Dissertação realizada na Ufam recebe Prêmio da Associação Brasileira de Antropologia

 Elieyd Menezes ganhou o prêmio como Melhor Dissertação abordando conflitos na Amazônia Elieyd Menezes ganhou o prêmio como Melhor Dissertação abordando conflitos na Amazônia

“Os piaçabeiros do Médio Rio Negro: Identidade étnica e conflitos territoriais” – este é o título da dissertação que deu a Elieyd Sousa de Menezes, ex-aluna de mestrado do Programa de Pós-graduação em Antropologia Social da Ufam, o prêmio de Melhor Dissertação da Associação Brasileira de Antropologia (ABA). A premiação é organizada a cada dois anos e tem por objetivo reconhecer os melhores trabalhos acadêmicos na área. Nesta edição, o tema proposto foi “Povos indígenas e cenários etnográficos na Amazônia”.

Orientada pelo professor Wagner Berno de Almeida e defendida em outubro de 2012, a dissertação de Elieyd Menezes apresenta um detalhamento do modo de vida das pessoas nos piaçabais (locais onde as fibras de piaçaba são extraídas na floresta) em Barcelos, interior do Amazonas. “É um universo que abrange intrínsecas relações de poder entre “patrão” (comerciantes que se dizem donos dos igarapés onde há palmeiras de piaçaba) e “freguês” (piaçabeiros)”, comenta Elieyd. A autora diz que o sistema de aviamento - baseado no adiantamento de mercadorias a crédito - é muito presente no município. “É um sistema historicamente conhecido na Amazônia, onde o comerciante (patrão) fornece mercadorias ao freguês (trabalhador extrativista), o qual deverá pagar por elas. Porém, os preços são altos, algumas vezes superfaturados e a dívida dificilmente é quitada porque sempre o trabalhador extrativista precisa desses produtos, como alimentos, roupas, lanternas, facões”, registra.

O trabalho registra manejo sustentável das piaçabas O trabalho registra manejo sustentável das piaçabas

Segundo a pesquisadora, parte dos piaçabeiros são índios de diversas etnias, que por meio da Associação Indígena de Barcelos (Asiba), reivindicam a demarcação das terras como área indígena. Em seu trabalho, Elieyd estudou a construção das identidades coletivas sob a ótica dos conflitos territoriais, ou seja, a forma como os indivíduos se identificavam diante da questão das terras, se indígenas, ribeirinhos, quilombolas ou piaçabeiros, por exemplo. “Analisei a categoria “piaçabeiro” enquanto agentes sociais com um modo diferenciado de vida, compondo o que conhecemos por povos e comunidades tradicionais, assim como os conflitos sociais por causa do acesso aos recursos naturais e a demarcação da terra indígena”, destaca.

Relações de poder entre "patrão" e "freguês" revelam modo de vida nos piaçabaisRelações de poder entre "patrão" e "freguês" revelam modo de vida nos piaçabais

Com a pesquisa, Elieyd Menezes constatou o grande cuidado nas técnicas tradicionais dos piaçabeiros na extração das fibras de piaçaba, revelando o uso sustentável destas palmeiras. Outra conclusão foi acerca do uso de diferentes identidades coletivas, as quais se mostraram recorrentes e sobrepostas. “Dependendo do contorno do conflito eles acionam distintas identidades coletivas, e esse processo é legitimado pelo grupo”, afirma a antropóloga. Sobre a presença indígena na área, a pesquisadora declara: “Ao reivindicar a demarcação da terra indígena, estes povos querem, inclusive, garantir em seus territórios um espaço simbólico de manutenção física e cultural e diminuir o monopólio dos patrões da piaçaba nesse sistema de aviamento”.

Cerimônia de Premiação da Associação Brasileira de Antropologia Cerimônia de Premiação da Associação Brasileira de Antropologia

Para a vencedora na categoria melhor dissertação, a premiação da ABA confere reconhecimento aos pesquisadores e profissionais da Região Norte. “O prêmio tem um significado muito especial, não só pela colocação, mas porque mostra que a nossa produção tem possibilidades e qualidades que podem ser comparadas a Universidades ditas Centro de Excelência”, diz Elieyd.

Ainda conforme a premiada, o diferencial do trabalho está na relação construída durante a pesquisa com os agentes sociais (indígenas, piaçabeiros) no campo. “Foram quatro anos de pesquisa (antes de ingressar no mestrado, iniciei a pesquisa em um PIBIC), essa relação me permitiu conhecer as pessoas e ter acesso às áreas trabalhadas”, afirma.

Além do reconhecimento público, o prêmio do concurso realizado pela Associação Brasileira de Antropologia, garante a Elieyd a publicação da obra em destaque, a qual tem o lançamento previsto para 2014 durante a Reunião Brasileira de Antropologia que ocorrerá em Natal (RN).

 

 

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