‘Solidariedade sem Fronteiras’: calouros de Medicina promovem ação solidária para migrantes

Os 55 calouros de Medicina da Ufam tiveram a oportunidade de por os conhecimentos teóricos em prática durante o evento solidárioOs 55 calouros de Medicina da Ufam tiveram a oportunidade de por os conhecimentos teóricos em prática durante o evento solidário
 
Por Cristiane Souza
Equipe Ascom Ufam

Esperança. Essa palavra tem um significado prático na vida de milhares de migrantes que chegaram a Manaus na última década. Eles vieram sozinhos ou com as famílias, de países como Haiti, Colômbia, Venezuela e Peru, com a perspectiva de recomeçar a vida. Nesse contexto, a turma número 100 do curso de Medicina da Universidade Federal do Amazonas resolveu tirar o jaleco, ir para a comunidade e conhecer a realidade dessas pessoas.

Mas não para por aí. Os 55 discentes da disciplina de Saúde Coletiva I abraçaram a ideia apresentada pela professora Cecília Freitas, responsável por ministrar a parte prática da matéria, e organizaram e batizaram o evento de ‘Solidariedade sem Fronteiras’. Na tarde de terça-feira, 19, atenderam entre 60 e 70 migrantes na Igreja de São Geraldo, localizada no bairro de mesmo nome, hoje referência no acolhimento de migrantes na cidade de Manaus.

A ação social e de saúde ocorreu em parceria com a Pastoral dos Migrantes, a Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) e a Igreja São Geraldo, e que atenderá pessoas de diversas nacionalidades, especialmente os grupos de venezuelanos, cujo processo migratório é mais recente. Além do atendimento médico e de enfermagem, realizado no andar superior da sede administrativa da Igreja, a programação incluiu lanche, oferta de 26 cestas básicas e a realização de atividades lúdicas para as crianças.

 “Eu imagino como deve ser difícil chegar numa cidade, em um País com dimensão continental como é nosso, sem recurso, sem trabalho, sem nenhuma referência. É bom contar com pessoas que fazem algo por eles, disponibilizando algum serviço de saúde, doando algumas coisas que são básicas”, disse a coordenadora do evento. “Nós queremos ser isso na vida dessas pessoas: uma esperança”, disse, convicta, a professora.

Segundo avalia a coordenadora da Pastoral dos Migrantes, Rosana Nascimento, oportunidades como essa são sempre bem-vindas, tendo em vista a deficiências de políticas públicas voltadas a esse público em específico. “Nós, aqui na Paróquia de São Geraldo, recebemos cerca de 50 pessoas por dia para prestar algum tipo de auxílio. São pessoas de diversas nacionalidades, mas, atualmente, 60% são venezuelanos”, informou a coordenadora da entidade, que atua junto à Cáritas Arquidiocesana de Manaus (CAM) em ações de acolhimento. Ambas as entidades são vinculadas à Igreja Católica.

Atenção básica

Docentes da Ufam prestaram atendimento com auxílio dos alunosDocentes da Ufam prestaram atendimento com auxílio dos alunosNo andar superior, três salas foram utilizadas para recepcionar os pacientes e prestar o atendimento básico em saúde. Na triagem, estava disponível o serviço de aferição de pressão arterial, pesagem e altura, além da prestação de informações importantes sobre o sistema de saúde local. “É importante que eles saibam em que momentos podem procurar uma UBS, um hospital ou um pronto socorro, a depender da situação”, esclareceu a coordenadora.

O atendimento médico foi realizado pelos docentes de Medicina da Ufam Luciana Mendes e Antônio de Pádua, que atuaram em parceria com a médica da Policlínica Doutor Antônio Reis, Silvia Souza. “Alguns colegas médicos estão atendendo com o auxílio dos alunos. Esta é uma experiência preliminar com esse público, mas discentes buscaram doações de roupas, calçados e alimentos, então, a ideia é dar continuidade”, afirmou a professora Cecília Freitas.

A parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (Semsa) possibilitou a oferta de cerca de 150 doses de vacinas para adultos divididas em Tétano/Difteria, Hepatite B e Tríplice Viral, sendo que esta última imuniza contra Sarampo, Rubéola e Caxumba. Para os adultos, não é necessária a apresentação do cartão de vacina, mas as crianças necessitam do controle. No caso dos filhos de migrantes, muitos deles não têm o documento, inviabilizando o serviço.

Matheus Carneiro, 18, ficou responsável pelo levantamento sociodemográfico dos participantes ao lado de outros sete colegasMatheus Carneiro, 18, ficou responsável pelo levantamento sociodemográfico dos participantes ao lado de outros sete colegasAinda em parceria com a Semsa, o ‘Solidariedade sem Fronteiras’ disponibilizou o acesso aos testes rápidos para a detecção de Hepatites B e C, Sífilis e HIV, com cem kits para diagnóstico. O resultado leva entre cinco e dez minutos para ficar pronto. Ehesua Royal, 36, é haitiana e mora no Brasil há três anos. Ela ficou satisfeita com a programação, porque, além de se imunizar e se submeter aos testes rápidos, também experimentou o lanche oferecido pelos acadêmicos na quadra de esportes da Igreja de São Geraldo.

Migrantes ou Refugiados?

Os migrantes escolhem se deslocar não por causa de uma ameaça direta de perseguição ou morte, mas principalmente para melhorar sua vida em busca de trabalho ou educação, por reunião familiar ou por outras razões. À diferença dos refugiados, que não podem voltar ao seu país, os migrantes continuam recebendo a proteção do seu governo. Grande parte dos estrangeiros que chegam ao Brasil se encaixam nesse conceito.

Já os refugiados são pessoas que escaparam de conflitos armados ou perseguições. Com frequência, sua situação é tão perigosa e intolerável que devem cruzar fronteiras internacionais para buscar segurança nos países mais próximos, e então se tornarem um ‘refugiado’ reconhecido internacionalmente, com o acesso à assistência dos Estados, do ACNUR e de outras organizações. São reconhecidos como tal, precisamente porque é muito perigoso para eles voltar ao seu país e necessitam de um asilo em algum outro lugar. Para estas pessoas, a negação de um asilo pode ter consequências vitais.

Com informações: http://www.acnur.org/portugues/

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