XII Semana de Ciências Sociais comemora 30 anos do curso na Ufam
Reflexões e experiências acerca das três décadas do curso de Ciências Sociais na Ufam foi tema da mesa de abertura da Semana Acadêmica
Teve início, na manhã desta segunda-feira, 5, a XII Semana de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Na solenidade de abertura, os professores Almir Menezes, Marilene Corrêa e Marco Aurélio Paiva refletiram sobre as conquistas e os desafios do curso de Ciências Sociais ao longo dessas três décadas.
Reconhecida como uma das criadoras do curso de Ciências Sociais da Ufam, a professora Marilene Corrêa afirmou que os cientistas sociais têm a missão de descrever e problematizar a realidade que os cerca. “Vocês, alunos, muitas vezes pensam que a entrada aqui na Universidade se resume a fazer um curso e ir embora. Não é assim. Vocês passam por um projeto intelectual que nem sempre fica claro para vocês porque não foram vocês que formularam. Ao entrarmos na sala de aula com nosso acervo de ideias, nós, professores, nos arriscamos a lançar bases para a explicação do social, para a compreensão do social, para a descrição da realidade que nos cerca e formulamos expectativas de análise da sociedade brasileira, a partir do disciplinamento das Ciências Sociais.
Ela também destacou as ameaças que os tempos atuais têm direcionado ao pensamento crítico. “Eu não sei se vocês percebem, mas a institucionalidade das Ciências Sociais está sendo colocada em xeque e o pensamento crítico corre o risco de ser banido da inteligência da Universidade. Sim, o pensamento crítico que quem está na zona de conforto recebe de graça, através de professor doutor, passará a ser mercadoria rara”, declarou, acrescentando que cerceamentos da liberdade têm maior impacto na esfera coletiva e da institucionalidade.
Pensamento crítico e desconforto com a realidade
Durante seu discurso, o professor Marco Aurélio Paiva afirmou que todo cientista social deve manter a agudeza do pensamento crítico. “Um curso de Ciências Sociais deve primar por reflexões políticas e é necessário aprofundar o processo de crítica, pois não existe cientista social em estado de conforto. O cientista social tem que conseguir enxergar os problemas do mundo. Portanto, aviso aos senhores, nossos alunos, que a formação em Ciências Sociais não acaba nunca, pois é preciso manter a agudeza do pensamento crítico, um desconforto com a realidade. Temos a capacidade de manter a realidade como problema e aguçar essa criticidade, embora atualmente isso esteja sendo classificado praticamente como terrorismo”, afirmou o professor que também enfatizou que, ao longo desses trinta anos, vários egressos de Ciências Sociais estão em posição de destaque no mercado de trabalho.
Diretor do Departamento de Acompanhamento e Avaliação das Ações de Extensão Universitária, o professor Almir de Oliveira Menezes fez alusão ao pensamento de grandes nomes da Sociologia. “Durkhein estava com a mais completa razão ao perceber que é impossível pensarmos o processo democrático sem aproximar o Estado da Sociedade. De repente, numa alusão a Michel Foulcault, em relação a Roland Barthes, eu gostaria de falar sobre a questão do poder, a questão do saber e a importância da semiologia no processo de construção do estruturalismo francês. Talvez pudéssemos abordar a conferência do professor Max Weber, a denominada Ciência como vocação, na qual diante de uma plateia de estudantes de Ciências Sociais, de Economia e de Direito a questão que se colocava era de que maneira as ciências sociais, humanas e do espírito poderiam intervir na realidade cansativa do sonolento povo alemão. Portanto, talvez aquilo a que vocês aspiram diante do cenário político social pelo qual estamos passando não possa ser alcançado de imediato, mas construído coletivamente pensando as Ciências Sociais na Amazônia e no Brasil”, ressaltou.
Iniciantes e veteranos
Aluno do segundo período, Serifo Na Bulna veio do país africano Guiné Bissau cursar Ciências Sociais na Ufam. Ele diz que escolheu a área por ter como objeto de estudo a sociedade e o ser humano. “Quando decidi sair da África, escolhi adquirir outras experiências acadêmicas e sociais, o que está sendo muito benéfico para mim. Aprecio a cultura brasileira e desejo saber mais sobre as questões sociais, políticas e econômicas daqui. Além disso, o curso na Ufam traz para mim um conhecimento muito amplo para a compreensão do mundo moderno e já me proporcionou, inclusive, a participação como estagiário no primeiro plano de gestão concluída nas áreas reservadas do Amazonas – Piagaçu-Purus. Espero com isso acumular cada vez mais capital simbólico para ser um bom cientista social”, declarou o aluno.
Veterano no curso, o estudante do oitavo período Ricardo Miranda de Souza, 21, ressalta os pontos altos na programação da XII Semana de Ciências Sociais. “A programação está excelente, mas dois aspectos me chamaram mais atenção. O primeiro é a análise de conjuntura sobre os impasses da democracia no Brasil e o segundo é o minicurso sobre a análise de redes sociais. Esses temas são caros para mim porque, de um lado, sou ligado a movimentos sociais e políticos, e, de outro, tenho seguido a linha de pesquisa sobre as novas formas de sociabilidade virtual. Vale lembrar ainda que durante o simpósio, vou apresentar resultados da minha pesquisa de Iniciação Científica cujo tema será na área da antropologia urbana. A propósito, já planejo tratar, na próxima pesquisa, sobre movimentos sociais organizados nas redes sociais durante o último período eleitoral, na área da sociologia”.
Programação
À tarde, a programação continuou com a exposição de trabalhos e pesquisas no campo das Ciências Sociais. Na terça-feira, 6, ocorre o Cine Debate “Menino 23: Infâncias perdidas no Brasil” e a “Análise de conjuntura sobre os impasses da democracia no Brasil”. Confira a programação completa na notícia relacionada XII Semana de Ciências Sociais ocorre entre os dias 5 e 9 de novembro.