Márcio Souza reafirma cultura manauara no cenário nacional em Círculo de Palestras
Alunos e professores de vários cursos prestigiaram evento
O escritor amazonense Márcio Souza foi o convidado desta segunda-feira, 4 de maio, do 1º Círculo de Palestras sobre Cultura e Literatura no Amazonas, realizado em parceria com a Coordenação e Núcleo de Pesquisa em Linguagens de Expressão Amazônica (Conplexa) e o Grupo de Estudos e Pesquisas em Literatura de Língua Portuguesa (Gepelip). Falando sobre “Cultura e Literatura no Amazonas”, o intelectual foi prestigiado por um número considerável de alunos e professores dos Departamentos de Letras, Comunicação, Antropologia e Ciências Sociais do Instituto de Ciências Humanas e Letras (ICHL). O evento aconteceu no auditório Rio Negro, setor Norte da Instituição.
Nascido em 1946, Márcio Souza começou a escrever críticas de cinema em um jornal local aos 14 anos. Em 1965, deixou a terra natal para estudar Ciências Sociais na Universidade de São Paulo (USP). Seu primeiro romance, “Galvez, o Impedor do Acre", fez com que ele tivesse o nome conhecido internacionalmente, traduzido em 25 línguas e distribuído em 40 países. Outras publicações se seguiram a esta, como os romances “Mad Maria”, “A ordem do dia” e “O mundo perdido”. O escritor também se dedicou a ensaios, como “O empate contra Chico Mendes”, “Fascínio e Repulsa” e “Breve história da Amazônia”, além de peças teatrais, como “Dessana, Dessana”, “A paixão de Ajuricaba” e “As folias do látex”. Atualmente, está debruçado sobre a tetralogia “Crônicas do Grão-Pará e Rio Negro”, tendo já publicado dois volumes, nominados “Lealdade" e "Desordem”, editados no Brasil pela Editora Record.
Uma das observações iniciais do palestrante foi a de que Manaus contribuiu ativamente para a construção cultural e da identidade nacional em todos os campos. "A gente rastreando a nossa trajetória, conseguimos perceber deu vida a personalidades como Cláudio Santoro. Nenhum estado brasileiro conseguiu fazer isso. Cláudio Santoro e Villas Boas são os maiores compositores do século XX, ambos com tamanha riqueza, profundidade e densidade se comparadas às desses dois artistas", salientou.
Obras do escritor têm raízes regionais e são reconhecidas no exterior
Ele se lembrou, ainda, do "poema mais brasileiro" intitulado "Pobre Honorato", de Raul Bopp, que, quando viveu aqui, construiu a obra baseada em suas vivências nortistas, embora fosse do Rio Grande do Sul. "Ele não celebrou os pampas, ele celebrou, naquele livro, a cultura de raiz, as altas temperaturas, os rios...Sem a Amazônia não teríamos o melhor do modernismo", contou, falando que, atualmente, a indústria cultural estabelece um "Apartheid, nivelando as produções "por baixo".
Em relação à produção cinematográfica, o escritor revelou que Manaus recebia películas originárias de várias partes do mundo. Havia duas salas na avenida Eduardo Ribeiro, duas na avenida Sete de Setembro, outras duas na avenida Getúlio Vargas, um no bairro Educandos, um no bairro Cachoeirinha e outro São Raimundo e no Boulevard, onde se exibiam filmes alemãs, indianos, italianos, asiáticos, franceses. Para ele, não era apenas uma questão de acesso a essas produções, mas a população estava preparada para receber o que vinha de outros países. "Nós tínhamos noção de idiomas, algo que era aprendido dentro de sala de aula. No meu caso, no colégio Dom Bosco. Mesmo assim, éramos uma sociedade politizada, culturalmente instigada e preparada para nos alimentarmos do que chegava. Fora isso, éramos vivazes produtores de cultura a partir do Clube da Madrugada, que até hoje, agrega nomes expressivos do nosso Estado", contou.
Novo encontro - Já no próximo dia 11 de maio, o Círculo recebe os professores José Aldemir de Oliveira e Auriclea Oliveira das Neves, que falarão, respectivamente, sobre os temas: “Manaus, de 1920 a 1967: Crise Urbana, Espacialidades e Cultura” e “Apresentação de Jorge Tufic e Max Carpenthier”.