Professor da Ufam sequencia genoma inédito de bactéria resistente ao petróleo de Urucu
Advinda de um microrganismo do Lago de Coari, a sequência está depositada em um banco de dados internacional, o National Center for Biotechnology Information (NCBI), dos Estados Unidos, e também foi tema de artigo aceito para publicação na revista científica Genome Announcements, vinculada à Sociedade Americana de Microbiologia (ASM)
Iniciada no Instituto de Saúde e Biotecnologia de Coari (ISB-Coari/Ufam) e atualmente vinculada ao Centro de Apoio Multidisciplinar da Universidade Federal do Amazonas (CAM/Ufam), a pesquisa "Caracterização genômica e funcional de uma bactéria resistente ao petróleo, isolada do Lago de Coari (Coari - AM)" é de autoria do professor Eraldo Lopes (ISB) e orientada pelo professor Spartaco Astolfi Filho. O trabalho foi realizando também com apoio do Grupo de Pesquisas em Metabolômica e Espectometria de Massas, da Universidade do Estado do Amazonas (UEA), e do Laboratório de Genômica e Biologia de Sistemas (Systems Biology and Genomics Lab), da Unesp de Botucatu.
Missão científica
A missão do pesquisador é caracterizar uma bactéria isolada do Lago de Coari que, além de ter se mostrado resistente ao petróleo, utiliza componentes do óleo natural para sobreviver. “Para esta pesquisa, utilizamos algumas amostras de água do Lago de Coari que foram contaminadas, in vitro, com petróleo de Urucu. Após 60 dias em condições laboratoriais, foram isoladas algumas colônias capazes de sobreviver nestas condições. Dentre estas, uma se mostrou superior às outras quanto à sobrevivência junto ao óleo. Esta se tornou objeto de minha tese, sendo classificada, posteriormente, como uma espécie denominada Burkholderia gladioli. A linhagem acabou sendo batizada de Coa14, em alusão ao lago, ao Município de Coari e ao ano da coleta das amostras. Esta bactéria foi capaz de sobreviver em um meio de cultivo que possuía apenas o petróleo como fonte de carbono e energia, reduzindo a quantidade de hidrocarbonetos presentes”, explica o cientista.
Tecnologia da Ufam
A pesquisa ganha relevância pelo fato de o município de Coari ser destaque em exploração de petróleo no País, além de se encontrar no centro de uma região com expressiva biodiversidade. “Precaução é sempre bem-vinda. Embora não haja indícios técnicos de poluição por óleo de Urucu no Lago de Coari, há expressiva exploração de petróleo nesta região do município e, consequentemente, risco de acidentes. Considerando esse contexto, é importante que se desenvolvam tecnologias locais para descontaminação, em casos de necessidade”, ressalta o pesquisador.
Coa14 – marco internacional
Com a estimativa de que 95% do genoma tenha sido sequenciado, o doutorando comemora o depósito da sequência de DNA em um banco de dados internacional e o registro do feito em um artigo já aceito para publicação no periódico internacional Genome Announcements.
“Tudo indica que é o primeiro genoma de uma bactéria proveniente do Lago de Coari, localizado no coração do Amazonas, que esteja disponível parcialmente em um banco de dados internacional e também tenha sido tema de um artigo aceito para a publicação numa revista científica da ASM, como um draft de genoma (rascunho, ou seja, versão ainda não finalizada do sequenciamento genômico). Isso é um marco para o ISB, para a cidade de Coari e para a Universidade, uma vez que a etapa de isolamento foi toda realizada no ano de 2014, nas dependências do Laboratório de Microbiologia do Instituto, pelo grupo liderado pelo professor Josemar Gurgel”, destaca o pesquisador.
Perspectivas
Antes de defender a tese, em meados de fevereiro de 2019, o pesquisador tem ainda como missão identificar quais genes da linhagem Coa14 estão se expressando com mais intensidade quando entram em contato com o petróleo. Isso será feito por meio da análise de sequenciamento de RNA, conhecida pela sigla de RNA-seq.