Líder indígena Higino Tenório reflete crise entre conhecimento tradicional e científico
No terceiro e último dia do Curso “Conhecimentos Tradicionais: no tempo da globalização”, promovido pela Pró-Reitoria de Inovação Tecnológica (Protec) ocorrido nesta quinta-feira (14), no auditório da Faculdade de Direito (FD), o líder indígena e professor Higino Tenório Pimentel, proferiu a palestra `Crise e Soluções na Transmissão do Conhecimento Tradicional´.
De origem do povo Tuyuka, o professor Higino Tenório Pimentel, fala com propriedade todo o conhecimento adquirido e apresenta soluções simples para viver num ambiente de harmonia com a natureza. De acordo com ele, existe um impacto ente o conhecimento tradicional e científico que é resultado do conflito de poder, em que um sobrepõe o outro.
Ele define o conhecimento tradicional como algo elaborado por meio da experiência, ou seja, do fazer empírico. Higino Tenório analisa a relação entre os dois conhecimentos, o qual considera que o conhecimento tradicional é visto num patamar de inferioridade, em que tudo aquilo que foi construído, praticado e vivenciado é desprezado como algo sem valor para a sociedade atual.
A aproximação do conhecimento científico por meio do diálogo permanente com o tradicional é a solução apresentada pelo professor que alerta para a compreensão da valorização do conhecimento tradicional como possibilidade de nortear soluções para os problemas da sociedade contemporânea. Para não perder a essência de todo o processo de construção milenar desse conhecimento, o líder indígena protagoniza a criação da Escola Indígena Tuyuka Utapinoponã que propõe um ensino diferenciado, a partir do resgate do conhecimento indígena para os jovens estudantes indígenas do Ensino Fundamental e Médio.
A Escola fica localizada no Alto Rio Negro (rio Inambu, afluente do rio Papuri), no município de São Gabriel da Cachoeira (distante a 852 quilômetros de Manaus). Segundo ele, a Escola é uma resposta para essa crise e permite uma maior visibilidade do conhecimento tradicional. “Essa foi uma preocupação para preservar e conservar todo conhecimento de nosso povo. A criação da Escola é uma estratégia para que o aluno valorizasse a cultura do povo Tuyuka, a partir dos laços familiares”, completa o líder indígena.
Ele destaca o Calendário Astronômico Social como parte dos conteúdos pedagógicos da Escola que não se define como uma escola tradicional que qualifica o aluno por meio da certificação, mas a partir da transmissão do conhecimento com qualidade.
“A minha participação no curso de Conhecimentos Tradicionais: no tempo da globalização oportuniza a discussão desse tema no contexto acadêmico, demonstrando que o conhecimento tradicional é um valor percebível importante para sociedade no futuro”, finaliza o professor.