Ufam promove debate sobre a Zona Franca em segunda sessão do Fórum para o Desenvolvimento do Amazonas

Dentre as alternativas propostas, está a implantação de minidistritos de cooperativas para fomentar a vocação local das cidades do interior e diversificar produção e fontes de renda.

Professor Bessa dirigiu os trabalhos da segunda sessão do Fórum pernamenteProfessor Bessa dirigiu os trabalhos da segunda sessão do Fórum pernamente

Por Cristiane Souza
Equipe Ascom

“ZFM e modelos alternativos para o desenvolvimento do Amazonas”. Esse foi o tema que fomentou o debate dos participantes do Fórum para o Desenvolvimento do Amazonas, ocorrido na quinta-feira, 15, na sala de Reuniões da Câmara de Extensão da Pró-Reitoria de Extensão (Proext). O pró-reitor, professor Ricardo Bessa, introduziu o tema e leu o texto homônimo da temática apresentada a estudiosos, empresários, representantes da sociedade civil organizada e de instituições públicas e privadas.

Além de professores da Ufam, em atividade ou aposentados, dentre eles o coordenador e o vice-coordenador do Fórum, professores Alcebíades Cavalcante e Michiles, o professor Jeferson Praia e o professor Frederico Arruda, ex-pró-reitor de Extensão, estiveram presentes dois representantes da Superintendência da Zona Franca de Manaus (Suframa), Renato Freitas e Rosângela Alanís, e José Lucas Duarte, indígena Tukano presidente da Cooperativa Indígena Extrativista de Recursos Naturais e Minerais de São Gabriel da Cachoeira (Ciernm).

Avaliação

É possível destacar alguns trechos do documento, por exemplo, quando o professor Bessa aponta a tese de que a Zona Franca de Manaus, um modelo criado com o fito de desenvolver a Amazônia Ocidental, passa hoje por um processo de falência. “Passadas cinco décadas, ela não atingiu o objetivo ao qual se propôs: Potencializar o progresso econômico e social da Região, promover o desenvolvimento equitativo do Estado, diminuir as desigualdades econômicas e sociais entre a Capital e o Interior, fixar as populações na Zona Rural e estabelecer um processo de ocupação dos vazios demográficos da Região [...]”, avaliou o docente no texto.

Nas páginas seguintes, o professor Bessa expôs a realidade vivida por uma parcela da população manauara, segundo a concepção dele: “Esse contingente populacional, atraído pela oferta de emprego do Parque Industrial de Manaus (PIM) e expulso dos seus locais de origem pelas condições econômicas e sociais precárias, acabou engrossando os bolsões de favelas e submoradias que se instalaram na periferia de Manaus, provocando o surgimento, neste período da vigência de Zona Franca, de mais de 100 bairros desprovidos de saneamento, escolas, postos de saúde e asfalto”.Participantes de diversas instituições debateram o tema ZFM e as alternativas para o AmazonasParticipantes de diversas instituições debateram o tema ZFM e as alternativas para o Amazonas

A respeito da natureza da produção do Polo Industrial de Manaus (PIM), o professor destaca o deslocamento do interesse para a produção industrial em detrimento do extrativismo e do uso de matéria prima regional. “Do ponto de vista geopolítico, a feição assumida pela produção do PIM, pela condição de dependência de insumos oriundos das matrizes, colocou a economia do Amazonas em situação vulnerável e sujeita à flutuação de crises conjunturais do capitalismo internacional”, observou o docente, para quem a solução para os principais problemas do Amazonas está no desenvolvimento dos potenciais do interior.

O que fazer?

Na mesma esteira da apresentação dos problemas, o professor propôs alternativas ao modelo. “A saída para se evitar o caos econômico no Estado impõe a diversificação da produção de bens que leve em conta o potencial da biodiversidade amazônica”, enfatizou, ao mencionar os passos iniciais, em que a Universidade poderá exercer importante papel, como a identificação e catalogação de recursos naturais do interior, e a elaboração de diagnóstico socioeconômico global do Estado, estudo esse realizado com base na taxonomia criada pela ONU para medir o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da população das cidades ao redor do planeta.

Mais próximo da realidade do Amazonas, ele apontou a composição de um Plano Estratégico de Desenvolvimento Regional Autossustentável (Pedras), para fomentar a construção de um novo cenário social e econômico no Estado. A concretização desse plano está numa das ideias piloto a serem viabilizadas pela Ufam em parceria com instituições públicas e privadas em prol do desenvolvimento do interior: minidistritos de cooperativas para produzir bens a partir da matéria prima regional, podendo gerar mais de 1.500 empregos diretos e 300 indiretos.

Ideia marcante na apresentação foi a implantação de minidistritos de cooperativas no interior do estadoIdeia marcante na apresentação foi a implantação de minidistritos de cooperativas no interior do estadoDentre as propostas de produção, apresentadas no documento, estão: Fabricação de blocos de granito para calçamento de ruas, praças e estacionamentos; Extração e beneficiamento de madeira; e Extração de óleos vegetais e fabricação de medicamentos fitoterápicos.

Já finalizando, o professor Bessa retomou a questão da ZFM, reconhecendo sua contribuição para a economia local. Todavia, ressaltou a urgência de se pensar a diversificação da matriz econômica do Amazonas, haja vista a “fragilidade do modelo de monocultura prevalencente”.

Os presentes contribuíram com o debate. “A renúncia fiscal poderia ser um instrumento usado para alavancar a instalação desses minidistritos cooperativos?”, indagou o professor Almir Menezes, diretor de Extensão, ao que o professor Bessa respondeu afirmativamente: “Vamos exercer o nosso poder de pressão sobre o legislativo para que esse projeto saia logo”.

Já o professor Michiles frisou a logística, em se tratando do futuro minidistrito de São Gabriel. “Como essa questão da cheia e vazante dos rios naquela região poderia ser solucionada?”, disse ele. “O abastecimento e o escoamento da produção dessas cooperativas em São Gabriel deve ser feito pelo porto de CA-Manaus, que já é utilizado pelo Exército sem interrupções durante o ano todo”, devolveu o professor Bessa, em resposta.

Os representantes da Suframa também fizeram as suas ponderações. Renato Freitas apontou que, além de eventual fragilidade do modelo ZFM no alcance de seus objetivos, não se pode deixar de analisar a inoperância dos governos quanto ao baixo desenvolvimento no Amazonas e da própria Amazônia Ocidental.

Sobre o Fórum

Promovido pela Pró-reitoria de Extensão (Proext), o Fórum para o Desenvolvimento do Amazonas tem o objetivo de contribuir com a transformação da realidade social amazonense a partir da identificação dos problemas que mais afligem a população e entravam o desenvolvimento do Estado.

A agenda dos temas abordados será divulgada com 20 dias de antecedência de cada reunião no portal da Ufam. Ao final de cada sessão, será redigido um relatório com as propostas dos participantes do Fórum, além de ser emitido certificado de 3 horas aos participantes.

Próxima Pauta

Dia 22 de março– Cidadania indígena, Políticas Públicas e Desafios da Sustentabilidade no Alto Rio Negro – Prof. Msc. Elias Brasilino de Souza – Ifam.

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