Ufam assina Carta com parceiros nacionais e internacionais para tornar Humaitá a Capital Ambiental do Amazonas
“Este é um projeto ousado. Mas, ou nós ousamos, ou não avançamos", argumenta o pró-reitor de Extensão da Universidade Federal do Amazonas (Ufam), professor Ricardo Bessa, referindo-se ao projeto organizado em parceria com entidades públicas e privadas do Brasil, da França e do Japão. A Carta de Humaitá é o documento assinado pelos parceiros que resume os objetivos do grupo: transformar aquela cidade, 697 km distante de Manaus, na capital ambiental do Amazonas. Isso será possível, segundo o professor, pela implantação de nove ações estratégicas aplicadas em curto, médio ou longo prazo.
A Carta foi assinada no último dia 25, durante evento da Pró-Reitoria de Extensão (Proext) e denominado ‘Diálogos e Soluções possíveis – Educação Ambiental, Urbanização e Sustentabilidade’. Além da Universidade anfitriã, firmaram o acordo o representante do Instituto Soka Cepeam [Centro de Projetos e Estudos Ambientais do Amazonas], Miguel Shiratori; a coordenadora de coordenadora de Tecnologia Social do Instituto de Pesquisas da Amazônia (Inpa), professora Denise Gutierrez; a diretora do Instituto Federal do Amazonas (Ifam), professora Aline Penha; a representante da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), professora Beatriz Furtado; o secretário municipal de Meio Ambiente, Airton Brissow; além da Companhia Ambiental do Estado de São Paulo, na pessoa da Cinthia Okamura, o presidente da Câmara Municipal de Humaitá (AM), vereador Alexandre Perote e o governo do Estado do Amazonas, bem como o representante do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França. Jaques Lolive.
“Nós discutimos durante dois dias num seminário internacional em Humaitá um projeto de transformação urbana e ambiental da cidade. A ideia é trabalhar na cidade um grande projeto capaz de melhorar o índice de desenvolvimento humano do município, que hoje está em 0.605 pontos. É um IDH razoável, mas a ideia é tentar elevar esse índice de Humaitá como um projeto piloto. Dando certo lá, nós vamos estender para outras cidades do interior”, planeja o professor Ricardo Bessa, ao elencar as metas ambientais para a cidade pelos próximos anos.
Um dos pontos de destaque é a coleta seletiva e a reciclagem do lixo para eliminar o lixão que ainda persiste na paisagem de Humaitá. “O lixo está atormentando a população. Ele polui o rio Madeira, atrai animais... Inclusive, o grande número de urubus impossibilitou o funcionamento do aeroporto da cidade. Isso acaba impedindo o progresso, pois dificulta a chegada de turistas e afasta o investimento nessa vertente do turismo ambiental”, argumenta o gestor da Proext, representante da Ufam que firmou a Carta de Humaitá.
Outro viés do projeto é a criação de um banco de sementes com um controle digital para valorizar as espécies nativas, como o oitizeiro. Ainda segundo o professor, serão criadas as ciclovias verdes, e será incentivado o uso da motocicleta elétrica. “Retomamos as tratativas com o Instituto Soka Cepeam para levar adiante ações estratégicas, como o banco de sementes, por exemplo. Tiramos a ideia do papel e estamos numa parceria fantástica para a geração de emprego e renda”, comemora o docente.
Em nove passos
Conforme o texto norteador da palestra ocorrida no último dia 25 de abril, já foram detectados os principais entraves para o desenvolvimento de Humaitá. A partir desse diagnóstico, feito no âmbito do Planejamento Estratégico para o Desenvolvimento Regional Autossustentável (Pedras), foram elaboradas propostas concretas de soluções capazes de, além de remediar os problemas, criar oportunidades de emprego, renda e qualidade de vida.
Para efetivar essas ações, é preciso estabelecer um programa arrojado, que “1. Inicie com a inclusão da disciplina Educação Ambiental nas escolas de Educação Infantil, do Ensino Fundamental e Médio; 2. Desenvolva campanhas educativas nos bairros, nas igrejas, nos logradouros públicos e hospitais; 3. Estabeleça uma legislação rígida, com a inclusão de multas e sanções àqueles que jogarem lixo nos rios e nas ruas; 4. Crie a Polícia Ambiental do Município; 5. Implante dois depósitos em cada esquina de rua para o acondicionamento do lixo orgânico (molhado) e do lixo inorgânico (seco); 6. Crie um banco de sementes em parceria com a Fundação Soka, visando a produção de mudas de plantas regionais; 7. Construa uma usina de compostagem para a produção de adubo orgânico; 8. Crie a Associação dos Catadores de Lixo e Materiais Recicláveis (Acalmar – Humaitá); e 9. Crie uma proteção ambiental através do Programa Amazônia – Coração do Planeta”. Essas ações devem ser efetivadas nos próximos anos, conforme o texto norteador da palestra “A Cidade em Nossas Mãos”.
Carta de Humaitá
Já especificamente em relação ao documento-síntese, denominado Carta de Humaitá, este foi assinado pelos parceiros cuja participação fora articulada por tratativas da própria Ufam. “Nós procuramos e sensibilizamos essas entidades, apresentamos nosso projeto e aglutinamos todos em torno dos objetivos comuns”, reitera o pró-reitor de Extensão.
Eis um trecho da Carta: “Não há como pensarmos no nosso futuro comum e, portanto, na existência e persistência da vida sem uma profunda mudança das visões e valores do que é proposto atualmente. Cientes da gravidade do quadro atual e das necessidades de respostas frente ao exposto, faz-se necessário a ampliação normativa e a implementação da educação ambiental em todas as etapas de formação do cidadão, de modo que os valores emancipatórios possam criar as condições para um novo projeto humano. A Carta de Humaitá tem a finalidade de apontar caminhos a serem trilhados por todos aqueles que entendem que somente o ser humano é capaz de compreender os seus atos e corrigi-los. Tratam-se [sic] de medidas que, se bem executadas, poderão proporcionar o equilíbrio ambiental, equidade e justiça social”.
“Daqui a quatro ou cinco anos, pretendemos melhorar o IDH de Humaitá, saltando de 0,605 para 0,700, o que é uma pontuação muito boa em termos de Brasil. A longuíssimo prazo, iremos trabalhar também a questão das energias, como a fotovoltáica e a biomassa. Quanto às mudas de árvores, cada morador será o guardião da árvore plantada na frente de sua residência, quando do nascimento de seu filho”, adianta o professor Ricardo Bessa.