Ufam e parceiros levam esperança à população da calha do Rio Madeira por meio do Programa Oftalmologia Humanitária
Da esquerda para a direita - Médicos Walton Nosé, Jacob Cohen e Rubens Belfort. Ao centro, secretário municipal de Saúde Cleomar ScandolaraA ideia de levar cidadania e qualidade de vida para a população do interior do Amazonas, por meio de atendimento oftalmológico de alto nível, existe há mais de 30 anos, fruto de uma parceria entre médicos conhecedores da carência das pessoas que vivem longe dos grandes centros urbanos. Tendo percorrido mais de 20 municípios, em alguns mais de uma vez, o projeto cresceu com o apoio de instituições públicas e privadas do Brasil e do exterior. E nos dias 13 e 14 de abril de 2019, o ‘Oftalmologia Humanitária’, programa de extensão da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), realizou 108 cirurgias de catarata e dez de pterígio (crescimento de tecido na córnea) e distribuiu cerca de mil óculos na cidade de Humaitá.
Esse foi só o primeiro dos cinco municípios da calha do Rio Madeira a serem atendidos nesta missão humanitária no interior da Amazônia. Ainda na noite de domingo, 14, médicos voluntários e representantes das empresas parceiras partiram no navio da Marinha para dar continuidade aos atendimentos nas cidades de Manicoré, Novo Aripuanã, Borba e Nova Olinda do Norte, onde será finalizada esta edição da atividade, em 21 de abril. A expectativa, ao fim dos trabalhos, é realizar até 500 cirurgias e entregar cinco mil óculos.
Os números do projeto surpreendem, afinal, já são mais de 30 mil pessoas atendidas com assistência especializada e prescrição de medicamentos, doação de mais de 20 mil lupas para perto e intervenções cirúrgicas que superam os dez mil. Vice-reitor da Ufam e coordenador do programa, o professor Jacob Cohen ressalta a importância da iniciativa para essas populações, cuja demanda por especialistas é crescente. “A situação se agrava ainda mais por conta da exposição contínua aos raios ultravioleta nesta região. Além disso, devido ao abandono, muitas pessoas convivem com a doença durante cinco, oito, dez anos”, avalia o professor Cohen, quanto à incidência da catarata na população do interior do Amazonas.
Francisco Gomes da Silva, operado aos 78, planeja voltar ao trabalho na roçaFrancisco Gomes da Silva, aposentado de 78 anos, teve a oportunidade de voltar a enxergar depois de 13 anos de perda de visão evoluindo de uma catarata nigra, o tipo mais duro e de difícil remoção. "Ela começou um pouco fraquinha, só embaçando a minha vista, mas depois foi piorando. Foi quando eu vim pra Humaitá. Aqui me ensinaram muitas receitas de remédio caseiro, mas fez foi piorar, aí eu tive que parar de trabalhar desde 2014. Eu vim morar com o meu filho, mas eu não tinha quem me ajudasse a fazer as minhas coisas. E hoje eu saio com muito alívio no coração, porque eu já consigo ver as coisas melhor. Eu estou tão feliz de poder voltar para a minha casa, em Boa Vista do Madeira. Quando eu chegar lá, vou plantar roça e plantar banana também. Vou voltar a fazer as coisas que eu gosto nessa vida”, comemora ele.
Felicidade em igual medida sentiu a costureira Eluiza Nunes Góes, que, aos 66 anos, já faz planos de voltar ao ofício. Ela recebeu um par de óculos de grau 3,5, doado pela empresa Lupas Leitor, parceira nessa missão desde 2014. “Eu costuro há uns 40 anos, e eu já uso óculos desde os vinte e seis anos. Os óculos que eu tenho em casa não está servindo mais para eu fazer as minhas costuras e eu ainda não tive condições de fazer um particular. Fiquei sabendo que tinha esta doação pelo meu irmão, que conseguiu óculos, e vim ver se eu conseguia. Agora, eu vou conseguir costurar melhor”, prospectou Eluiza.
A distribuição dos óculos só foi possível após a adesão da Lupas Leitor ao projeto, ainda no ano de 2014. Desde então, Jean e Ana Jankovsky têm acompanhado as missões ao interior do Amazonas. Juntos, eles coordenam a distribuição de cerca de cinco mil lupas para perto a cada viagem, o que ajuda a amenizar o cansaço da visão, mais comum pela falta de proteção dos olhos contra a luz solar direta, como é aqui nesta região. “A perda de visão de perto atinge cerca de 50% da população a partir dos 40 anos. E é uma tecnologia muito simples, porque a visão cansada é algo que pode acontecer naturalmente pela idade”, explica Jean Jankovsky.
Parcerias & resultados
Não há dúvidas de que o binômio know how dos profissionais e qualidade técnica dos equipamentos é o segredo para o sucesso da operação ao longo desses anos. A equipe médica que atua nesta edição é composta pelos oftalmologistas Lincoln Freitas, Marcos Cohen, Walton Nosé, Ricardo Nosé, Bárbara Clemente e Fernando Drudi, e pelos anestesistas Lenilson Moreira Filho e Gustavo Saraiva. Os especialistas atuam nas seguintes instituições, parceiras do programa Oftalmologia Humanitária: Fundação Piedade Cohen (Fundapi), Instituto da Visão (Ipepo), Universidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina (Unifesp/EPM) e Eye Clinic.
Costureira, Eluiza Nunes Góes, 66, ganhou um óculos para perto de grau 3.5“Tem quase dez anos que eu participo do projeto e a minha função é operar. Sou cirurgião oftalmológico que faço tanto as cirurgias de catarata quanto as de pterígio. E nós usamos tecnologia que está disponível nos melhores centros do mundo”, explica o médico. “Todos os médicos vieram voluntariamente na missão de ajudar a pessoas que estão precisando. A gente já realizou milhares de cirurgias e, em todas as expedições de que eu participei tivemos resultados excelentes, tanto para a população quanto cirurgicamente”, afirma o médico Ricardo Nosé, da EPM e Eye Clinic, cujo pai, professor Walton Nosé, é um dos entusiastas do projeto desde o fim dos anos 1980, ao lado dos professores Jacob Cohen e Rubens Belfort Jr.
Parcerias promissoras
A Marinha do Brasil, cuja adesão ao programa ocorreu em 2017, por meio da Sociedade Amigos da Marinha (Soamar), hoje tem um papel fundamental no programa, garantindo a segurança da operação e o transporte de equipamentos e insumos utilizados nas cirurgias e das lupas para doação, estas fornecidas pela Lupas Leitor. “Nesta comissão, a Marinha, por meio do navio de assistência hospitalar Soares de Meirelles, além de fazer diversos atendimentos básicos de saúde, apoia na triagem para as cirurgias, na distribuição dos óculos e também na logística, transportando os médicos para os municípios atendidos. Esta é a terceira vez que integramos esse programa, que é muito importante para a sociedade local”, resumiu o vice-almirante Paulo César Colmenero Lopes, comandante do 9º Distrito Naval.
Atuando pela primeira vez na missão, a Johnson & Johnson ficou responsável pelo suporte técnico de equipamentos e materiais utilizados nos procedimentos cirúrgicos. “Abraçamos este projeto por entender que as pessoas que serão beneficiadas não têm a assistência de que necessitam na área oftalmológica. Então, a empresa está fornecendo todo o aparato de equipamento, de lente intraocular e os insumos cirúrgicos para que os médicos possam fazer todos os exames e, para aquelas pessoas que precisam da cirurgia, já saírem daqui operadas da catarata. Esse procedimento cirúrgico está bem evoluído, e as lentes dobráveis são introduzidas no olho através de micro incisões. Dessa forma, a população tem acesso ao que há de mais moderno na área da cirurgia oftalmológica”, explica o engenheiro Márcio Messias, que prestou todo o suporte na montagem e na preparação dos equipamentos.
Ufam comemora seus 110 anos com extensa e variada programação ao longo de 2019
Uma Universidade amazônica repleta de pessoas, sonhos, árvores e bichos em quase seis milhões de metros quadrados. Se hoje impressiona imaginar um lugar assim, mais nobre ainda é comemorar, neste dia 17 de janeiro de 2019, os 110 anos da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), a mais antiga do Brasil, segundo registro no Livro dos Recordes. Uma extensa programação – que inclui arte, ciência, cultura, esporte e muito mais – será realizada ao longo do ano, dando a conhecer as antigas e atuais conquistas da Ufam.
Sempre atualizada na missão de cultivar o saber em todas as áreas do conhecimento por meio do ensino, da pesquisa e da extensão, desde 1909, a então Escola Universitária Livre de Manáos contribui para formar cidadãos e desenvolver a Amazônia. Centenária, a Instituição olha para o futuro ao estabelecer como principal meta a excelência na formação superior, na produção científica e no desenvolvimento social.
Em mensagem à comunidade acadêmica, o reitor, professor Sylvio Puga, homenageia e reconhece o empenho de gerações de professores, técnico-administrativos e discentes em prol de um ideal maior. “Em nome de toda a Administração Superior, eu gostaria de parabenizar cada um dos membros da nossa comunidade universitária. A cada ano, o esforço de todos – sem exceção – é o que nos qualifica e o que nos faz avançar na história da Universidade”, diz.
“Eu quero deixar o nosso agradecimento a todos aqueles que construíram a nossa Universidade, desde o primeiro momento, e a todos os que, atualmente, continuam a erguer a nossa Instituição a partir dos ideais de Eulálio Chaves e de todos aqueles que sonharam em fazer uma universidade na Amazônia”, declara o professor Sylvio Puga.
Reconhecimento
Contando com mais de mil e setecentos professores de carreira, mil e seiscentos técnico-administrativos em Educação e mais de 40 mil estudantes nas diversas modalidades de formação, a Ufam oferece 118 cursos de graduação e outros 61 de pós-graduação. As atividades são desenvolvidas tanto na capital quanto em cinco campi estrategicamente instalados nos municípios de Benjamin Constant, Coari, Humaitá, Itacoatiara e Parintins.
Nas palavras do diretor do Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia (ICSEZ-Parintins), professor José Luiz Fonseca, completar 110 anos é “pertencer à História de uma nação e do mundo, verdadeiro marco na vida e na história do povo do Amazonas”. “Nos 11 anos em que este instituto atua como Unidade permanente da UFAM em Parintins, o mesmo tem prestado relevantes serviços à comunidade amazonense, principalmente aos que vivem no interior do Amazonas, que tiveram a oportunidade de ver seus filhos e demais integrantes de seus familiares, frequentar curso de ensino superior em uma universidade com qualidade amplamente reconhecida”, analisa o docente.
Para a coordenadora acadêmica do Instituto de Saúde e Biotecnologia (ISB-Coari), professora Tânia Custódia, é expressiva a transformação proporcionada pela presença da Ufam no interior do Amazonas. “Atuo no Instituto desde a implantação, em 2006. Nesse período, não há dúvida sobre o fortalecimento da ciência, da educação e da pesquisa onde há unidades acadêmicas. Centenas de profissionais já foram entregues e hoje atuam no Médio e no Alto Solimões como pesquisadores, licenciados e profissionais da saúde”, sustenta a gestora.
A formação de nutricionistas, por exemplo, só é ofertada no ISB. Segundo a professora Tânia Custódia, esses profissionais ganham espaço não apenas nos hospitais daquela mesorregião, mas nas Unidades Básicas de Saúde (USB) e nas escolas. “A taxa de mortandade infantil reduziu muito nesse período, assim como a qualidade da formação escolar, pela atuação dos egressos dos cursos de licenciatura”, destaca a coordenadora acadêmica do Instituto.
O Instituto de Educação, Agronomia e Ambiente (IEAA-Humaitá), implantado no Sul do Amazonas, está inserido numa área de transição de biomas e fronteira agrícola. Há quase 13 anos, oferta os bacharelados em Agronomia e Engenharia Ambiental, além de quatro licenciaturas e dois mestrados. Segundo a diretora da Unidade, professora Ana Cláudia Nogueira, a presença da Ufam “mudou a cara do município e também das calhas dos rios Madeira e Purus, com mais de dez cidades atendidas”.
Instituto de Ciências Sociais, Educação e Zootecnia (ICSEZ-Parintins), um dos cinco campi fora da sede
“Um dos nossos objetivos, quando da implantação da Unidade, era o de formar um quadro qualificado com pessoas desta região, e hoje isso já é uma realidade”, afirma a diretora. Dos professores de carreira do IEAA, seis são egressos do Instituto; enquanto o quadro de TAE conta com outros cinco ex-alunos. “Ficamos muito felizes ao constatar as transformações por que a cidade passou, seja pelo fortalecimento da economia, seja pela melhoria dos índices locais, mais uma oportunidade que se trouxe para o interior”, comemora a também egressa da Ufam.
Ao parabenizar a Universidade, o diretor do Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia (ICET-Itacoatiara), professor Jorge Kanda, diz que há diferentes maneiras pelas quais a Ufam se mostra indispensável para o Amazonas. “Diversos profissionais que atuam em órgãos públicos ou empresas privadas localizadas no Estado tiveram sua formação acadêmica conosco, e essa realidade reflete o quão importante e valorosa é a nossa instituição para a sociedade”, resume o gestor.
“Ao se expandir para o interior, na década passada, a Instituição permitiu que muitas famílias com baixa renda per capita realizassem o sonho de ter um familiar matriculado em curso superior de uma universidade federal, renovando a esperança de um futuro promissor. A contratação de centenas de servidores (técnicos administrativos e professores) e a concessão de auxílios financeiros aos alunos são iniciativas igualmente importantes”, frisa o professor Jorge Kanda.
Com tal estrutura, a única universidade federal localizada no Amazonas, até o momento, atende a mais de 50 municípios do interior, ao mesmo tempo em que mantém mais de 170 parcerias com instituições estrangeiras de ensino, pesquisa e desenvolvimento. “Nosso objetivo é tanto fortalecer a identidade regional quanto buscar o reconhecimento internacional pela atuação de nossos pesquisadores, discentes e docentes”, prospecta o reitor.
Com toda essa bagagem, a Ufam tem sido cada vez mais prestigiada por instituições públicas e privadas das quais é parceira frequente. Tanto a Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas (ALE-AM) quanto a Câmara Municipal de Manaus (CMM) devem organizar sessões especiais em alusão ao aniversário da Universidade ao longo deste ano. O Teatro Amazonas também será palco para uma das ações comemorativas.
Programação
Para fazer jus à data, diversos setores da Universidade preparam um calendário anual alusivo aos seus 110 anos. A Pró-Reitoria de Extensão (Proext) organizará um Festival Universitário de Música (FUM), enquanto a Faculdade de Artes (Faartes), com o apoio dos museus, ficará responsável pela Exposição Fotográfica Itinerante e o Programa Universidade Campeã prepara um conjunto de atividades desportivas, como uma Corrida Comemorativa de Aniversário.
“Este ano, faremos a corrida do aniversário da Ufam, da qual poderão participar toda a comunidade acadêmica e a sociedade”, detalha o professor Gilmar Couto, responsável pela organização da atividade. “Vamos trazer para o campus pessoas que talvez nem conheçam ainda como é aqui”, declara o professor Couto, que também organiza várias edições do projeto Villa Ludos, com enfoque em jogos de tabuleiro.Calouros se reúnem no setor sul da Universidade, em 1992. Foto: Juscelino Simões
A Editora Universitária (Edua), firme na missão de promover e propagar o conhecimento científico produzido na Ufam, consolida importantes projetos em 2019, a exemplo do lançamento de livros com o Selo Edua, que amplia o acesso ao mesmo tempo em que assegura a qualidade das obras digitais. “Tão fundamental quanto compreender o contexto amazônico é estudá-lo e fornecer subsídios acadêmicos para incentivar a pesquisa na maior floresta tropical do planeta”, afirma o diretor da Edua, professor Sérgio Freire, ao resumir o papel da Editora neste contexto de mudanças.
"A ideia é lançar 30 livros físicos com o selo dos 110 anos e pelo menos outras 30 obras com o selo digital, os quais serão inseridos no Repositório Institucional", adianta o diretor. Ele especifica que, em sua grande parte, serão publicadas teses, dissertações e até memoriais de professores titulares. "Entendemos que os memoriais trazem um pouco da história da própria Universidade, por meio da trajetória dos seus professores, motivo pelo qual queremos fazer esse registro", conclui o docente.
Acompanhando as comemorações dos 110 anos, o titular da Proext, professor Ricardo Bessa, informa que, em março deste ano, será realizada uma recepção dos calouros. De acordo com o pró-reitor, simultaneamente ao evento, será inaugurada a Loja da Ufam, com produtos com a marca da Instituição, como adesivos para carro, garrafas para água, copos, agendas, camisas, dentre outros. Conforme explica o professor Ricardo Bessa, a venda de produtos com a marca da Ufam é um procedimento que ocorre em outras instituições de ensino superior, no Brasil e no exterior. "Quando o estudante ingressa no ambiente acadêmico, ele se sente orgulhoso de sua aprovação e quer mostrar que faz parte da comunidade Universitária", esclarece o docente.
Outra atividade em destaque, prevista para o primeiro semestre de 2019, é o Festival Universitário de Música (FUM), que terá a participação de toda a comunidade universitária. Segundo o pró-reitor, o festival permitirá a valorização de obras com temáticas voltadas para a realidade amazônica em seus vários estilos, bem como dar visibilidade aos talentos universitários. "A organização do Festival Universitário de Musica é uma retomada da atual Administração Superior. E uma atividade importante para Universidade, que dá exemplo como produtora de conhecimento e também como disseminadora da cultura", finaliza o pró-reitor.
Ata de aprovação dos Estatutos da Escola Universitária Livre de Manáos - 1909
Antigo prédio da Faculdade de Direito - 1984
Novo Bloco de Anatomia atende dois mil alunos de nove cursos da Ufam
Com área total de mais de 500 metros quadrados, o bloco possui três laboratórios e uma sala de conservação, além de outros 11 recintos