Neai aborda reflexões sobre conhecimentos e práticas indígenas além dos contextos “tradicionais”, na sexta-feira (5)

O Núcleo de Estudos da Amazônia Indígena da Ufam realiza na próxima sexta-feira (5) mais um Seminário de Pesquisa, desta vez com a participação de dois pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que juntos irão abordar reflexões sobre conhecimentos e práticas indígenas além dos contextos 'tradicionais', através de exposições. O Seminário inicia às 14h, na Sala 12 do Neai, localizada na Faculdade de Direito (FD), setor Norte do Campus Universitário da Ufam, senador Arthur Virgílio Filho.

Sobre as exposições

O tema do seminário será apresentado, através de exposições, pelos pesquisadores Tiago Coutinho e Nina Vincent, ambos do Núcleo de Arte, Imagem e Pesquisa Etnológica (Naipe), coordenado pela professora Els Lagrou, do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais (Ifcs) da Ufrj. Os palestrantes apresentarão pesquisas realizadas em Paris e no Rio de Janeiro:

Nina Vincent – a pesquisadora irá apresentar para o público uma analise da exposição “Maori. Seus tesouros têm alma” apresentada no museu do quai Branly, em Paris, França, no período de setembro de 2011 a janeiro de 2012, fruto do seu trabalho de dissertação. A exposição apresentou a cultura e a arte dos Maori, povo indígena da Nova Zelândia, e foi a primeira experiência de “curadoria nativa” realizada na instituição, que culminou com o repatriamento para a Nova Zelândia de vinte crânios mumificados maori que pertenciam a coleções de museus franceses.

A exposição marca o encontro do Museu Te Papa Tongarewa, da Nova Zelândia, que preconiza controle nativo sobre os objetos levados para Europa por colonizadores, e o Museu do quai Branly, um museu de “arte etnográfica”, herdeiro de coleções coloniais e de uma visão universalista de culturas e de suas produções artísticas.

Partindo de descrição etnográfica e análise estética, Nina explorou o processo de atribuição de agência a uma exposição, através da atividade curatorial. Para tanto, foram relacionados elementos visuais e discursivos presentes na exposição e mobilizados para sua realização, explicitando o papel desempenhado por ela no discurso de “diálogo entre culturas” proposto pela instituição francesa. São trazidos contrapontos encontrados nas propostas curatoriais de outras exposições temporárias da mesma instituição e de sua exposição permanente, revelando o protagonismo do curador – que assume formas variadas, mais ou menos explicitadas – como principal mediador entre público e construções culturais traduzidas esteticamente.

"Paris, Maori: O Museu e seus outros" ganhou o prêmio de melhor dissertação pela Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Ciências Sociais(Anpocs) em 2014. Nina é mestre e doutoranda pela Ufrj.

Tiago Coutinho – com início em situações reais de interações vivenciadas ao longo dos quatro anos de pesquisa de campo, que teve como objeto um ritual terapêutico de consumo de ayahuasca conduzido por dois jovens pajés Kaxinawa na cidade do Rio de Janeiro, o principal objetivo da exposição de Tiago é propor uma discussão sobre as compatibilidades equívocas que tornam possíveis a interação de índios e brancos em um contexto de consumo urbano de ayahuasca.

Apresentando alguns contextos interativos que ultrapassam até mesmo o eixo espaço-temporal do rito, foi explorada a sensação de mútua compreensão que acontece graças ao “efeito sinônimo” (synonymy effect) que coloca, por exemplo, espíritos e seres mitológicos no mesmo patamar de estados psicológicos e sentimentais, criando um continum metafórico entre os envolvidos na comunicação. Os dados etnográficos coletados durante o período do trabalho de campo sugerem que os ritos urbanos do Nixi Pae exploram as compatibilidades equívocas entre dois termos que dão origem à comunicação em jogo: Yube e o inconsciente. Tiago Coutinho é mestre e doutor pela Ufrj, e pós-doutorando na Fiocruz. 

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