Pesquisadores da Ufam participam de Workshop que discute mudança da Reserva Duck para área de ocupação

Professores do curso de Geografia participam do workshopProfessores do curso de Geografia participam do workshop

Pesquisadores, representantes da sociedade civil organizada e legisladores da Câmara Municipal de Manaus se reuniram no auditório do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), nesta quarta-feira, 4, para avaliar a eventual mudança de estatus da Reserva Florestal Adolpho Ducke  para área de expansão urbana.

A proposição oriunda da CMM, que revisa o novo Plano Diretor da cidade, suscita a ocupação progressiva da área em virtude da escassez de espaços em que se possa investir em políticas habitacionais e de infraestrutura.

Caso a nova condição seja aprovada, depois de terminado o período de consulta público e avaliação técnica, a Reserva Ducke será o mais novo fragmento urbano da cidade. Seus 100.000 hectares – o equivalente a 100.000 campos de futebol – deixariam de existir como ambiente de pesquisa e de segurança ambiental a inúmeras espécies de animais e vegetais, para ser agente promotor de inúmeras problemáticas, a começar por eventos microclimáticos e ocupações desordenadas.

No workshop “A Reserva Florestal Adolpho Ducke e o Plano Diretor de Manaus”, iniciativa do vereador professor Bibiano, as opiniões uníssonas contrárias à área de expansão foram compartilhadas por pesquisadores do Inpa e da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Para iniciar sua palestra, o professor do Departamento de Geografia da Ufam, Marcos Castro explicou os significados dos processos “zona de expansão” e “zona de transição”, afirmando que o primeiro se refere à preparação de um ambiente para ser ocupado pelo homem progressivamente, ao passo que o de transição seria um eufemismo ao primeiro, uma vez que necessitaria da necessidade de um comitê para julgar as medidas gestoras a serem adotadas na área. Isso, porém, não evitaria que esta área também fosse ocupada paulatinamente.

Reserva Duck no mapa da cidadeReserva Duck no mapa da cidade

“Nós nos posicionamos contrários a essa ocupação por termos como exemplos negativos diversas outras áreas, em Manaus, que eram áreas preservadas e foram sendo ocupadas de forma irregular e sem planejamento, principalmente do Estado. O entorno da Ufam e o Puraquequara são reflexos disso”, enumenrou.

A também professora do departamento de Geografia da Universidade, Adorea Albuquerque, abordou em sua explanação, um estudo de caso sobre o Programa Social e Ambiental dos Igarapés de Manaus (Prosamim), que recebeu recursos de mais de R$ 3 bilhões, inclusive de instituições financeiras internacionais para, segundo ela, não colocar em prática um plano sustentável que minimizaria os efeitos de obras nos leitos de igarapés.

“O que causa toda essa sequência de falhas é a ânsia do estado de executar soluções habitacionais sem respeitar a lei 9.433, de Unidade de Planejamento Ambiental e Territorial. É ela (lei) quem determina a necessidade de preservar as bacias hidrográficas. A Reserva Ducke, serve a duas bacias, sendo assim, elas serão comprometidas”, garantiu.

Pelo Inpa, o professor José Luís Camargo frisou outros danos ambientais, como o desaparecimento de espécies de pássaros de áreas fragmentadas.

“Os mamíferos, como onças e macacos, que dependem de uma área contínua e extensa também tendem a desaparecer. A fragmentação florestal tira a mobilidade animal de muitas espécies”, salientou.

Ele orientou, didaticamente que, com dado dois lados completamente isolados e vizinhos a uma malha urbana “hostil”, deve-se evitar ao máximo isolar as outras duas faces do território da Reserva Ducke.

Parte dos moradores vive há décadas no entorno da ReservaParte dos moradores vive há décadas no entorno da Reserva

“Os dois lados restantes ainda não isolados permitem a mobilidade da fauna loca, incluindo a onça-pintada, a onça-vermelha e o porco-do-mato”, disse.  

A visão dos moradores

Moradores Presentes ao workshop, moradores do entorno da Reserva Ducke se mostraram contrários à extinção do espaço.

José Feitosa, vizinho da Reserva há mais de 35 anos, disse que embora o projeto apresentado ofereça, teoricamente, benesses aos moradores da área, na prática, a expectativa de que elas sejam aplicadas é pequena.

“A Prefeitura fala em levar desenvolvimento para o local, construindo um anel viário, mas a gente sabe que não vai ser assim”, lamentou. 

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