O evento foi realizado em parceria com a Igreja Católica do bairro e com o apoio da Secretária Municipal de Saúde (Semsa), os Laboratórios Sabin e do Centro de Educação Tecnológica do Amazonas (Cetam). A participação dos estudantes é uma das atividades práticas da disciplina Saúde Coletiva I, ministrada pela professora Cecília Freitas. “Nós organizamos essa ação para inserir os alunos e tê-los em contato com a comunidade”, informou a professora sobre os 57 alunos do 1º período, subdivididos em dois grupos e horários, para auxiliarem na organização das atividades oferecidas.
“A formação acadêmica é um processo de construção que se dá teorizando e praticando. Esta é uma oportunidade de prática, de inserção na realidade social. Segundo as diretrizes curriculares dos cursos de Medicina, desde o início do curso o aluno já deve manter contato, já deve ser inserido nas comunidades, nas unidades de saúde, para ir acompanhando um pouco as questões sociais e também os serviços de saúde pública, conhecer o SUS [Sistema Único de Saúde], como ele funciona, quais suas demandas”, explicou a coordenadora. “É esperado que eles consigam observar as principais demandas do processo de adoecimento, para atuarem na prevenção delas e na promoção de saúde, como em ações com esta”, expôs.
João Fleming, 18 anos, é um dos estudantes envolvidos na programação. Para ele, participar de uma atividade assim é interessante, pois permite aprender fora do ambiente acadêmico, além de proporcionar o contato mais próximo com as pessoas, os futuros pacientes. “Essa participação é muito importante, visto que essas comunidades não têm muito acesso aos serviços de saúde. Então, esse contato é extremamente importante para que nós, alunos, futuros médicos, possamos ter noção do que exatamente é promover saúde, que vai muito além de passar uma receita para uma pessoa. Devemos atuar na prevenção, passar conhecimentos para a população”, relatou João.
Disponibilizando também atividades voltadas para a prevenção a doenças, como palestras e a imunização, a Ação Social e de Saúde possibilitou aos estudantes verificar como iniciativas simples podem contribuir para a melhoria da saúde das pessoas. “O trabalho médico não se limita à atuação no ambiente hospitalar. A prevenção é tão ou mais importante que o trabalho clínico porque minimizamos a necessidade justamente do atendimento clínico, com a melhora a qualidade de vida da população no ambiente externo”, comentou o estudante. “Aprendemos muito com essa experiência”, contou.
Ângela Veras, 18 anos, também participou da Ação, e destacou o papel humanitário e cidadão dos profissionais de saúde dedicados a atividades como a da Escola Agnelo Bittencourt. “Esse é um tipo de ação que realmente mexe conosco. A gente se coloca do lugar do próximo, não fica só como médico e paciente, cria uma conexão com as pessoas. E isso na minha futura profissão é muito importante porque eu não posso tratar as pessoas como objeto, mas como ser humano”, disse. Sobre a “aula prática”, ela é taxativa: “Assim, a gente pode sair da nossa realidade, de faculdade, e ver que tratamos de pessoas, não só de uma doença. A gente tem de cuidar da pessoa, entender que ela está doente por um motivo que pode ser social, psicológico, e, assim, vemos a situação dessa pessoa e tratamos o todo, a situação de vida dela”, ressaltou.
Dona Maria Alcinta Assis, 70, é aposentada e compareceu à escola do seu bairro para receber alguns atendimentos. Segundo ela, a iniciativa é positiva por oferecer comodidade e rapidez na obtenção dos serviços. “Eu acho muito importante e necessário esse tipo de ação, porque em muitos postos a pessoa vai de madrugada e não consegue ficha. Eu cheguei aqui às 8h, já fiz o teste de glicemia, fui no ‘departamento’ jurídico e agora vou fazer os testes de hepatites e outros que tem aqui, então, uma ação como essa é muito boa. Vou sair daqui muito feliz por ter conseguido fazer tudo isso. Uma manhã de sábado muito produtiva, maravilhosa”, declarou.
Seu Erivan Evangelista tem 55 anos e é motorista. Ele também aproveitou a praticidade dos serviços para atualizar o cartão de vacinação. “É muito importante a gente ter essa facilidade de acesso a um serviço essencial, assim tão próximo de casa. Dá pra gente fazer tudo com tranquilidade e rapidinho. Vim aqui me vacinar primeiro para cuidar da minha saúde e também pra aproveitar o serviço. Tomei contra hepatite B e febre amarela. Como eu trabalho em área de mata, é bom prevenir”, afirmou.
A médica Karina Cadique, formada pela Ufam em 2001, abriu mão de uma manhã de folga para realizar o atendimento clínico às pessoas da comunidade. “Eu sei que tem muita gente que trabalha durante a semana e só tem folga no sábado, gente que precisa do atendimento, mas o posto está fechado. Por isso, eu aceitei o convite. É gratificante”, conta ela.
Sobre a colaboração dos novos alunos de Medicina da Ufam na atividade, a profissional avaliar de forma positiva essa aproximação entre teria e prática e entre médico e população. “A graduação já melhorou muito em relação a esse contato com o público. Na minha época, a gente não tinha tanto contato não. Isso é importante porque, às vezes, a gente sai da faculdade com a ideia distorcida da realidade. Muitos nem sabem o que é atender a população, quer dizer, não sabem a importância de fazer Medicina de família, as áreas básicas da Medicina, pediatria, porque essa é população que precisa da nossa ajuda. Por isso, que é importante para eles [os estudantes] participarem disso que é para verem o quão interessante e bonito é a atenção primaria”, comentou.