Cine Museu Amazônico discute massacre do povo Yanomami

Jornalista Elaíze Farias Jornalista Elaíze Farias

Crime ocorrido há 20 anos suscita debate sobre a condição dos povos indígenas no Brasil. Com base no documentário “Davi contra Golias”, que registra o massacre de índios yanomami, participantes conhecem os conflitos de interesse em torno da temática.

A película de Brasil Caim, produzida em 1993, apresenta o relato dos índios Yanomami da comunidade Haximu sobre o assassinato de 16 de seus membros por garimpeiros que atuavam naquela área. “Desde que os garimpeiros chegaram nossa vida virou uma confusão”, declara, no filme, Davi Koenawa, então líder dos Yanomami. Além da versão dos próprios indígenas, o documentário expõe ainda a repercussão do caso na mídia nacional e internacional.

Após a exibição, a jornalista Elaíze Farias conduziu o debate acerca da questão indígena na Amazônia e no Brasil. Entre outros aspectos, Elaíze destacou a importância da reflexão crítica acerca do acontecimento em Haximu. “Já se passaram 20 anos desde o massacre, mas o conflito entre índios e garimpeiros continua até hoje”, afirma a jornalista que recentemente escreveu sobre o retorno de até 80% dos garimpeiros para aquela área.

A jornalista revelou a possibilidade de novos confrontos acontecerem em razão da ausência de medidas efetivas para resolver o problema. “Os índios estão se preparando para retaliações”, disse. Elaíze abordou ainda o tema sob a perspectiva do meio ambiente. Segundo ela, a contaminação da água com mercúrio e o desmatamento causado pela ação de mineradoras são bastante preocupantes.

Professora Maria Helena OrtolanProfessora Maria Helena Ortolan

Para a diretora do Museu Amazônico, professora Maria Helena Hortolan, o objetivo do Cine Museu Amazônia ao exibir filmes como “Davi contra Golias” é proporcionar a reflexão sobre os fatos que marcaram a história da região Norte. “O encontro é a oportunidade de trazer não só cineastas, professores, jornalistas e pesquisadores, mas, principalmente, a comunidade amazônida para refletir sua própria história, e mais, refleti-la no contemporâneo, vendo que aquilo que ficou documentado no passado se repercute no presente”, declara a diretora.

A jornalista Elaíze Farias descreveu a atividade como uma maneira de despertar o senso crítico dos participantes e incentivá-los a obter mais conhecimento sobre a temática abordada. “É uma maneira de desconstruir a informação passada nas escolas. Às vezes, aprendemos de forma muito estereotipada sobre os povos indígenas. É importante debater esses temas e, mais ainda, com pessoas tão jovens. É uma forma de provocação para eles também, para que busquem mais informações e tenham mais respeito por aqueles povos”, frisou.

Lucas Braga de Melo, 17, estudante do 2º ano do Ensino Médio do Instituto de Educação do Amazonas (IEA) participou do evento. De acordo com ele, o documentário foi muito impactante e o debate permitiu esclarecer mais o assunto. “Fiquei comovido com a situação dos indígenas yanomami. Eu não sabia que isso tinha acontecido. Para nós, que não vivemos esses fatos, é muito importante participar de momentos como esse. É uma chance de resgatar a nossa história. A sociedade precisa dar mais valor a essas populações, respeitá-las. E o governo deve criar projetos para ajudá-los”, disse o estudante.

Jamis Araújo - idealizador do Cine Museu AmazônicoJamis Araújo - idealizador do Cine Museu Amazônico

Segundo um dos coordenadores e idealizadores do projeto Cine Museu Amazônico, o técnico administrativo em educação Jamis Araújo, a ideia surgiu de um projeto anterior, mas cujo foco estava na visão dos diretores dos filmes sobre a Amazônia. “Na mostra “Amazônia - Cidadania Violentada” selecionamos filmes que mostram como estão sendo implementados o desenvolvimento e a ocupação do território da Amazônia”, afirmou. Sobre a presença do público, Jamis comemora: “O retorno está sendo extremamente positivo porque há o envolvimento concreto dos alunos, dos professores e da sociedade. Há pessoas que não são do colégio e vêm tão somente para assistir à programação. Isto é muito gratificante”, disse.

 

 

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