Ufam e Universidade de Coimbra debatem quebra de paradigmas na produção de conhecimentos

A mesa redonda “Ecologia de saberes - redes de produção de conhecimento” foi promovida pela Licenciatura Indígena da Universidade. A coordenadora da programação, professora Ivani Ferreira de Faria, destaca que o debate corrobora com o pensamento das epistemologias do Sul, que consiste  em um conjunto de procedimentos que procuram reconhecer e validar o conhecimento produzido por aqueles que têm sofrido injustiças, opressão e a dominação causadas pelo colonialismo, pelo capitalismo e pelo patriarcado. “Essa discussão incentiva a inovação educacional e científica na quebra de paradigmas de uma monocultura do saber”, destacou a coordenadora.

Os palestrantes convidados, os doutores em Sociologia Bruno Sena Martins e João Paulo Dias, integram o Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra. A mesa redonda foi mediada pelo professor do Departamento de Antropologia da Ufam e docente da Licenciatura Indígena doutor Lino João de Oliveira Neves. O palestrante João Paulo Dias destacou que a ciência tem papel fundamental no estudo e na promoção de práticas experimentais de inovação social. “A investigação deve ter uma natureza interdisciplinar e internacional, trabalhando cada vez mais, por temáticas transversais, em detrimento das disciplinas dogmaticamente organizadas”. O pesquisador apresentou seis pilares para um plano estratégico, entre eles a inclusão de instituições não-científicas nas redes e parcerias nacionais e internacionais nos espaços de discussão e de trocas de experiências.  

 

O palestrante também chamou atenção para a importância de um centro de investigação possuir autonomia financeira e administrativa para se alcançarem bons resultados. Ele elencou sete características que devem ser asseguradas nas instituições de pesquisa: uma equipe diversificada, competente e flexível de pesquisadores; garantir o equilíbrio entre os interesses dos pesquisadores e o plano estratégico institucional, além de primar por uma cultura de avaliação. “Um Estado que não invista na troca de experiências está condenado a não garantir uma economia competitiva e uma sociedade mais inclusiva. Um Estado que não defina e financie uma estratégia científica condena seu país a resultados negativos nas mais diversas áreas”, advertiu o pesquisador.

O pesquisador Bruno Sena Martins compartilhou o pensamento de um dos epistemologistas mais atuantes do mundo, o sociólogo Boaventura Santos. Durante a explanação, ele destacou as fases do pensamento do renomado sociólogo e a emergência de novos sujeitos do conhecimento em uma crítica contundente sobre as relações de conhecimento entre o norte e o sul. “Temos uma visão do presente muito estreita, em que a verdade não é a representação do real, mas construída pelo poder e essa ‘verdade se arroga neutra e objetiva e eu digo que ser neutro é ser cúmplice de um sistema que se alimenta do aniquilamento do outro. O que temos é conhecimento sobre o outro e precisamos cultivar o conhecimento com o outro. O que acontece é que muitas vezes tratamos as pessoas como objetos de pesquisa, procuramos adquirir conhecimentos sobre eles para construir nossas teses e dissertações, fazer nossos livros, e nos tornamos, de certa forma, extrativistas”.

Ele ressaltou que a prática de produzir conhecimento com o outro é a essência da Licenciatura Indígena da Universidade Federal do Amazonas. “Penso que precisamos de um conhecimento comprometido, pensando no outro, para que, no fim das contas, possamos transformar a vida desses outros em termos mais positivos e inclusivos. Na Licenciatura indígena da Ufam, o conhecimento é produzido a partir da pesquisa que vai ao encontro das pessoas, das suas realidades e crenças. É uma construção institucional, pode-se dizer assim, que coloca em causa todas as lógicas que vinham estruturando o conhecimento das universidades, conhecimento feito por aquela pessoa que aprendeu que, mais importante do que as crenças do mundo, é a experimentação cientifica. Portanto a Licenciatura indígena da Ufam cumpre um desafio muito grande de perceber que o conhecimento mundial, e mundial tem que ser intercultural que obriga uma forte tradução, porque quando falamos de povos indígenas, temos de falar de proporções de que foram excluídos e silenciados e marginalizados durante séculos. Portanto, é uma licenciatura que permite dar voz a essas pessoas capacitando-as”

A mesa redonda “Ecologia de saberes - redes de produção de conhecimento” foi realizada na manhã desta sexta-feira (9), no auditório Rio Solimões do Instituto de Ciências Humanas e Letras da Universidade Federal do Amazonas.

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