Professor da UFAM traduz principal obra do padre luso-brasileiro Antônio Vieira

Professor e as duas obras atribuídas a Antônio VieiraProfessor e as duas obras atribuídas a Antônio Vieira

Estudioso dos escritos Humanistas em latim do século XVI, o professor de Língua Portuguesa do Departamento de Letras da Universidade Federal do Amazonas, o professor português Antônio Guimarães Pinto, participou diretamente da tradução do latim para o português, da obra “Chave dos Profetas”, do maior pregador luso-brasileiro do século XVII, o padre Antônio Vieira.   
“Chave dos Profetas” é parte integrante de 34 volumes publicados pelo selo português Círculo de Leitores. Com o livro, Antônio Vieira pretendia mostrar o cristianismo nas esferas da vida humana: corpo e espírito, homem e sociedade, reino e império, pesando o respeito pelo valor da justiça, da paz universal e da tolerância entre os homens e as nações, de onde emergem os ensinamentos sobre o moderno conceito de comunidade internacional. 
Para dar origem à obra para o qual foi contratato pelos diretores portugueses José Eduardo Franco e Pedro Calafate, o professor teve acesso a manuscritos guardados durante a Inquisição por padres jesuítas, parte em Roma e outra parte na Biblioteca Nacional, de Lisboa. 
Segundo o professor, o padre Antônio Vieira iniciou seus escritos para “Chave dos Profetas” quando tinha próximos dos 40 anos de idade e próximo dos 90, ainda não tinha terminado. Os inquisidores, que já o haviam lhe tirado a liberdade anteriormente por três anos, acreditavam que ele estivesse trabalhando em alguma obra heterodoxa. 
“Ele entregou um texto chamado ‘Obra do Futuro’ para despistar os perseguidores e continuou ditando aos seus secretários o conteúdo do ‘Chave dos Profetas’. Estava cego e não queria morrer sem terminar os textos”, revelou o professor. 
Logo após sua morte, seus secretários conseguiram mandar parte dos manuscritos para o Padre Geral dos Jesuítas, mas outra parte foi apreendida pelos inquisidores, em Roma. 
Dos de Roma, dois manuscritos foram conhecidos e comparados ao de Portugal. Eles apresentavam diferenças entre si, mas nada significativas.
“O interessante é que só um, que foi entregue aos inquisidores, tem um trecho que se salvou da censura. O trecho, que estava riscado, mas podia ser lido, aborda conceitos polêmicos, principalmente em relação à salvação dos índios na outra vida”, adiantou. “Não digo que ele pensava salvar a alma dos índios, mas acreditava que Deus tinha de avaliá-los com base em outros critérios, porque não teriam noção do bem e do mal, diferente do que a igreja prega, de que os seres humanos são todos iguais”, revelou. 
Segundo o professor, há cerca de dois anos, um italiano fez uma primeira transcrição, mas deixou a desejar em seu conteúdo, pois o latim, de acordo com ele, apresentava erros crassos de tradução. 
Depois do lançamento em Portugal, ocorrido no mês de abril, “A Chave dos Profetas”, uma coleção adicional das obras do Padre Antônio Vieira será lançado em São Paulo, com data ainda a confirmar. 
 
Estudos latinistas 
 

Outras obras do professor da UFAMOutras obras do professor da UFAM

Segundo o professor, no Século XVI, as linguagens nacionais não eram prestigiadas como hoje. Luís de Camões, maior poeta da língua, era considerado um mendigo, um “pobre diabo” porque escrevia em português. Apenas aqueles que escreviam em latim, eram tidos como notáveis. Naquele século, houve grandes latinistas. O maior deles, Jerônimo Osório, foi o maior latinista e está entre as personalidades estudadas pelo professor. 
 
Antônio Guimarães Pinto possui graduação em Filologia Clássica pela Universidade de Coimbra (1978), mestrado em Literaturas Clássicas pela Universidade de Coimbra (1995) e doutorado em Ciências da literatura pela Universidade do Minho (2001). Atualmente, ao abrigo de uma bolsa de pós-doutorado, desenvolve trabalhos de pesquisa na Universidade Católica Portuguêsa. A sua atividade centra-se na área de Letras, com ênfase nas Literaturas Clássicas, privilegiando os seguintes temas e autores: literatura novilatina, humanismo português, controvérsia religiosa, Jerónimo Osório, Diogo de Teive, Diogo Paiva de Andrade, André de Resende, António Luís e Erasmo.
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