Tese propõe reflexão sobre a Amazônia a partir do pensamento marxista

Por Cristiane Souza
Equipe Ascom

Promover o encontro entre o Marxismo e a região Amazônica, propondo uma leitura sociológica do Brasil e do mundo a partir deste ponto de vista. Com essa ideia, o professor Luiz Fernando de Souza Santos, do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas seguiu para cursar o doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A tese, intitulada ‘Entre o Mágico e o Cruel: a Amazônia no Pensamento Marxista Brasileiro’, foi defendida no dia 5 de março de 2018 e apresentada em debate no dia 9 de abril, no auditório Rio Solimões do Instituto de Filosofia, Ciências Humanas e Sociais (IFCHS).

Ao receber os convidados, a professora do curso de Serviço Social Elenise Scherer, que coordena o grupo de pesquisa ‘Estado e Políticas Públicas na Amazônia’, afirmou que a tese é um dos primeiros estudos que analisa o pensamento social amazônico da perspectiva marxista. “Estamos numa conjuntura política trágica e fatal e isso torna este dia ainda mais emblemático”, destacou ela.

Dentre os primeiros questionamentos trazidos pelo professor Luiz Fernando ao debate acadêmico é possível destacar a forte proposta de ruptura com o dualismo “centro/periferia” que permeia a forma de se perceber a Região em algumas perspectivas. “Trazemos uma forma de apreender a Amazônia como artefato sócio-histórico-cultural. Entendemos que, através dela, é possível fazer uma leitura sociológica ampliada”, ponderou o recém-doutor, que recebeu indicação da banca para transformar a tese em livro.

“Desenvolvemos a hipótese de que a Amazônia é elemento heurístico para a investigação sociológica que se envolve com o tema da região, da nação e da globalização”, explicou o professor Luiz Fernando, seguindo à exposição do pressuposto metodológico da tese. Nesse sentido, a região é vista como artefato cultural, econômico e histórico a partir do qual a sociedade nacional e, mais contemporaneamente, a sociedade mundial, podem ser explicadas.

“A partir daí, a gente consegue perceber que a Amazônia não é um determinação geográfica, física, somente natural. A Amazônia é um constructo histórico, social, político também, ela é muito mais do que uma determinada região geográfica, ela é aquilo que uma determinada perspectiva ideológica, cultural, histórica, política pôde criar”, assegurou o pesquisador.

Pensamento amazônico

No referencial, o pesquisador considerou obras de autores vinculados à Escola Sociológica Paulista, à qual o professor Luiz Fernando se filia, além de professores-pesquisadores da Ufam e da Universidade Federal do Pará (UFPA), dentre os quais: Florestan Fernandes, Octavio Ianni, Fernando Henrique Cardoso, José de Souza Martins, Francisco de Oliveira, Renan Freitas Pinto, Marilene Correa da Silva Freitas, Violeta Refkaleski Loureiro e Alex Fiúza de Melo.

Em primeiro lugar, ao explicar o que vem a ser a Escola Sociológica Paulista, o professor destacou que ela foi criada na Universidade de São Paulo (USP), num momento em que “a elite agrária era definidora dos rumos do País”. “Naquele contexto, a Amazônia era vista como um grande peso, um estorvo para a nação. Florestan Fernandes vai mostrar o equívoco dessa história, tomando como ponto de partida quem era visto como subalterno”, esclareceu.

Ou seja, naquele modelo, segundo o professor Luiz Fernando explanou, só havia o dualismo que marcava o desenvolvido versus subdesenvolvido. “Quando a cadeira de sociologia é criada na USP, uma das premissas é o desmonte dessa visão dualista que acaba não pensando, de fato, o Brasil. Esse é o ponto de partida metodológico, pensar a partir da periferia, pensar a estrutura do todo a partir da periferia. O que é isso? é pensar a partir do negro que é escravizado, é pensar a partir do caboclo, do caipira, do indígena”, apontou o pesquisador.

O processo de formação dos pesquisadores em Sociologia na Ufam e na Universidade Federal do Pará (UFPA) também compôs a metodologia da tese. Inclusive, o expositor é egresso do curso de Ciências Sociais da Ufam, onde se graduou em 1995.

Segundo informa o pesquisador, ele pôde traçar um itinerário da formação dos pesquisadores dessas duas instituições públicas. Grande dos pensadores da Amazônia deu continuidade à formação acadêmica em São Paula, na USP ou na Unicamp, tendo contato com a Escola Sociológica Paulista. “No plano local, dar continuidade a essa perspectiva de interpretação metodológica que toma a periferia como ponto de partida, tanto que a Marilene Correa, por exemplo, a partir dos trabalhos dela a gente pode pensar o planeta”, afirmou Luiz Fernando.

Outro estudioso cujo trabalho foi abordado na tese é o professor Renan Freitas Pinto, que foi orientador de mestrado do professor Luiz Fernando no Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura na Amazônia (PPGSCA), no ano 2002.

 
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