Campus da Ufam em São Gabriel da Cachoeira: formação para o desenvolvimento sustentável

O primeiro passo para a instalação da Unidade Acadêmica no Alto Rio Negro é a realização de audiência públicas para ouvir a população e as lideranças políticas e comunitárias do município

Pró-reitor de Extensão, professor Ricardo Bessa, apresenta sobre o papel da Ufam para o desenvolvimento autossustentável em SGCPró-reitor de Extensão, professor Ricardo Bessa, apresenta sobre o papel da Ufam para o desenvolvimento autossustentável em SGC
Por Cristiane Souza
Equipe Ascom 

Com a população formada majoritariamente por indígenas de 23 etnias e distante 856 quilômetros da capital amazonense, o município de São Gabriel da Cachoeira está nos planos de expansão da Universidade Federal do Amazonas (Ufam). Nesta quinta-feira, 30, essa proposta começou a se materializar com o início de uma audiência pública na qual gestores da Ufam apresentaram a proposta inicial do projeto e tomaram conhecimento sobre as demandas da população pelas lideranças comunitárias. O evento segue até sexta, 1º, e resultará na assinatura da Carta de intenções por autoridades e entidades representativas do município.

Ao apresentar a proposta da Universidade, o pró-reitor de Extensão da Ufam e representante da Administração Superior, professor Ricardo Bessa, destacou que, ao promover esta primeira audiência pública, a Ufam se mostra aberta ao diálogo com aqueles que são os mais interessados: a população local. “Nós estamos aqui para escutar o que o povo tem a dizer, e a Ufam só vai instalar o Campus se a comunidade assim o quiser. Nosso objetivo é mostrar que a Universidade é do Amazonas, e não de Manaus, é fazê-la presente na luta pelo desenvolvimento da região amazônica. Futuramente, esses campi conquistarão sua autonomia, tornando-se também universidades”, argumentou ele, ao avaliar que a Ufam tem o papel de formar a massa crítica e atuar como um polo de desenvolvimento no município.

O terreno onde deverá ser instalada a Unidade Acadêmica foi doado pela Prefeitura Municipal de São Gabriel da Cachoeira, conforma declarou o prefeito Clóvis Saldanha (PT). “Esse é um sonho da nossa juventude, principalmente das comunidades mais distantes, para viabilizar o desenvolvimento da nossa cidade. Inclusive, o terreno já foi liberado, com toda a documentação referente à doação para a Universidade na Seinfra [Secretaria de Infraestrutura]”, confirmou o chefe do Executivo. Em relação aos recursos para a construção, cujo investimento é próprio, eles também já estão disponíveis. No entanto, as discussões sobre vocação regional, demandas e estratégias de desenvolvimento são indispensáveis. “Estamos numa via de mão dupla; e viemos até aqui para ouvir a comunidade”, ratificou o professor Ricardo Bessa.

DemandasLideranças das comunidades indígenas do município apresentam suas contribuições na audiência pública.Lideranças das comunidades indígenas do município apresentam suas contribuições na audiência pública.

O primeiro debate foi encaminhado pelas lideranças comunitárias, dentre as quais o indígena da etnia Tukano José Lucas Duarte, 45, residente na comunidade Rio Uaupés. Ele é o presidente da Cooperativa Indígena de Extrativismo de Recursos Naturais e Minerais (CIERNM), criada em 2008. O líder comunitário aponta que a chegada da Ufam vai fazer a diferença na realidade local. “Nós sabemos que quem decide é a população indígena. O foco é possibilitar a formação superior, e, depois, que nós mesmos possamos ter condições técnicas para explorar de forma sustentável e legal nossos recursos naturais”, argumentou.

O radialista e funcionário público Pedro Oliveira, da comunidade São Pedro, apontou a fragilidade de políticas públicas que hoje funcionam como paliativo para amenizar a falta de oportunidades para a população de São Gabriel. “Eu quero ver meu povo autossustentável, e não dependente de programas frágeis. Precisamos sim de um Campus aqui”, afirmou. Disse ainda que a instalação da Ufam é um passo importante para vencer esse ciclo incapaz de gerar riquezas e um futuro digno para os jovens, tanto na sede quanto nas comunidades.

Falando em comunidades, Leonardo Cordeiro, 50, da etnia Pyratapuia, entregou uma proposta escrita aos gestores que conduziram o primeiro momento da audiência. No documento, o presidente da Associação de Pais e Mestres Comunitários Barés (AIPMCB), que representa dez escolas da comunidade de Tabocão dos Pereira, falou sobre a possibilidade de, além de implantar o Campus na sede municipal, a Universidade possa construir polos nas comunidades mais distantes. Todas as colocações serão analisadas pela equipe responsável pelo projeto de instalação, ponderando-se as necessidades locais e a capacidade financeira.

“Existe uma demanda muito grande. Os alunos querem estudar na sede, mas as famílias não têm recursos para sustentar os jovens aqui. Nós gostaríamos de ter acesso aos cursos superiores para aprender a manejar de forma sustentável a nossa floresta. Nós já sonhamos há muito tempo com esse tipo de audiência para debater junto com vocês”, explicou o líder comunitário, ao entregar o impresso ao professor Ricardo Bessa.

Gestores da Ufam e prefeito do município, Clóvis Saldanha, discutem temas pertinentes à implantação do Campus da Ufam.Gestores da Ufam e prefeito do município, Clóvis Saldanha, discutem temas pertinentes à implantação do Campus da Ufam.

Ao complementar essa fala, o diretor de Extensão e cientista social, professor Almir Menezes, a quem coube a responsabilidade de apresentar as propostas de cursos para a futura Unidade Acadêmica, acrescentou: “O debate é para a construção, respeitando as particularidades. Esse é o objetivo pelo qual estamos aqui”. Nesse primeiro momento, a lista de cursos elaborada para discussão nas audiências é esta: Antropologia Indígena, Engenharia Ambiental, Engenharia Florestal, Piscicultura, Ciências Agrárias e Turismo. “Trata-se de proposições, e não de imposições”, avalia o professor Ricardo Bessa a respeito dos cursos sugeridos.

Temas

Além da apresentação da proposta de cursos para o futuro Campus, a pauta contempla os temas: Planejamento Estratégico para o Desenvolvimento Regional Autossustentável (Pedras); Fontes renováveis, sistemas fotovoltaicos e desenvolvimento autossustentável; pesquisa, prospecção e lapidação de minerais como instrumento para geração de emprego e renda; exploração de granito e nióbio em São Gabriel e seus efeitos sobre as comunidades indígenas sob os aspectos ambiental, social e jurídico; Recursos naturais, criação de cooperativas de produção e geração de emprego e renda na perspectiva autossustentável; Presença das Forças Armadas no Alto Rio Negro; e Exploração mineral sob a ótica das populações indígenas. “A ideia é ouvir os presentes e promover um debate democrático, atendendo as demandas dentro das possibilidades da Ufam”, concluiu o professor Ricardo Bessa.

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