PPGH promove palestra de Graça Ramos sobre a escultora Maria Martins

‘O instável na obra de Maria Martins’ é o título da palestra proferida pela jornalista de O Globo, Graça Ramos, que é promovida pelo Programa de Pós-Graduação em História (PPGH). A apresentação ocorreu nesta sexta-feira, 19, no auditório Rio Solimões do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL).  

A partir da crítica de Antônio Cândido, em 1943, o qual comenta que nada na obra de Maria Martins é estável e que a instabilidade é a principal característica da escultora desenvolvendo seu trabalho inspirado na Amazônia. De acordo com a jornalista, as obras da escultora estão baseadas numa leitura própria dos mitos, lendas e da  natureza desta região.

Doutora em Historia da Arte pela Universidade de Brasília (UNB), Graça Ramos cita Walter Zanini, que denomina um termo específico ao trabalho desenvolvido pela escultora. Ele dizia que "o surrealismo de Maria é o surrealismo amazônico". Segundo a jornalista, durante a exposição realizada nos Estados Unidos, na década de 40, a escultora apresenta o que seria o surrealismo amazônico, enfocando essa instabilidade em que nada é definido quanto ao gênero e às coisas. "O híbrido entre o corpo humano, o vegetal e o animal, é a própria representação da floresta`, comenta a pesquisadora.

Quanto à relação entre as obras da escultora e a região Amazônica, Graça Ramos entende que isso se deu pela primeira vez a partir do contato com a floresta, quando ainda jovem, no Equador, a escultora percebeu a exuberância da  floresta. As formas da natureza exuberante vão ficar gravadas na memória, como as de árvores gigantescas que se desfolham e que se abrem, ressalta a palestrante.

Ela acredita que ao realizar os estudos sobre os mitos e lendas, a escultora faz uma amálgama do que é forma e da concepção imaginária. A Iara, a cobra-grande, dentre outros mitos amazônicos, não se tem uma definição formal, podem ser meio homem, meio animal, completa.

Graça Ramos afasta a escultora das teorias modernista da época, entretanto, diz que Maria Martins tem como inspiração o compositor brasileiro Heitor Villas-Lobos, considerado pela palestrante um modernista de primeira ora.  Coincidentemente, as obras do compositor que tratam sobre aspectos amazônicos, ou seja, ciclo amazônico, afloram também na escultora. Então de alguma forma ela dialoga, bebendo na fonte do modernismo, mas ela não era uma modernista stricto sensu, frisa.

O trabalho da escultora é tão marcante em nossa atualidade que remete a um  estado de processo. Para Graça Ramos, a definição do estado de processo está voltada ao instável, ao não definido, ao misturado, ao híbrido, o que caracteriza o conceito de contemporaneidade, colocando-a na vanguarda da história da arte brasileira.  

Temas abordados na década de 60, tais como corpo e desejo, já tinham sido explorados por ela. "A grande questão da escultura era o desejo, o qual não tem forma ou tem varias formas. Nada é muito fixo, definido. Ela se apropria da potencia e da viscosidade da floresta transformando-a em formas não definidas", diz Graça Ramos.

Anterior ao ciclo amazônico, a escultora elaborava seus trabalhos com conteúdos acadêmicos. Após intensos estudos seus conteúdos passam por modificações em que o corpo é criado em formas fragmentadas. "É interessante observar que a apropriação da natureza não é pelo exotismo, mas por aquilo que pode definir o humano, ou seja, o instável, o deformado, o não completo, a não fusão amorosa", finaliza a palestrante.

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