Projeto Ecoleta II investe na educação ambiental reciclando óleos de fritura

Comunidade acadêmica poderá depositar óleos residuais em dois pontos de coleta na Ufam

A ideia é simples: ao invés de jogar o óleo que sobra direto pelo ralo, por que não armazená-lo em garrafas pet e depositá-lo em locais apropriados de coleta? Com uma atitude simples, é possível evitar a degradação ambiental e ainda contribuir para a fabricação de produtos como biodiesel e sabão. Com o objetivo de fazer a ponte entre quem produz o resíduo e quem recicla, o projeto de extensão Ecoleta II trabalha em várias frentes com o tema educação ambiental.

Nos dias 31 de março e 1º de abril, entre 8 e 19h, uma equipe de dez alunos que fazem parte da Atividade Curricular de Extensão estará distribuída em dois pontos de coleta de óleos residuais de fritura, o primeiro localizado no Centro de Convivência da Faculdade de Ciências Agrárias e o segundo no Centro de Convivência do Setor Norte da Universidade Federal do Amazonas. A proposta dessa atividade é coletar óleos e gorduras residuais (OGR) produzidos por alunos, professores e técnico-administrativos em educação da Ufam nas residências deles. É só trazer e depositar o que poderia, literalmente, descer pelo ralo e poluir os rios.

Essa equipe de extensionistas é formada por alunos dos cursos de Engenharia Química, Agronomia e Química (Bacharelado e Licenciatura). Outros cinco graduandos ainda vão reforçar o time. Eles são alunos da professora Karime Bentes, do Departamento de Química, que desenvolve projetos vinculados à coleta seletiva de resíduos sólidos, dentre outros, no âmbito do Centro de Ciências do Ambiente da Universidade (CCA).

Os trabalhos e eventos do grupo são divulgados na fanpage Ecoleta II. Visite.

Coordenadora e a equipe mostram alternativa de usoCoordenadora e a equipe mostram alternativa de usoTrajetória – a primeira edição da ACE foi realizada em 2010, sob a orientação da professora Ivoneide Barros, do curso de Química, seguida de outras duas experiências em 2011 e 2012. Na época, a professora Vanuza Santos, que hoje coordena o projeto, era mestranda em Química e colaboradora externa da atividade de extensão. A experiência com reciclagem de óleo serviu, inclusive como tema da dissertação defendida em 2011.

O trabalho intitulado ‘Aproveitamento do óleo de fritura residual para produção de biodiesel em Manaus’, além de motivar a pesquisadora seguir nessa área, foi relevante para o levantamento sobre a quantidade de resíduos desse tipo produzidos na cidade. “Em 2009, quando calculamos o quanto se produzia, nas residências, de óleo residual, vimos que a quantidade era de quase 300 mil litros por mês. Hoje esse número pode chegar a 500 mil litros mensais”, revela a coordenadora.

O projeto tem objetivos voltados para a educação ambiental do público universitário e de alunos de Ensino Fundamental e Médio, a partir do nono ano. Esse público participa de palestras e oficinas de produção de sabão artesanal para uso doméstico. Investe ainda na sensibilização dos proprietários dos Restaurantes Universitários e em concessão que atuam no campus principal, incentivando o descarte e a destinação adequada para esses resíduos, que são associações comunitárias ou Pontos de Entrega Voluntária (PEV), da Prefeitura Municipal. Lá, é possível entregar o material armazenado em garrafas pet.Cada bomba pode armazenar até 50 litros de óleoCada bomba pode armazenar até 50 litros de óleo

Resultados – já no primeiro ano de atividade, o Ecoleta obteve, no intervalo de três meses, 305 litros de óleo dos Restaurantes Universitários do campus universitário Senador Arthur Virgílio Filho. No ano seguinte, quatro meses foram suficientes para coletar 420 litros. Já na edição corrente, entre fevereiro e março foram obtidos 300 litros de óleos residuais provenientes do RU e do restaurante da Faculdade de Educação Física e Fisioterapia (FEFF).

“Pretendemos continuar as coletas nos meses de abril e maio. A ACE será renovada e o trabalho será contínuo até o fim de 2016”, ressalta a professora Vanuza Santos. Segundo ela, o êxito da atividade se deve às estratégias de divulgação em que a equipe tem investido. “De um lado, buscamos facilitar no descarte correto dos resíduos, evitando a degradação ambiental; e, por outro lado, firmar parcerias com associações que deem destinação adequada, gerando emprego e renda para várias famílias”, pondera ela sobre a relevância do projeto.

Sabão e biodiesel a equipe tem parceria com duas escolas da rede pública para a realização de palestras e de oficinas de produção de sabão artesanal, a escola de ensino médio João Bosco, localizada na Compensa, e a escola de ensino fundamental Antônio Matias Fernandes. Os alunos participam de formação teórica sobre o descarte adequado do óleo de fritura, aprendem a usar Equipamentos de Proteção Individual (EPI) e conhecem técnicas de produção artesanal de sabão de uso doméstico (para limpeza de objetos). Depois disso, mãos a obra!

Oficinas ensinam alunos a produzir sabão artesanalOficinas ensinam alunos a produzir sabão artesanalDesde 2015, as graduandas de Agronomia Jhade Saraiva e Carla Duarte, agora no 2º período, participam do Ecoleta II. Karen Lopes, finalista do curso de Química, faz parte da equipe desde a primeira experiência, em 2010. “Trabalhamos numa metodologia fácil, rápida e barata para a produção do sabão artesanal. É chamada ‘índice de saponificação’, em que a gente usa óleo residual, soda cáustica e água numa proporção alcançada depois de vários testes”, comemora Jhade Saraiva, comentando sobre o método utilizado nas oficinas.

A técnica é ensinada também a membros de associações localizadas bairros das zonas Leste e Norte de Manaus. O óleo coletado pelo grupo é enviado, atualmente, para duas parceiras: a associação de catadores ARPA e a associação Santa Luzia. “É importante frisar que esse óleo não pode ser vendido por ser de domínio público, mas apenas doado para organizações não governamentais (ONGs), associações de catadores ou cooperativas”, diz a coordenadora. Em Manaus, o processo é regulado pela Lei 1.536/2010, regulamentada pelo decreto 815/2011.

Perspectivas – a equipe pleneja expandir as atividades, tanto no sentido de aumentar a quantidade de óleo coletada, através da sensibilização da comunidade acadêmica, quanto no sentido de levar para alunos do ensino fundamental, nas séries iniciais, os conhecimentos sobre a educação ambiental, o descarte e a destinação correta para esses resíduos. “Eu penso que as crianças podem ensinar muito em casa, e até mudar os hábitos dos pais”, ressalta Karen Lopes, integrante da equipe do Ecoleta II.

 

** Reportagem de Crisitane Souza

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