Dissertação realizada na Ufam recebe Prêmio da Associação Brasileira de Antropologia
“Os piaçabeiros do Médio Rio Negro: Identidade étnica e conflitos territoriais” – este é o título da dissertação que deu a Elieyd Sousa de Menezes, ex-aluna de mestrado do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Ufam, o prêmio de Melhor Dissertação da Associação Brasileira de Antropologia (ABA). A premiação é organizada a cada dois anos e tem por objetivo reconhecer os melhores trabalhos acadêmicos na área. Nesta edição, o tema proposto foi “Povos indígenas e cenários etnográficos na Amazônia”.
Segundo a pesquisadora, parte dos piaçabeiros são índios de diversas etnias, que por meio da Associação Indígena de Barcelos (Asiba), reivindicam a demarcação das terras como área indígena. Em seu trabalho, Elieyd estudou a construção das identidades coletivas sob a ótica dos conflitos territoriais, ou seja, a forma como os indivíduos se identificavam diante da questão das terras, se indígenas, ribeirinhos, quilombolas ou piaçabeiros, por exemplo. “Analisei a categoria “piaçabeiro” enquanto agentes sociais com um modo diferenciado de vida, compondo o que conhecemos por povos e comunidades tradicionais, assim como os conflitos sociais por causa do acesso aos recursos naturais e a demarcação da terra indígena”, destaca.
Com a pesquisa, Elieyd Menezes constatou o grande cuidado nas técnicas tradicionais dos piaçabeiros na extração das fibras de piaçaba, revelando o uso sustentável destas palmeiras. Outra conclusão foi acerca do uso de diferentes identidades coletivas, as quais se mostraram recorrentes e sobrepostas. “Dependendo do contorno do conflito eles acionam distintas identidades coletivas, e esse processo é legitimado pelo grupo”, afirma a antropóloga. Sobre a presença indígena na área, a pesquisadora declara: “Ao reivindicar a demarcação da terra indígena, estes povos querem, inclusive, garantir em seus territórios um espaço simbólico de manutenção física e cultural e diminuir o monopólio dos patrões da piaçaba nesse sistema de aviamento”.
Para a vencedora na categoria melhor dissertação, a premiação da ABA confere reconhecimento aos pesquisadores e profissionais da Região Norte. “O prêmio tem um significado muito especial, não só pela colocação, mas porque mostra que a nossa produção tem possibilidades e qualidades que podem ser comparadas a Universidades ditas Centro de Excelência”, diz Elieyd.
Ainda conforme a premiada, o diferencial do trabalho está na relação construída durante a pesquisa com os agentes sociais (indígenas, piaçabeiros) no campo. “Foram quatro anos de pesquisa (antes de ingressar no mestrado, iniciei a pesquisa em um PIBIC), essa relação me permitiu conhecer as pessoas e ter acesso às áreas trabalhadas”, afirma.
Além do reconhecimento público, o prêmio do concurso realizado pela Associação Brasileira de Antropologia, garante a Elieyd a publicação da obra em destaque, a qual tem o lançamento previsto para 2014 durante a Reunião Brasileira de Antropologia que ocorrerá em Natal (RN).