Estudante de pós-graduação da Ufam publica artigo em revista internacional de alto impacto
Estudo mostra que fruto amazônico pode colaborar na prevenção à diabetes.
Às vésperas de realizar a defesa de tese, a doutoranda do Programa de Pós-graduação em Química (PPGQ) Andrezza Ramos teve a feliz surpresa de ter o seu artigo publicado na revista Food Research International, periódico do Canadian Institute of Food Science and Technology (CIFST) e referência mundial na área de alimentos. O estudo publicado apresenta um fruto amazônico ainda pouco conhecido, a pedra-ume caá, como agente eficaz no tratamento de pacientes com diabetes por conter propriedades antioxidantes e antiglicantes.
Intitulado “Pedra-ume caá fruit: An Amazon cherry rich in phenolic compounds with antiglycant and antioxidant properties”, o artigo foi publicado na edição de junho da revista canadense de Qualis A2 na área de Química, Farmácia e Mateirais e A1 em Ciências de Alimentos, Agrárias e do Ambiente.
“Quando a gente publica um artigo dá uma alegria imensa, por poder divulgar. Eu sempre tive em mente que é importante dar uma satisfação à sociedade, o retorno da pesquisa feita, e esse retorno é a publicação. E eu fico mais feliz ainda quando ele é citado por grupos de pesquisa de outros países, o que indica que eles estão lendo e conhecendo o trabalho que a gente faz aqui no meio da floresta”, declarou Andrezza.
“Um dos requisitos para você defender uma tese é ter um artigo publicado. No caso da Andrezza, além de ter o artigo publicado em revista indexada, ainda publicou em uma revista de alto índice de impacto. Isso contribui enormemente para os indicadores do Programa de Pós-graduação em Química”, disse o professor Marcos Machado, orientador da pós-graduanda.
Da família da goiaba e do camu-camu, a pedra-ume caá ou Eugenia pucicifolia, é um fruto pequeno, muito comum na Amazônia, mas ainda pouco utilizado pela população. Movida pelo desejo de descobrir as propriedades de frutos não convencionais, Andrezza se dedicou a estudar a pedra-ume caá.
“Eu tinha lido muitos trabalhos que faziam a diferenciação química de frutos com colorações variadas e isso me despertou o interesse. Eu queria saber se eles são diferentes mesmo, em qual estágio é possível consumir esse fruto, se in natura ou em forma de produto alimentício. Em seguida, surgiu a oportunidade de trabalhar com esses frutos e eu comecei a estudar”, revela.
Para realizar a pesquisa que deu origem ao artigo, Andrezza contou com o apoio e a colaboração do grupo de pesquisa do Núcleo de Estudos Químicos de Micromoléculas da Amazônia (Nequima), coordenado pelo professor Marcos Machado, e, por possuir caráter multidisciplinar, o estudo químico envolveu estudantes e pesquisadores das áreas de farmácia, engenharia e agronomia.
“Essa produção científica demonstra a qualidade da pesquisa realizada por discentes da Ufam, o que irá sem dúvida refletir positivamente nos conceitos dos programas de pós-graduação envolvidos, bem como nos indicadores de produção científica dos bolsistas de produtividade em pesquisa que colaboram com esse artigo”, explica o orientador.
A Pesquisa Inovadora
Bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), a pesquisadora contou ainda com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (do CNPq) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) que, por meio de pesquisadores colaboradores, também contribuíram para o desenvolvimento do trabalho.
O projeto foi desenvolvido a partir da domesticação do fruto feita pela Embrapa Amazônia, e por utilizar como técnica principal a ressonância magnética nuclear, a fase experimental foi executada no Laboratório de Ressonância Magnética Nuclear (NMRLab), da Central Analítica do Centro de Apoio Multiusuário da Ufam.
“O ineditismo do trabalho está em que ela identificou as substâncias presentes no fruto e quantificou usando uma técnica não convencional, o que só foi possível porque a Universidade recebeu um investimento muito alto nesse equipamento [o espectrômetro] e nesse laboratório e agora esse é o retorno. Estamos formando recursos humanos de qualidade, produzindo artigos de qualidade e, obviamente, levando a bioproduto para fazer o desenvolvimento sustentável dessa Amazônia”, relata o professor Marcos.
Em sua pesquisa, Andrezza observou que o fruto possui quatro estágios fenológicos, ou fases de maturação, verde, amarelo, laranja e vermelho. Ela identificou a composição química da pedra-ume caá e verificou a presença de moléculas antioxidantes e antiglicantes, as quais são capazes de impedir ou reduzir a ação dos radicais livres que prejudicam as células e de deter o efeito do açúcar no organismo.
Popularmente, a planta da pedra-ume caá já era utilizada para ajudar no combate à diabetes, principalmente as folhas e flores, ainda que sem comprovação científica, apenas como conhecimento tradicional. Com a pesquisa, comprovou-se que os frutos são realmente eficazes na prevenção e combate à diabetes.
Diante disso, a próxima fase da pesquisa foi verificar em qual dos estágios o fruto apresenta a maior quantidade de moléculas antioxidantes e antiglicantes, sendo o de coloração amarela. Com base nisso e mediante as normas da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), constatou-se que o fruto poderia ser classificado como nutracêutico por possuir constituinte ou composto com função nutricional, de prevenção a doenças.
“Em seguida surgiu a proposta para isolar o nutracêutico de forma mais natural possível, que era em forma de suco. Então, eu peguei o fruto de coloração amarela, fiz um suco, sem açúcar e, em parceria com o laboratório de nano partículas, do professor Edgar Sanches, nós encapsulamos esse suco, obtendo um bioproduto amazônico, e comprovamos que esse bioproduto preserva as propriedades antioxidantes e antiglicantes do fruto”, informa Andrezza.
De acordo com o professor Marcos Machado, o próximo passo será solicitar um pedido de depósito de patente do bioproduto elaborado.
Andrezza Ramos defenderá a pesquisa intitulada “Frutos não convencionais amazônicos: descrição química e propriedades antioxidantes e antiglicantes” na segunda-feira, 1º de julho, às 14h, no auditório da Central Analítica da Ufam. O evento é aberto ao público.