Líder indígena reflete sobre crise entre conhecimento tradicional e científico

No terceiro e último dia do curso "Conhecimentos Tradicionais no Tempo da Globalização", o professor e líder indígena Higino Tenório Pimentel falou sobre crise e soluções na transmissão do conhecimento tradicional. A palestra, que aconteceu na manhã desta quinta-feira, no Auditório da Faculdade de Direito da UFAM (FD/UFAM), localizado no Setor Norte do Campus Universitário Senador Arthur Virgílio Filho, em Manaus, fez parte das programações do curso, promovido pela Pró-Reitoria de Inovação Tecnológica (Protec) 

Originário da etnia Tuyuka, o professor Higino Tenório Pimentel falou com propriedade sobre todo o conhecimento adquirido e apresentou soluções simples para viver num ambiente de harmonia com a natureza. De acordo com ele, existe um impacto entre o conhecimento tradicional e científico que é resultado do conflito de poder, onde um sobrepõe o outro.

Pimentel definiu o conhecimento tradicional como algo elaborado por meio da experiência, ou seja, do fazer empírico. O professor analisou a relação entre os dois conhecimentos, o qual considera que o conhecimento tradicional é visto num patamar de inferioridade, em que tudo aquilo que foi construído, praticado e vivenciado é desprezado como algo sem valor para a sociedade atual.  

A aproximação do conhecimento científico por meio do diálogo permanente com o tradicional é a solução apresentada pelo professor que alerta para a compreensão da valorização do conhecimento tradicional como possibilidade de nortear soluções para os problemas da sociedade contemporânea. Para não perder a essência de todo o processo de construção milenar desse conhecimento, o líder indígena protagoniza a criação da Escola Indígena Tuyuka Utapinoponã que propõe um ensino diferenciado, a partir do resgate do conhecimento indígena para os jovens estudantes indígenas do Ensino Fundamental e Médio.

A escola fica localizada no Alto Rio Negro (rio Inambu, afluente do rio Papuri), no município de São Gabriel da Cachoeira, distante a 852 quilômetros de Manaus. Segundo o professor, a Escola é uma resposta para essa crise e permite uma maior visibilidade do conhecimento tradicional. “Essa foi uma preocupação para preservar e conservar todo conhecimento de nosso povo. A criação da Escola é uma estratégia para que o aluno valorizasse a cultura do povo Tuyuka a partir dos laços familiares”, completa o líder indígena.

Ele destaca o Calendário Astronômico Social como parte dos conteúdos  pedagógicos da Escola que não se define como uma escola tradicional que qualifica o aluno por meio da certificação, mas a partir da transmissão do conhecimento com qualidade. “A minha participação no curso de Conhecimentos Tradicionais no tempo da globalização oportuniza a discussão desse tema no contexto acadêmico, demonstrando que o conhecimento tradicional é um valor percebível importante para sociedade no futuro”, finaliza o professor.

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