Icomp participa de desenvolvimento de sistema inédito para preservação de espécies da Amazônia
Parte da equipe do Providence. Ao centro, de pé e camisa branca, prof. Reginaldo Carvalho. À esq. agachado e de blusa azul, o mestrando Fagner Cunha, ambos do Icomp.Registrar com imagem e som o comportamento de espécies da fauna amazônica em seu habitat 24h por dia é o objetivo do sistema desenvolvido por uma rede internacional de instituições de pesquisa, da qual a Ufam faz parte por meio do Instituto de Computação (Icomp), e aplicado nas Reservas de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá e Amanã, próximas aos municípios de Tefé, Fonte Boa e Maraã, no Amazonas. Todos os dados coletados pelo sistema permitirão a ampliação de estudos de preservação de espécies nativas da região. Acesse o primeiro registro feito pelo sistema, uma fêmea de macaco-prego carregando o filhote em busca de alimento.
Denominada Providence (Providência), a iniciativa é resultado da parceria entre o Instituto Mamirauá (vinculado ao Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicação - MCTIC), Icomp/Ufam, o Laboratório de Aplicações Bioacústicas da Universidade Politécnica da Catalunha, a organização científica australiana SCIRO e a fundação norte-americana Gordon and Betty Moore.
“Trata-se de um projeto inovador e que tem uma motivação importantíssima que é a de promover a preservação da Amazônia e, por conseguinte, do planeta. O Icomp foi convidado por ter sido reconhecido com competência para compor a rede internacional responsável pelo projeto em iguais condições com os demais integrantes. E cremos que a solução que fornecemos mostrou-se adequada”, declara o coordenador da equipe do Icomp envolvida no Providence, professor José Reginaldo Carvalho.
Olhos e Ouvidos na Floresta Amazônica
Um protótipo inicial do sistema, composto por uma rede de dez nós sensores, equipados com câmeras e microfones, foi instalado nas reservas, para captar 24h por dia, o movimento e comportamento das doze espécies selecionadas, entre elas, onça pintada, macaco prego, saracura três-potes, urubu de cabeça vermelha, porco espinho e macaco-de-cheiro-de-cabeça-preta, o último sob risco de extinção.
O componente desenvolvido pelo Icomp é baseado em um classificador que, por meio de uma técnica de inteligência artificial chamada de rede neural profunda, executada em um nano computador com processadores semelhantes aos de celulares smartphones, identifica e seleciona as espécies em estudo para, então, iniciar o monitoramento. “Nossa participação envolve a integração com o firmware desenvolvido pela equipe da Austrália e o treinamento da rede neural para reconhecer automaticamente espécies de fauna que entrem no campo de visão da câmera”, informa o professor do Icomp.
De acordo com o professor, os pesquisadores e estudantes do Icomp tiveram dois importantes desafios para que o Providence fosse uma experiência exitosa: a complexidade de se instalar uma rede neural profunda em um sistema embarcado com poucos recursos integrada à câmera e outros sensores, assegurando que ela funcione 24h por dia, sete dias na semana; e garantir que a rede esteja devidamente treinada para reconhecer as espécies de fauna solicitadas. “Esta parte é o maior mérito do grupo e o maior diferencial desta solução”, revela Carvalho.
Amazônia – conhecer para proteger
Macaco-de-cheiro-de-cabeça-preta, uma das espécies pesquisadas pelo novo sistema. Foto: Marcelo Ismar SantanaO grande avanço trazido pela tecnologia é sua capacidade de identificar animais (aves, répteis e mamíferos, e potencialmente, peixes e insetos também) por imagem e som e enviar automaticamente essas informações (via satélite, wi-fi ou 3G) de qualquer lugar para um banco de dados. A ideia é criar um observatório da biodiversidade na Amazônia, de fácil acesso e compreensão. “Para a próxima fase do projeto será criada uma plataforma online onde as pessoas poderão acessar livre e gratuitamente a informação gerada a partir dessa tecnologia”, explica o pesquisador do Instituto Mamirauá e coordenador do Providence, Emiliano Ramalho.
Sob esta perspectiva, o projeto é um convite à interatividade na proteção à natureza, a começar pela Amazônia. “Nós queremos que essas informações sejam úteis para outros pesquisadores, para que a ciência avance. Que o sistema seja usado como ferramenta de educação, de manejo de recursos naturais e conservação pelas comunidades locais e gestores de unidades e, de maneira geral, ser usado para enviar uma mensagem para o mundo sobre o que está acontecendo com a biodiversidade na Amazônia”, completa o pesquisador.
Para mais informações, acesse o site do Instituto Mamirauá.