Tese de professor do ISB estuda automedicação em comunidades ribeirinhas

 

O objetivo do trabalho é avaliar a prática e os fatores associados à automedicação entre residentes de comunidades ribeirinhas na região do Médio Solimões, no Amazonas. As informações sobre a pesquisa, que é pioneira sobre o tema no Estado, podem ser encontradas em www.ribeirinhosdoamazonas.com.

Ao todo, existem 128 comunidades ribeirinhas em Coari. Juntas, elas somam 15.402 habitantes e 3.747 famílias, segundo o Sistema de Informações de Atenção Básica (SIAB), órgão vinculado à Secretaria Municipal de Saúde daquele município. Desse total, 470 adultos configuram a amostragem da pesquisa, e representam oito diferentes regiões  daquela calha de rios: Alto Solimões, Médio Solimões, Baixo Solimões, Lago de Coari, Lago do Mamiá, Rio Copeá, Rio Piorini e Codajás Mirim.

O autor do estudo é o professor Abel Gama, que é formado em Enfermagem pelo Instituto de Saúde e Biotecnologia (ISB/Coari) e mestre em Enfermagem também pela UFAM. Ele é titular do ISB e está cursando o doutorado em Enfermagem na Saúde do Adulto na Universidade de São Paulo (USP), sob a orientação da professora Sílvia Regina Secoli.

 

Estudo

O professor apresenta os objetivos específicos da tese. “Para o doutorado, iremos verificar a prevalência a prática de automedicação em indivíduos que vivem nas comunidades ribeirinhas, identificar os motivos que levam à automedicação, identificar as classes terapêuticas dos medicamentos utilizados e investigar os fatores sócio-demográficos e clínicos associados à automedicação”, elenca o Abel Gama.

Além desses objetivos, serão mapeados os hábitos nutricionais dos indivíduos, a existência de doenças crônicas (diabetes e hipertensão arterial), a prática de atividade física, o consumo de álcool e de tabaco. “A metodologia inclui a aplicação de um questionário a pessoas maiores de idade e a realização de exames físicos, como a aferição de pressão arterial, medição de glicemia, tipagem sanguínea e do índice de massa corpórea (IMC)”, explica o autor do trabalho.

Nesse estudo, o recorte é no perfil da população ribeirinha em relação ao consumo de medicamentos alopáticos (aqueles encontrados na farmácia) sem acompanhamento médico, mas considera fatores externos como sexo, idade, renda etc. Estudos do referencial teórico do projeto apontam, por exemplo, que mulheres e pessoas idosas tendem mais à automedicação. Isso tudo é somado a questões sociais, como o precário acesso aos serviços médicos.

“Na realidade daqueles ribeirinhos não há planos de saúde ou médicos particulares; eles geralmente fazem uma consulta por mês, quando vão à sede do município para receber benefícios e resolver outras questões, e quando há vagas”, conta o pesquisador. Segundo ele, nesse contexto, há farmácias onde essas populações encontram os remédios sem grandes complicações, sem necessidade de receita, por exemplo.

 

Perspectivas

Todas as informações coletadas durante o período de realização da pesquisa serão organizadas num banco de dados. De acordo com o professor Abel Gama, esse material deverá auxiliar outras investigações e desdobramentos sobre o tema na iniciação científica e no mestrado. Até o momento, há 90 amostras concluídas.

O professor, que desenvolve projetos nessas comunidades desde 2007, quando era aluno do ISB, já observava o uso de antimicrobianos sem acompanhamento médico. Hoje, a partir desse projeto de doutorado, ele busca traçar o panorama de como está esse consumo. O foco são os medicamentos alopáticos, mas é sabido que tais populações têm tradição no uso de fitoterápicos em associação, o que pode gerar reações adversas, ao invés de potencializar os resultados positivos, como pensam algumas dessas pessoas.

O estudo também chama atenção para o tema de políticas públicas e saúde coletiva para os ribeirinhos. “Aproximadamente um terço da população rural do Amazonas é de ribeirinhos, mas não há políticas consistentes para essas pessoas, em especial o acesso à saúde”, constata o professor.

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