“Ticuna em dois tempos” valoriza produção artística cultural indígena

O Museu Amazônico reúne em mostra o acerco de 135 peças da maior nação indígena brasileira. No pronunciamento da solenidade de abertura, nesta quarta-feira, 10, o reitor em exercício, professor Frederico Arruda, defende a interlocução entre os povos tradicionais e a Universidade. A exposição ocorre até o dia 31 de outubro, das 9 às 17h. O Museu Amazônico fica localizado na rua Ramos Ferreira, 1036.

A exposição “Ticuna em Dois Tempos” é resultado da parceria entre o Museu  Amazônico o Museu de Arqueologia e Etnologia Professor Oswaldo Rodrigues Cabral (MArquE), com apoio do INCT Instituto Brasil Plural (Cnpq/FAPEAM/FAPESC). A exposição mostra um paralelo entre duas épocas: objetos indígenas coletados pelo antropólogo catarinense Sílvio Coelho na Amazônia dos anos 1960 ao lado da coleção do artista plástico amazonense Jair Jackmont reunida nos anos de 1970

Na ocasião, o reitor em exercício afirmou que a Universidade deve estreitar cada vez mais os laços de relacionamento com os povos indígenas e tradicionais. “A partir desse momento, é possível se voltar para as nossas origens amazônicas, convergindo para todos os tempos. Hoje, faz sentido realizar uma exposição em dois tempos e que isso possa contribuir de forma efetiva para que a Ufam cumpra seu papel de maneira vigorosa, coerente,  respeitosa, ética e comprometedora de seus deveres com essas populações”.

Ele foi contundente em falar sobre a importante do aprendizado indígena, destacando a conduta em “ser mais gente”. Nesse sentido, o reitor explica que nesse processo é preciso compreender e valorizar aquilo que os povos indígenas possam ensinar a viver, inferindo em nossa  capacidade de enfrentar os desafios, ter maior resignação diante do sofrimento, portanto nos tornar mais gente, por meio de um convivência maior.

Para a diretora do Museu Amazônico, professor Maria Helena Ortolan Matos, a interlocução entre o conhecimento dos povos tradicionais da Amazônia e o conhecimento científico já ocorre, em diversas publicações científicas sobre a questão. “Todo o conhecimento das plantas e o da cosmologia indígena já foram objetos de pesquisa direta ou indiretamente de pesquisadores brasileiros. Hoje, nós temos que reconhecê-los, não somente como objetos de pesquisa, mas também como interlocutores contemporâneos dessa sabedoria”, declarou a diretora.

De acordo com a diretora, a Universidade, de maneira geral, encontra-se nesse processo de reconhecimento, afastando a ideia de que os povos tradicionais não são apenas objetos de pesquisa, mas deve-se consolidar uma  relação mutua para o desenvolvimento da interlocução, gerando a otimização da produção do conhecimento científico.   

A professora acredita que a exposição é o momento de trazer à tona a valorização desses povos e, paralelo a isso, refletir sobre a ideia de que Museu não é apenas algo do passado, mas um elemento social do presente e do futuro. “Estamos promovendo uma política de gestão do conhecimento científico dentro do Museu Universitário, o qual é especifico para desenvolver essa atividade”, declarou.   

A diretora destacou que fazer ciência é, evidentemente, estar em rede. Para tanto, a parceria com o INCT Brasil Plural, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), permite aprofundar o conhecimento sobre a diversidade sociocultura brasileira. Por conta disso, o Museu Amazônico e a o Museu da Universidade de Santa Catarina estão aprendendo e reaprendendo a compreender o conceito de Museu dentre as Universidades Brasileiras. 

Na solenidade de abertura, um grupo de artistas indígenas da Associação Associação Cultural Wotchimaucü, do bairro Cidade de Deus, em Manaus, realizou apresentação musical, trazendo em seu repertório canções Tikuna. 

Sobre a exposição   

A exposição “Ticuna em dois tempos” traz o resultado de duas histórias de amor e homenagem a mais numerosa nação indígena do país. Cruza dois olhares de duas épocas distintas em duas coleções produzidas com critérios e objetivos diferentes sobre a mesma etnia, os Ticuna ou Mgüta, que vivem no Alto Rio Solimões, na Amazônia brasileira e também na Colômbia e no Peru.

De um lado, o olhar do historiador e antropólogo catarinense Sílvio Coelho dos Santos, que reuniu sua coleção quando participou de expedição à Amazônia do Curso de Especialização em Antropologia do Museu Nacional, na década de 1960. De outro, o olhar estético do artista plástico Jair Jacmont, que formou sua coleção na década de 1970, adquirindo os objetos dos próprios índios, na cidade de Manaus.

Exibidas pela primeira vez ao público, as duas coleções juntas fascinam pela beleza e expressividade. A exposição conjunta é um projeto alimentado há longa data pelas duas instituições de extremos opostos do Brasil, com o objetivo de promover o diálogo entre esses dois reveladores olhares para a mesma cultura.

O artista

O artista plástico amazonense que se inspira nos Tikuna para produzir seus quadros, Jair Jackmont começou a colecionar as peças de arte indígena nas décadas de 1970 e 1980, que durante aquele período era considerado pela elite amazonense um “panema”, ou seja, objetos que trazem azar para dentro de casa.

O artista relata que teve influencia do movimento cubista da Arte, o qual faz uma correlação com a produção artística indígena, por meio da tridimensionalidade, da textura, das cores, das formas e conceitos. Segundo Jackmont, o artista espanhol Pablo  Picasso fez está correlação com as máscaras e as estátuas de povos africanos.

Então, Jair Jackmont passou adquirir no Mercado Municipal Adolpho Lisboa, em Manaus, peças TiKuna que os vendedores consideravam “artesanatos”, valorizando-as como genuínas obras de arte, sobretudo pela sua tridimensionalidade. Assim, ele reuniu 135 peças, entre esculturas antropomorfas e bastões de ritmo e de comando usados para danças e rituais, além de uma considerável quantidade de máscaras esculpidas em madeira.

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