minha formação na medida em que passei a conhecer várias tramas do processo migratório da Amazônia. Além disso, eu saio da palestra de hoje, com a sensação de orgulho em ser índia. Até porque eu sou de São Gabriel da Cachoeira, e pretendo voltar para minha terra e trabalhar junto às comunidades indígenas e próximo da minha gente”, revelou Adriana Soares.

Para finalizar, a gestora do IEA, Shirley Maria Vieira, e os professores Laerte de Stephano e Maria Izanilde consideraram o ciclo de exibição de filmes e palestras uma contribuição importantíssima tanto para a compreensão dos problemas agudos da Amazônia quanto para a formação do espírito de cidadania de cada estudante da Instituição. De maneira unânime concordaram que o IEA está de portasabertas para a temporada de 2014 do Projeto Cine Museu Amazônico da Ufam”.

Por sua vez, os coordenadores do Projeto, James Araújo e Regina Vasconcellos, em nome da diretora do Museu Amazônico, Maria Helena Ortolan, e da própria Ufam, agradeceram a acolhida do Projeto por parte da direção, coordenação e professores do IEA e, principalmente, dos estudantes, os verdadeiros protagonistas. Agradeceram, ainda, à equipe do Museu Amazônico, aos colaboradores externos, Renan Freitas Pinto e Verônica Gomes, que contribuíram, respectivamente, com a curadoria, produção e design do projeto, e todos que estiveram direta e indiretamente envolvidos para o sucesso do mesmo, em especial, aos palestrantes e aos artistas que deram sua parcela de colaboração em prol da elevação do nível de compreensão das questões sobre a Amazônia e da construção da cidadania.  

Os coordenadores agradeceram também à Editora da Universidade Federal do Amazonas (Edua) pela doação de livros com temática voltada aos estudos da Amazônia, uma vez que as obras fizeram parte dos kits sorteados entre os estudantes e distribuídos entre os palestrantes. Os agradecimentos foram estendidos à Gráfica Universitária pelas impressões das programações do evento.  

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