Mostra do “Cinema Alemão Atual” em exibição no Cine & Vídeo Tarumã, nos dias 21, 23 e 25
Marcado pelas características históricas de seu país desde a Primeira Guerra Mundial, o cinema alemão tem laços sentimentais com conflitos. Na verdade, uma relação direta com as crises provocadas pelos conflitos mundiais. Reflexo desse primeiro grande conflito bélico foi vivido com profundidade nos anos 1920 pelo Movimento Expressionista de Cinema do qual se notabilizaram cineastas do peso de Friedrich Murnau, Fritz Lang e Robert Wiene, com uma maneira diferente de fazer cinema (mudo), em tons sombrios, distorções de imagem e personagens bizarros.
Mais tarde, sob domínio de Hitler, o cinema alemão entrou num grande sono hibernal. Só retornaria ao patamar de um cinema-referência com o Manifesto de Oberhausen em 1962, quando 26 novos cineastas exigiram mudanças na cinematografia alemã afetada pela crise pós-II Guerra Mundial. Estava dado o passo fundamental para o que ficou conhecido como Novo Cinema Alemão nas décadas de 1960 e 1970. Os filmes deveriam contar histórias que tratassem de pessoas “reais” das ruas e filmados em locações originais. O grande exemplo era a Nouvelle Vague francesa e as revoltas estudantis. Desse movimento são referência Alexander Kluge, Rainer Fassbinder, Wim Wenders e Werner Herzog.
Há pouco mais de uma década, a vitalidade do cinema alemão voltou a ser reconhecida por um grupo de cineastas independentes, com uma perspectiva crítica e fortemente autoral. Este legado para o cinema contemporâneo alimenta os cineastas de recolocar questões históricas e atuais da sociedade germânica, agora com contornos diferentes dos códigos convencionais do cinema hollywoodiano, esteticamente ousados e tematicamente complexos. Com esta intenção de mostrar um pouco dessa nova tendência, mas com matizes mais brandos, o Cine & Video Tarumã, da Ufam, selecionou três filmes: Hannah Arendt, de Margarethe Von Trotta, A Alegria de Emma, de Sven Taddicken, e Barbara, de Christian Petzold.
Dia 21, segunda feira, o filme a ser exibido é Hannah Arendt, de Margarethe Von Trotta, uma das remanescentes do Cinema Novo Alemão. O filme mostra uma etapa da vida da filósofa e cientista social , defensora da política e da liberdade Hannah Arendt. Hannah (Barbara Sukowa) e seu marido Heinrich (Axel Milberg), judeus alemães, chegam aos Estados Unidos como refugiados de um campo de concentração nazista na França. Para ela a América dos anos 50 é um sonho e se torna ainda mais interessante quando surge a oportunidade dela cobrir o julgamento do nazista Adolf Eichmann para a “The New Yorker”. Ela viaja até Israel e na volta escreve todas as suas impressões e o que aconteceu; a revista separa tudo em 5 artigos. Começa aí o verdadeiro drama de Hannah: ao mostrar, em seus artigos, que nem todos que praticaram os crimes de guerra eram monstros, relata ainda o envolvimento de alguns judeus que ajudaram na matança dos seus iguais. A sociedade se volta contra ela e a revista, e as críticas são tão fortes que até mesmo seus amigos mais próximos se assustam. Em nenhum momento, porém, Hannah pensa em voltar atrás - mantem sempre a mesma posição, ainda que com todo mundo contra ela. O filme, de 2012, foi vencedor de 5 prêmios em festivais alemães, destacando-se a interpretação de Sukowa, além de 13 indicações.
Quarta feira, 23, será a vez de A Alegria de Emma, de Sven Taddicken, de 2006. Emma Struwe (Jördis Triebel) é uma solitária e endividada criadora de porcos no interior da Alemanha. Ela comanda a fazenda que herdou da família e é conhecida na cidade por sua personalidade difícil e pela maneira peculiar como cuida dos animais. Tudo muda em sua vida quando um carro de luxo aterrissa literalmente em seu quintal no meio da noite. Dentro dele ela encontra Max Bien (Jürgen Vogel) e uma grande quantia de dinheiro, mas o misterioso acontecimento logo chama a atenção de Henner (Hinnerk Schönemann), policial apaixonado por Emma. No entanto, esse encontro mudará o destino dos dois. Esta comédia dramática foi vencedora de 13 prêmios em festivais europeus e só tardiamente chegou ao Brasil.
Fechando a programação, na sexta feira, 25, será apresentado o filme Barbara, de Christian Petzold. A trama gira em torno do verão de 1980. Barbara (Nina Hoss) é cirurgiã pediátrica em um hospital a leste de Berlim. Quando as autoridades desconfiam que ela deseja passar para o lado oriental da cidade, ela é transferida para uma pequena clínica no interior, em um vilarejo isolado. Enquanto seu amante, Jörg, que vive em Berlim oriental, prepara a sua fuga, Barbara começa a receber grande atenção do chefe do hospital, André (Ronald Zehrfeld). Será que este homem está apaixonado por ela ou apenas espionando seus atos para o governo? Este drama de 2012, um tanto seco e frio, mas igualmente inteligente e perverso, foi vencedor de 10 prêmios, dentre eles o de Melhor Diretor no Festival de Berlim, além de 16 outras indicações.
O projeto Cine & Vídeo Tarumã é uma atividade de extensão do Departamento de Comunicação Social da Ufam, com as sessões acontecendo sempre às 12h30, no Auditório Rio Negro, do Instituto de Ciências Humanas e Letras, localizado no Setor Norte do Campus Universitário. As sessões são gratuitas e recebem o apoio cultural da Take Video Locadora.