Pesquisadoras da Ufam discutem migração haitiana na Amazônia

As pesquisadoras Kátia Kouto e Márcia Maria de Oliveira abordam linhas de pesquisas que tratam questões da migração haitiana no contexto da imprensa e de gênero na mesa redonda `Migração haitiana na Amazônia´.  Na ocasião, o diretor da editora Adital, o padre Ernano Allegri, faz lançamento do livro “Haiti por si: a reconquista da independência roubada”. O evento ocorreu nesta quinta-feira, 28, no auditório Mário Ipiranga, do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL).

Para a pesquisadora e professora do departamento de História, Kátia Kouto, historicamente, esse evento social não foi o único na História da Amazônia. Segundo ela, antes de ocorrer esse fato, houve outras vertentes migratórias na  trajetória histórica de contato entre a Amazônia e o Caribe. Antes, porém, o processo migratório haitiano ocorria somente para os Estados Unidos da América (EUA) e fatores recentes contribuíram para que esse trajeto  tomasse outra direção, principalmente voltado para o Brasil.

De acordo com a professora Kátia Kouto e membro dos Grupos de Pesquisa em Migração da Amazônia (Gema) e Migração e Africanidade Caribenha e Latino-americana (GMACL), a presença de instituições brasileiras naquele País contribui sensivelmente para desce o inicio da migração ao Brasil. A Igreja e as Organizações Não Governamentais (ONGs) foram as primeiras instituições que mantiveram os primeiros contatos o que possibilitou o fluxo migratório. Historicamente, dentre de uma conjuntura de crise nos grandes centros econômicos, os processos migratórios são revestidos para os países  vizinhos, é o caso do Brasil, explica a pesquisadora.

O desenvolvimento da economia brasileira nos últimos tempos tem intensificado a migração de estrangeiros principalmente fluxos migratórios latinos americanos que encontram no Brasil formas de sobrevivências. A pesquisadora que defende a temática `Trajetórias evidências dos imigrantes haitianos através da impresa”, acredita que os discursos criados pela imprensa foram consequencia da presença dos haitianos em território brasileiro que tem sido repassado com certos estereótipos, impossibilitando a adaptação desses imigrantes haitianos. Para Kouto, isso cria uma imagem negativa.

“Essa construção do discurso negativo está respaldada em objetivos concretos e não surge de forma aleatória, tendo o desdobramento na evidencia de defesa territorial, tramitando com certos poderes locais ou nacionais. Não se trata de um discurso normal aceitável, ao contratrio esses grupos migratórios são considerados economicamente desfavorecidos, por conta de serem utilizados como força de mão de obra barata na construção da economia de vários países. Isso incidiu na America Latina como um todo”, frisa a pesquisadora.

Segundo Kouto, essa força de mão de obra é bastante efetiva, entretanto, quando é revestida ao direito do migrante, ela é desconsiderada.

 A pesquisadora e doutoranda do Pró-Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia, Márcia Maria de Oliveira, que apresenta o trabalho de pesquisa “A migração haitiana na Amazônia à luz dos Estudos de gênero”, disse que a discussão da migração haitiana está em torno do gênero é bem especifica.

Segundo ela, os estudos apontam que as haitianas ao chegarem na Amazônia, geralmente, são mulheres que apresentam um grau de instrução elevado. Muitas delas têm nível superior com formação em diversas  áreas do conhecimento. São enfermeiras, pedagogas, técnicas formadas nas área de saúde, de trabalho, segurança, dentre outras, declara a pesquisadora.

De acordo com a pesquisadora que integra o GEMA, a grande dificuldade dessas mulheres é o reconhecimento do diploma de nível superior ou certificado no Brasil em encontram toda uma exigência burocrática de tradução, tornando esse tipo de serviço caro. Márcia Oliveira justifica que a falta de recursos para ‘bancar’ esse serviço se deve ao fato de um investimento elevado quando se da o processo migratório que demanda recursos voltados exclusivamente para isso.

“Ao chegar na Amazônia, a maioria está desprovida de recursos, sem condições de pagar o valor da revalidação que em media custa R$ 15 mil”, ressalta a pesquisadora.

Por conta disso, as mulheres haitianas estão fadadas ao subemprego, considerada uma categoria de trabalho inferior abaixo de suas formações. Outro fator negativo  apontado pela pesquisadora, são as mães haitianas que vêm acompanhadas dos seus filhos, as quais encontram dificuldades de trabalhar e cuidar das crianças.

Márcia Oliveira conta que a migração haitiana é bastante recente na Amazônia, mas isso não impede para seja foco de investigação. O importante é fazer pesquisa nesse primeiro momento para depois criar possibilidades para avaliar a construção dos processos, completa

Haiti por si: a reconquista da independência roubada

Na ocasião da mesa redonda, o livro ´Haiti por si: a reconquista da independência roubada’ tem lançamento pela editora Adibal, com sede em Fortaleza (CE). De acordo com o diretor da editora Adital, padre Ernano Allegri, a publicação da obra é resultado da reunião de várias reportagens e comentários de jornalistas brasileiros e de haitianos, de professores, de intelectuais e de lideres comunitários haitianos, os quais abordam uma realidade daquele país, após o terremoto de 2010.

“Compreender essa realidade é compreender o sofrimento de um povo que luta contra a pobreza, a exploração, repressão, a destruição da população indígena do começo da colonização americana e a importação da população negra africana como escravos e outras atrocidades históricas” , disse o diretor.

Segundo ele, a academia tem apresentado reciprocidade quando ao lançamento da obra. Na Ufam não foi diferente. “O livro deve ser referencia para pesquisa acadêmica, sobretudo quanto diz respeito ao novo olhar da população local em criar expectativas positivas para a construção do futuro do País”, finaliza o diretor. 

 

 

 

 

 

 

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